Por Gary R.
Collins
1. Ajudando as pessoas e a grande comissão
Pouco tempo antes de deixar esta terra e de voltar ao
céu, Jesus deu Sua comissão famosa ao pequeno grupo de seguidores que se
reuniram com Ele no monte na Galiléia: "Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações", disse Ele, "batizando-os em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado..." Jesus deu aos discípulos a certeza do Seu poder e da Sua
presença "até à
consumação do século" (Mt 28:18-20), e depois partiu do meio deles.
Estes homens e mulheres aos quais Jesus falou já eram
discípulos. Já tinham resolvido seguir a Jesus e dedicar as suas vidas
totalmente a Ele. Devem ter entendido, pelo menos parcialmente, que foi por
causa do amor divino que Cristo viera ao mundo para morrer no lugar dos homens
pecaminosos. Decerto, já haviam reconhecido e confessado o seu pecado e se
submetido completamente ao Senhor ressurreto. Foi a este grupo que Jesus deu
uma responsabilidade dupla. O discipular consistiria em testemunhar tendo
como alvo a conquista das pessoas para Cristo, e em ensinar aos outros
aquilo que Jesus mesmo ensinara durante Seu breve período na terra.
Jesus ensinara que todos os homens são pecadores e que necessitam um salvador. Já
atacara a idéia de que uma pessoa é filha
de Deus por causa da cidadania, das crenças dos pais ou das boas obras. Ao invés disto Jesus proclamava que, se alguém quisesse ter a vida eterna, seria necessário confessar seu pecado e entregar a totalidade da
sua vida ao controle de Cristo. Mais importante:
Jesus ensinava que a Sua morte haveria de
pagar a penalidade dos pecados da raça humana e possibilitar, àqueles que assim quisessem, que se
tornassem filhos de Deus. Aos discípulos foi ordenado que
proclamassem esta mensagem, que
instassem às pessoas que colocassem em Cristo a sua fé, que batizassem estes
novos crentes, e que lhes ensinassem as Escrituras.
Alguém sugeriu que o Senhor começou o Seu ministério
ao chamar Pedro, André, Tiago e João para se tornarem discípulos, que
terminou Seu ministério com Sua Grande Comissão para fazer discípulos,
e que, no ínterim, ensinava as pessoas como serem discípulos. Neste
processo, Jesus abordava as pessoas de várias maneiras. A tempos diferentes,
instruía, escutava, pregava, argumentava, encorajava, condenava, e demonstrava
como ser um verdadeiro filho de Deus. É possível que nunca duas pessoas tenham
sido abordadas exatamente da mesma maneira, visto que Jesus reconhecia as
diferenças individuais da personalidade, da necessidade e do nível de entendimento,
e tratava as pessoas de acordo com isto.
O ESCOPO DA GRANDE COMISSÃO
Não parece que a Grande Comissão foi limitada a uma só
área geográfica ou a um só período da história. Nem sequer há qualquer indício
de que as instruções de Jesus se limitassem a umas poucas pessoas, tais como
pastores ou líderes eclesiásticos. É claro que Jesus pretendia que todos os
Seus seguidores, durante todas as gerações futuras, se dedicassem ao empreendimento
de fazer discípulos — evangelizando e ensinando novos crentes. — Não será
possível, portanto, que a Grande Comissão tenha relevância para a ajuda às
pessoas hoje em dia? Visto que ser discípulo e fazer discípulos é uma
exigência para todos os cristãos, decerto o discipular dos outros deve fazer
parte do aconselhamento cristão — talvez até mesmo seu alvo principal.
Antes de prosseguir nesta sugestão controvertível, é
importante para nós pensarmos acerca do significado do discipulado. No seu
sentido mais largo, a palavra "discípulo" significa
"estudante" ou "aprendiz". Conforme a palavra é usada nas
Escrituras, no entanto, o termo tem uma conotação muito mais forte. Subentende
a aceitação dos conceitos e ensinos de um líder a quem somos obedientes. As
pessoas que se matriculam nas minhas aulas do seminário são meus alunos, mas
não são meus discípulos. Aprendem de mim, mas não me seguem com obediência e
dedicação. Jesus, por contraste, veio ao mundo não meramente para ensinar
estudantes, mas, sim, fazer discípulos que O seguissem. Passou a Sua vida
discipulando homens e mulheres. Terminou Sua vida na terra dando mandamento a
cada um de nós no sentido de seguirmos o Seu exemplo em fazer discípulos (e,
por implicação, discipuladores).
AS CARACTERÍSTICAS DO DISCIPULADO
Segundo as Escrituras, um discípulo tem pelo menos
três características, é chamado para pagar de livre e espontânea vontade três
preços e recebe três responsabilidades. Conforme veremos, tudo isto é
extremamente importante para aqueles que se chamam cristãos. É de relevância
crucial para aqueles cristãos que querem ajudar as pessoas.
Obediência
Em primeiro lugar, examinemos as três características
de um discípulo de Jesus Cristo. A primeira destas é a obediência. Um
discípulo é uma pessoa que é dedicada e obediente à Pessoa e ensinos do Mestre.
J. Dwight Pentecost fez um comentário conciso sobre esta obediência:
Cristo exigia a submissão absoluta à Sua autoridade, a
completa devoção à Sua Pessoa, confiança na Sua Palavra, e fé na Sua
providência, e os homens se desculpavam porque não queriam se dedicar, não
podiam confiar, e não acreditavam... Os discípulos eram aqueles que, depois de
terem convicção da veracidade da Palavra, dedicavam-se completamente à Pessoa
que os ensinara.
Se alguém fica aquém desta dedicação total e completa
à Pessoa de Jesus Cristo, não é um discípulo de Jesus Cristo. Pode ser contado
entre os curiosos, ou pode ter progredido até ao ponto em que tem convicção da
veracidade daquilo que Cristo dizia, ou daquilo que diz a Palavra de Deus, mas
enquanto não se dedique totalmente à Pessoa em cuja Palavra veio a crer, não é
um discípulo no pleno sentido da palavra conforme o Novo Testamento. .. A
pessoa não fica sendo discípulo meramente pelo seu assentimento à veracidade
daquilo que Cristo ensinou; fica sendo discípulo, isto sim, quando se submete à
autoridade da Palavra de Deus e deixa a Palavra de Deus controlar a sua vida.1
Conforme os ensinos do próprio Jesus, somos verdadeiramente
os Seus discípulos quando permanecemos na Sua Palavra (João 8:31). Este fato
implicaria em deixar a Palavra de Deus exercer controle absoluto sobre as
nossas vidas, e em procurar, com obediência, fazer com que cada aspecto da vida
esteja em conformidade com os ensinamentos bíblicos.
Amor
A segunda característica do discípulo é o amor. "Novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que
também vós ameis uns aos outros", declarou Jesus em João 13:34.
"Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos
outros." Num certo opúsculo, Francis Schaeffer chamou o amor "a marca
do cristão". É a característica mais óbvia e sem igual do discípulo de
Jesus Cristo. E é a exigência mais fundamental para quem quiser ajudar as
pessoas.
Quando o apóstolo João estava escrevendo a sua
Primeira Epístola, reconheceu que alguns dos seus leitores estavam tendo
dificuldades em saber quais as pessoas que realmente eram cristãs, e quais não
eram. Para ajudar neste problema, João indicou que os cristãos eram as pessoas
que se caracterizavam pelo amor. Se uma pessoa não tem amor, disse João,
provavelmente não é um cristão. (1 Jo 4:7-11). Nem todos os cristãos se
comprometem totalmente a serem discípulos de Jesus Cristo, mas todos os
cristãos devem revelar pelos menos algumas características do amor. É uma
contradição em termos pensar que alguém pode ser um verdadeiro seguidor de
Cristo e não ser amoroso.
Frutificação
A terceira característica do discípulo é a frutificação.
"Nisto é glorificado meu Pai", disse Jesus, "em que deis
muito fruto; e assim vos tomareis meus discípulos" (João 15:8).
Vivemos numa sociedade que se orienta em direção ao
sucesso. Todos querem ser bem-sucedidos, e a maioria de nós trabalha com seus
vários planos pessoais para atingir aquele alvo. Em João 15, porém, Jesus
contou aos Seus seguidores que todos estes esforços seriam era vão a não ser
que o discípulo fosse dedicado a Cristo, de modo consistente, permanecendo
nEle, ao invés de forçar o caminho com seus próprios planos ou confiando nos
seus próprios recursos. Jesus emprega a ilustração de videiras que não estavam
produzindo uvas. A melhor coisa para tais sarmentos, segundo Ele disse, é serem
cortados da videira e queimados no fogo.
Walter Henrichsen, dos Navegadores, conta como reagiu
quando reconheceu, pela primeira vez, que Deus poderia chegar certo dia e
destruir toda a obra humana centralizada em si mesma (2 Pe 3:10). "Que
choque... reconhecer que tudo quanto eu planejava edificar, Deus chegaria e
destruiria! Quero que vocês saibam que aquilo me desanimou... Não valia a pena.
Para que dedicar todo o meu tempo e os meus esforços a construir alguma coisa
que Deus já disse que haveria de queimar?"2 Destarte, o Sr.
Henrichsen voltou-se para a sua Bíblia e ali descobriu que há, pelo menos duas
coisas que Deus prometeu que nunca destruiria: a Sua Palavra (Is 40:8) e o Seu
povo (João 5:28, 29). "Há outras coisas eternas — Deus, anjos, virtudes
tais como o amor — mas eu queria alguma coisa eterna que pudesse agarrar com a
minha mão e dar a minha vida em troca dela. Ao estabelecer os objetivos da minha
vida podia me dedicar a pessoas e à Palavra de Deus, e saber que
Deus não seguiria meus passos para destruí-las no fogo."8
OS CUSTOS DO DISCIPULADO
Há.porém certos custos para o discipulado. Bonhoeffer
escreveu um livro inteiro acerca disto, e as Escrituras são muito claras em
declarar que o discipulado não é barato. É por esta razão que ninguém é
recrutado para ser um discípulo contra a sua vontade. Algumas pessoas não estão
dispostas a pagar o preço. Ser um discípulo de Jesus Cristo significa que devemos
estar dispostos a abrir mão dos nossos mais íntimos relacionamentos (Lc 14:25,
26), das nossas ambições pessoais (Lc 9:23), e das nossas posses (Lc 3 4:33).
Relacionamentos
Pessoais
Consideremos em primeiro lugar os nossos relacionamentos
pessoais. Jesus nunca desprezou a família. Pelo contrário, nos ensinou a
respeitar nossos pais, amar os nossos cônjuges, e ensinar nossos filhos, mas o
relacionamento que temos com Cristo deve tomar a precedência até mesmo sobre a
família. Alguns maridos e pais têm interpretado este ensino no sentido de
poderem deixar a família defender-se a si mesma enquanto tratam da "obra
do Senhor". Este argumento não leva em conta que criar uma família e
cumprir as nossas obrigações como membros de uma família é a obra do
Senhor tanto quanto pastorear uma igreja, ensinar num seminário, ou servir como
diácono. Deus certamente nos considerará responsáveis por aquilo que fizemos
com as pessoas nas nossas famílias, mas em termos de prioridades devemos estar
dispostos a colocar Cristo em primeiro lugar em nossas vidas, até mesmo antes
das nossas famílias.
Ambições
Pessoais
Talvez seja ainda mais difícil deixar de lado as
nossas ambições pessoais. Em Lucas 9, as 5.000 pessoas tinham sido
alimentadas e os discípulos decerto se sentiam parte dalguma coisa muito bem
sucedida. Foi então que Jesus anunciou que o discipulado acarreta a negação de
si mesmo (inclusive as próprias ambições pessoais), levando a cruz (o símbolo
de situação humilde), e seguindo a Cristo. Às vezes, naturalmente, Deus permite
que o discípulo atinja uma posição de destaque, e freqüentemente este chega aos
seus alvos pessoais. O discípulo, porém, deve estar disposto a abrir mão das
suas ambições pessoais, ou a ter suas ambições transformadas ao ponto de se
conformarem com aquilo que Cristo quer para as nossas vidas.
Muitas vezes ouvimos cristãos falando acerca dalguma
coisa que desejavam ardentemente, e, quando dedicaram a sua vida ao Senhor,
receberam exatamente o que não queriam. "Queria ser um negociante
na Califórnia", talvez digam, "eis-me aqui como missionário nas
regiões remotas da África." A implicação é que a dedicação a Cristo leva a
alguma coisa inferior ao melhor. Deus, porém, nunca dá menos do que o melhor
para os Seus seguidores — embora talvez pensemos, de nossa perspectiva
limitada, que recebemos coisa inferior. Deus sempre nos dá aquilo que é melhor
para nós quando entregamos a Ele as nossas ambições pessoais.
Posses
Pessoais
Em terceiro lugar, o discipulado talvez nos custe
nossas posses. Riquezas, saúde, fama, bens materiais — nenhuma destas
coisas está errada em si mesma, e freqüentemente Deus dá estas coisas em
abundância, mas ficam sendo erradas quando são colocadas como finalidades
principais da vida.
Recentemente, minha esposa e eu estávamos procurando
uma casa nova para comprar. Era claro que tínhamos ficado grandes demais para o
nosso lar antigo, e sentíamos a necessidade de mais espaço. Certa tarde
fizemos uma lista de tudo quanto queríamos: uma lareira, uma lava-roupa, sala
de jantar separada, garagem embutida, etc. Citando um amigo nosso, estávamos
procurando "uma casa tipo champanha com um orçamento tipo cerveja!"
Dentro em breve, começamos a perguntar porque queríamos
uma casa melhor. Será que estávamos sendo forçados por uma cultura que mede o
sucesso pelo tamanho da casa ou pela marca e modelo do carro? Será que
estávamos sendo arrebatados por um modo de pensar que mede o valor da pessoa
pela abundância das suas posses? Nossa procura por uma outra casa nos fez
lembrar que, na eternidade, o valor da pessoa não será medido por aquilo que
ela tinha possuído na terra. Todas as nossas posses, inclusive o nosso
dinheiro, o nosso lar, nossos carros, nossos eletrodomésticos, vêm da mão de
Deus. Todas pertencem a Deus, devem ser entregues a Deus, e devem ser usadas de
maneiras que, em última análise, nos capacitem a sermos melhores discípulos de
Jesus Cristo e melhores discipuladores doutras pessoas. Um grande esforço para
obter posses pessoais e a aderência a um estilo de vida secular pode impedir a
nossa eficácia em obedecer à Grande Comissão de Cristo.
Relacionamentos
Pessoais
Consideremos em primeiro lugar os nossos relacionamentos
pessoais. Jesus nunca desprezou a família. Pelo contrário, nos ensinou a
respeitar nossos pais, amar os nossos cônjuges, e ensinar nossos filhos, mas o
relacionamento que temos com Cristo deve tomar a precedência até mesmo sobre a
família. Alguns maridos e pais têm interpretado este ensino no sentido de
poderem deixar a família defender-se a si mesma enquanto tratam da "obra
do Senhor". Este argumento não leva em conta que criar uma família e
cumprir as nossas obrigações como membros de uma família é a obra do
Senhor tanto quanto pastorear uma igreja, ensinar num seminário, ou servir como
diácono. Deus certamente nos considerará responsáveis por aquilo que fizemos
com as pessoas nas nossas famílias, mas em termos de prioridades devemos estar
dispostos a colocar Cristo em primeiro lugar em nossas vidas, até mesmo antes
das nossas famílias.
Ambições
Pessoais
Talvez seja ainda mais difícil deixar de lado as
nossas ambições pessoais. Em Lucas 9, as 5.000 pessoas tinham sido
alimentadas e os discípulos decerto se sentiam parte dalguma coisa muito bem
sucedida. Foi então que Jesus anunciou que o discipulado acarreta a negação de
si mesmo (inclusive as próprias ambições pessoais), levando a cruz (o símbolo
de situação humilde), e seguindo a Cristo. Às vezes, naturalmente, Deus permite
que o discípulo atinja uma posição de destaque, e freqüentemente este chega aos
seus alvos pessoais. O discípulo, porém, deve estar disposto a abrir mão das
suas ambições pessoais, ou a ter suas ambições transformadas ao ponto de se
conformarem com aquilo que Cristo quer para as nossas vidas.
Muitas vezes ouvimos cristãos falando acerca dalguma coisa
que desejavam ardentemente, e, quando dedicaram a sua vida ao Senhor, receberam
exatamente o que não queriam. "Queria ser um negociante na
Califórnia", talvez digam, "eis-me aqui como missionário nas regiões
remotas da África." A implicação é que a dedicação a Cristo leva a alguma
coisa inferior ao melhor. Deus, porém, nunca dá menos do que o melhor para os
Seus seguidores — embora talvez pensemos, de nossa perspectiva limitada, que
recebemos coisa inferior. Deus sempre nos dá aquilo que é melhor para nós
quando entregamos a Ele as nossas ambições pessoais.
Posses
Pessoais
Em terceiro lugar, o discipulado talvez nos custe
nossas posses. Riquezas, saúde, fama, bens materiais — nenhuma destas
coisas está errada em si mesma, e freqüentemente Deus dá estas coisas em
abundância, mas ficam sendo erradas quando são colocadas como finalidades
principais da vida.
Recentemente, minha esposa e eu estávamos procurando
uma casa nova para comprar. Era claro que tínhamos ficado grandes demais para o
nosso lar antigo, e sentíamos a necessidade de mais espaço. Certa tarde
fizemos uma lista de tudo quanto queríamos: uma lareira, uma lava-roupa, sala
de jantar separada, garagem embutida, etc. Citando um amigo nosso, estávamos
procurando "uma casa tipo champanha com um orçamento tipo cerveja!"
Dentro em breve, começamos a perguntar porque queríamos
uma casa melhor. Será que estávamos sendo forçados por uma cultura que mede o
sucesso pelo tamanho da casa ou pela marca e modelo do carro? Será que
estávamos sendo arrebatados por um modo de pensar que mede o valor da pessoa
pela abundância das suas posses? Nossa procura por uma outra casa nos fez
lembrar que, na eternidade, o valor da pessoa não será medido por aquilo que
ela tinha possuído na terra. Todas as nossas posses, inclusive o nosso
dinheiro, o nosso lar, nossos carros, nossos eletrodomésticos, vêm da mão de
Deus. Todas pertencem a Deus, devem ser entregues a Deus, e devem ser usadas de
maneiras que, em última análise, nos capacitem a sermos melhores discípulos de
Jesus Cristo e melhores discipuladores doutras pessoas. Um grande esforço para
obter posses pessoais e a aderência a um estilo de vida secular pode impedir a
nossa eficácia em obedecer à Grande Comissão de Cristo.
AS RESPONSABILIDADES DO DISCIPULADO
Além destes custos, ser um discípulo acarreta três
responsabilidades.
Testemunhando de Cristo
Em primeiro lugar, o discípulo é responsável por testemunhar
de Cristo. Não se trata de afastar-nos de todos os descrentes; significa
que, seguindo o exemplo de Paulo, devemos procurar terreno em comum com os
não-cristãos, com a esperança de finalmente levar alguns a Cristo (1 Co
9:19-20).
O ministério de um discípulo é o ministério de
apresentar Jesus Cristo a homens que não O conhecem. O ministério de um
discípulo é o ministério de transmitir aos outros a verdade acerca do Pai e do
Filho que nos foi revelada pelo Espírito Santo. O ministério de um discípulo
transforma a pessoa em canal através do qual o Espírito de Deus imprime a
verdade divina sobre homens que são ignorantes de Deus por causa da sua
cegueira natural.
Os homens não são discípulos por causa daquilo que dão
ou daquilo que fazem.
São discípulos por causa daquilo que comunicam aos
outros acerca de Jesus Cristo... Levamos a efeito o ministério de um discípulo
de duas maneiras principais, pelas nossas vidas e pelos nossos lábios. Uma destas
maneiras, sem a outra, é insuficiente e inadequada. A Palavra de Deus que vem
dos lábios do discípulo deve ser confirmada pelas obras de Deus do discípulo.5
Levando Outros
à Maturidade
Uma segunda responsabilidade do discípulo é levar
outros à maturidade. Paulo escreveu acerca deste tema na sua Epístola aos
Colossenses (1:28, 29). Paulo era o instrumento do Espírito Santo, e reconheceu
que Deus providencia o poder necessário e depois opera através de seres humanos
dedicados para levar outras pessoas a um estado de maturidade espiritual.
Alguém sugeriu que há cinco maneiras mediante as quais
estimulamos a maturidade nos outros: ao servir como exemplo de como deve ser o
cristianismo maduro (1 Ts 2:8), ao providenciar oportunidades para um
discípulo ter experiências práticas em testemunhar e servir (Mc 6:7), ao
avaliar as ações do discípulo durante seu período de treinamento (Mc 6:30), ao ensinar
e dar informações (2 Tm 3:15-17), e ao confrontar honestamente os outros com as
dificuldades do discipulado (Lc 14:25-33)." Estes cinco princípios podem
ser usados na medida em que discipulamos aos outros, e também podem ser usados
pelas pessoas que nos discipulam. É possível que estas também sejam algumas das
maneiras mediante as quais Deus nos transforma no tipo de indivíduo que Ele
quer que sejamos.
Fazendo
Discipuladores
Finalmente, o discípulo tem a responsabilidade de fazer
discipuladores — treinando aqueles que podem sair para disci-pular aos
outros. Paulo fez um esboço muito explícito ao escrever a Timóteo: "Tu,
pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que da
minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a
homens fiéis e também idôneos para instruir a outros" (2 Tm 2:1, 2). O
discipulado é um processo de multiplicação no qual aqueles que são discípulos
discipulam aos outros, os quais, por sua vez, se tornam discipuladores. Deus
nunca pretendeu que os cristãos aceitassem o evangelho para então nada mais
fazerem. Sua intenção foi que nos tornássemos Seus discípulos, com todas as
características, custos e responsabilidades que o discipulado acarreta, para
então sairmos a fim de fazermos mais discípulos para Cristo.
O DISCIPULADO E A AJUDA ÀS PESSOAS
A ênfase dada ao discipulado é tão essencial aos
ensinos do Novo Testamento, e tão básica para o modo cristão de vida que seria
impossível deixar de levá-la em consideração sempre quando o cristão entra num
relacionamento de aconselhamento ou de outra forma de ajuda. O conselheiro
está tratando de pessoas que padecem alguma necessidade, e o conselheiro que
deixa desapercebida a mensagem bíblica ou a evita em tal situação,
deliberadamente vira as costas aos ensinos de Jesus. O discipulado deve fazer
parte da vida do conselheiro cristão, e deve ser uma das suas preocupações
primárias quando entra num relacionamento de ajuda com outro ser humano.
O conselheiro que leva a sério a Grande Comissão será
diferente do ajudador não-cristão, de várias maneiras. Em primeiro lugar, o
crente reconhecerá que onde se deve começar a ajuda é dentro da própria vida do
ajudador. Não somente o ajudador deve examinar seus próprios defeitos
psicológicos e procurar mudar-se (talvez com a ajuda de outro conselheiro), mas
também deve haver um auto-exame espiritual. "Estou realmente dedicado a
Cristo?" o ajudador deve perguntar. "Estou sensível à orientação do
Espírito, estou procurando expurgar da minha vida o pecado; estou crescendo
como discípulo de Jesus Cristo e estou sinceramente interessado no crescimento
espiritual do meu próximo?" É possível responder "não" a cada
uma destas perguntas, e ainda ajudar as pessoas; os terapeutas seculares
bem-sucedidos demonstram-no todos os dias. O aconselhamento que omite a
dimensão espiritual é fútil, em última análise. Pode amontoar tesouros na terra
para o ajudador, mas nada faz para preparar os ajudados para a eternidade ou
para ajudá-los a experimentar a vida abundante na terra — abundância esta que
somente vem com a dedicação a Cristo (João 10:10).
O discípulo de Jesus Cristo espera que, afinal, seus
ajudados cresçam na sua dedicação a Jesus Cristo e no seu conhecimento dEle.
Não se quer dizer com isto que a evangelização e a maturação espiritual sejam
os únicos alvos do aconselhamento, mas não deixam de ser alvos
crucialmente importantes que até mesmo os cristãos freqüentemente olvidam.
TRÊS ABORDAGENS AO ACONSELHAMENTO
Além disto, o ajudador cristão deve encarar a
totalidade do processo de ajuda de maneira diferente. Consideremos, por
exemplo, três abordagens gerais que freqüentemente se empregam hoje. Somente
uma destas é verdadeiramente bíblica.7
A Abordagem
Humanística-Secular
A abordagem humanística-secular ao
aconselhamento não leva em conta lugar algum para Deus. Nesta abordagem, o
aconselhamento avança em direção a alvos que melhoram o seu bem-estar pessoal,
e o conselheiro intervém por algum tempo para ajudar na realização destes
alvos.
A Abordagem
"Deus como Ajudador"
Há, por contraste, algum aconselhamento que talvez
possa ser rotulado de abordagem "Deus como ajudador". Aqui, o
alvo continua sendo o mesmo, mas Deus é visto como ajudador que, em resposta à
oração, ajuda o conselheiro e o aconselhando no seu trabalho.
A Abordagem
Teocêntrica
A abordagem que pode ser chamada teocêntrica é
bem diferente. Pressupõe a existência de um Deus eterno que tem para a
humanidade propósitos finais. No aconselhamento, Deus entra num relacionamento
e usa o conselheiro como Seu instrumento para levar a efeito mudanças na vida
do aconselhando. Espera-se que estas mudanças venham a restaurar a harmonia
entre o aconselhando e seu Deus, melhorar seus relacionamentos com os outros,
reduzir seus conflitos interiores, e derramar aquela paz que ultrapassa todo o
entendimento.
O discípulo que também é um ajudador esforça-se para
praticar esta abordagem teocêntrica. Recebendo o poder do Espírito Santo, está
disposto a desenvolver as características, pagar o preço, e arcar com as
responsabilidades do discipulado. Por sua vez, fica sendo o instrumento de Deus
para levar a efeito mudanças nas vidas das pessoas por ele aconselhadas.
A FLEXIBILIDADE DO ACONSELHAMENTO BÍBLICO
Não é uma atitude realista esperar que chegaremos um
dia a uma só abordagem bíblica ao aconselhamento, assim como não descobrimos
uma só abordagem bíblica às missões, à evangelização, ou à pregação. Em grande
medida, as técnicas do aconselhamento dependem da personalidade do conselheiro
e da natureza dos problemas do aconselhando, mas devemos procurar descobrir as
várias técnicas e as diferentes abordagens ao aconselhamento que surgem dos
ensinamentos da Escritura ou que são claramente consistentes com ela. Depois,
devemos ensaiar estas técnicas e testar a sua eficácia, não empregando
sentimentos subjetivos como prova de que "realmente estamos ajudando as
pessoas", mas empregando técnicas cuidadosamente controladas de
avaliação.
O lugar para começar a edificar uma abordagem cristã
ao aconselhamento é a Bíblia, e não pode haver ponto de partida mais crucial do
que a Grande Comissão dada pelo próprio Jesus. Esta é a planta para a
edificação da igreja, e forma a base sobre a qual se edificam vidas e
relacionamentos interpessoais, ao ajudar as pessoas mediante o aconselhamento.
Fonte: Ajudando uns aos outros
pelo Aconselhamento, Gary R. Collins – Edições Vida
Nova.
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