I – A necessidade de uma
declaração prévia e de uma exposição dos decretos de Deus:
Antes de estudar a doutrina da predestinação, é indispensável
considerar a doutrina dos decretos de Deus, desde que a predestinação, como já
foi dito na introdução, é um ramo dessa importante doutrina. A relação entre
elas é tão íntima que alguns teólogos têm usado a palavra predestinação “como
equivalente à palavra genérica decreto, incluindo todos os eternos propósitos
de Deus”.[1]
“O termo decreto divino é
uma tentativa para reunir em uma designação aquilo que a Bíblia apresenta com
várias palavras e expressões: “o
propósito divino”, (Ef.1:11), “determinado
conselho”, (At.2:23), “presciência”
(1Pe.1:2; comparar com 1:20), “eleição”,
(1Ts.1:4), “predestinação”,
(Rm.8:30), “a vontade divina”,
(Ef.1:11), e “beneplácito” (Ef.1:9).” (Chafer).
Decreto divino é o termo geral, e refere-se ao plano de Deus em toda a
criação; predestinação é um aspecto particular ou divisão do decreto de Deus,
e, refere-se a seres morais, tanto anjos como homens, e está dividida em dois aspectos:
a eleição dos salvos, e a reprovação ou preterição dos condenados.
A mais concisa e compreensiva declaração da doutrina
dos decretos divinos está no Breve Catecismo, na resposta a pergunta 7: “Os decretos de Deus são o seu eterno
propósito de acordo com o conselho da sua vontade, pelo qual, para sua própria
glória, Ele predestinou tudo que acontece”. Essa definição é formada pelas
próprias palavras das Escrituras, que são à base da doutrina.
A mesma doutrina é definida no Catecismo Maior com as
seguintes palavras (resposta à pergunta 12): “Os decretos do Deus são os atos sábios, livres e santos do conselho da
sua vontade, pelos quais, desde toda a eternidade, Ele, para sua própria
glória, imutavelmente, predestinou tudo que acontece, especialmente com referência aos anjos e aos homens”.
Na confissão de fé a
doutrina é apresentada nestes termos: “Desde toda a eternidade. Deus, pelo muito sábio e santo conselho da
sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém,
de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da
criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias,
antes estabelecidas”.[2]
Dr. A. A. Hodge define esta doutrina com as seguintes
palavras:
“O decreto de Deus é o seu eterno, imutável, santo, sábio e soberano
propósito que compreende ao mesmo tempo todas as coisas que foram e que hão de
ser em suas causas, condições, sucessões e relações, e que determinam o seu
futuro. Os vários conteúdos do eterno propósito são denominados decretos, por
causa da limitação das nossas faculdades que os concebem em seus aspectos
parciais e em suas relações lógicas”.[3]
Isto é suficiente para a declaração da doutrina.
Consideremos agora os argumentos que provam sua veracidade.
Para aqueles que crêem na Bíblia como a revelação de
Deus para a humanidade, a prova suprema, o argumento por excelência em favor de
qualquer doutrina é aquele que é derivado das Escrituras. Assim começaremos
com esta espécie de prova.
Há muitas passagens na Bíblia que ensinam a doutrina
dos decretos de Deus. Esta doutrina constitui na realidade uma das tônicas
gerais dos ensinos bíblicos. O Dr. Benjamin Warfield fez a seguinte declaração
acerca desse fato:
“Não é dizer demais que ela (a
doutrina da predestinação, e por conseguinte, os decretos de Deus) é fundamental
para a consciência religiosa de todos os escritores da Bíblia; e assim,
envolve todas as suas concepções religiosas, que, se fossem erradicadas, toda
a apresentação bíblica seria transformada. Isto é verdade tanto com respeito
ao Velho como ao Novo Testamento, como poderá ser suficientemente manifesto se
prestarmos atenção à natureza e às implicações dos elementos formativos do sistema
do Velho Testamento, bem como as suas doutrinas de. Deus, da providência, da fé
e do reino de Deus”.[4]
O que se segue é uma série de passagens bíblicas que
ensinam essa doutrina: “O conselho do
Senhor dura para sempre, os desígnios do seu coração por todas as gerações”.
(Sl.33:11). “Este é o desígnio que se formou concernente a toda a terra; e esta é a
mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o
determinou; quem, pois, o invalidará? A tua mão está estendida; quem, pois, a
fará voltar atrás?” (Is.14:26-27).
“Lembrai-vos das coisas passadas da
antigüidade; que sou Deus e não há outro, eu sou Deus, e não há outro
semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer, e desde
a antigüidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho
permanecerá de pé, farei toda a minha vontade”. (Is.46:9-10). “... e eu
bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo
domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em
nada e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores
da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: que fazes?” (Dn.4:34-35) “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra
sem o consentimento de vosso Pai. E quanto a vós outros, até os cabelos todos
da cabeça estão contados.” (Mat.10:29-80).
“Porque o Filho do homem, na verdade, vai segundo o que está determinado,
mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído”. (Lc.22:22). “... sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mão de iníquos”. (At.2:23) “Porque verdadeiramente se ajuntaram
nesta cidade contra o teu santo servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio
Pilatos, com gentios e povos de Israel para
fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram”. (At.4:27-28). “... de um só fez toda a
raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites
da sua habitação.” (At.17:26).
“Diz o Senhor que faz estas coisas conhecidas desde séculos”. (At.
4:18) “Sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto
aos que de antemão conheceu, também
os predestinou para serem conformes
a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a
estes também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos
que justificou, a esses também glorificou.” (Rm.8:28-30). “Mas falamos a sabedoria de Deus em mistério,
outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para nossa glória”.
(1Co.2:7) “... nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo
o propósito daquele que faz todas as
coisas, conforme o conselho da sua vontade”. (Ef.1:11). “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus
para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas”. (Ef.2:10) “... segundo o poder
de Deus, que nos salvou e nos chamou com
santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria
determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos”.
(2Tm.1:8-9) “... sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro que fostes resgatados do
vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso
sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo,
conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifesto no fim dos
tempos, por amor de vós”. (1Pe.1:18-20), etc, etc.
Estas passagens e muitas outras que poderiam ser facilmente
acrescentadas, mostram que o Deus todo poderoso tem um plano ou propósito para
este universo que é dele. Este plano ou propósito foi concebido na eternidade
e está sendo executado no tempo. É um plano sábio porque está de acordo com o
conselho de Deus. É um plano bom porque é para a glória de Deus. É um plano
eterno porque foi concebido “antes da
fundação do mundo”. É um plano poderoso porque ninguém pode anular. É um “plano suficientemente grande para abarcar
todo o universo, suficientemente minucioso para se interessar com os mínimos
detalhes, e atualizando-se com inevitável certeza em cada acontecimento que
sucede”. (Dr. Warfield).
Se Deus é um ser racional e superior, deve ser sábio.
Sendo infinito, deve ser infinitamente sábio. Nenhum ser sábio faria alguma
coisa sem um plano bem pensado e bem preparado antecipadamente. Um arquiteto,
por exemplo, não iniciaria a construção de um edifício sem preparar primeiro a
planta do edifício cuidadosamente com todos os seus detalhes. Um general não
daria ordens para o seu exército lutar contra o inimigo, sem antes preparar,
com seu estado maior a estratégia para a batalha. Jesus mesmo indicou a
sabedoria e a necessidade de fazer plano com antecedência, quando disse: “Pois, qual de vós, pretendendo construir uma
torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os
meios para concluir. Ou, qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se
assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que
vem contra ele com vinte mil?” (Lc.14:28,31).
“Nenhuma dedução a respeito de
Deus pode ser mais desonrosa e enganosa do que a suposição de que ele; não é
soberano sobre as suas obras, ou que ele não está agindo de acordo com um plano
que articula a ordem de sua inteligência infinita. A mente humana poderia
imaginar uma situação em que nada tivesse ainda sido criado, quando Deus tinha
diante dele uma infinita variedade de planos possíveis para escolher; e que
finalmente escolheria o melhor plano divisado pela infinita sabedoria, consumado
pelo infinito poder, e, que seria a suprema satisfação para seu infinito amor.”
[5]
“Um Deus existente por si
próprio, independente, perfeito, imutável,
existindo sozinho desde toda a eternidade,
começou a criar o universo físico e moral no vácuo absoluto; impulsionado a fazer isso, partindo de certos
motivos para atingir determinados fins, e de acordo com idéias e planos
totalmente emanados de seu interior e de sua iniciativa. Se Deus governa o universo, Ele deve também, como um ser
inteligente, governá-lo de acordo com um plano; e, este deve ser perfeito
em extensão, alcance e detalhes. Se Ele tem um plano agora, deve ter tido o
mesmo plano imutável desde o princípio. Decreto de Deus, por conseguinte, é o
ato de uma pessoa infinita, absoluta, eterna, imutável e soberana,
compreendendo um plano que abrange todas as
suas obras, de todas as espécies, grandes e pequenas, desde o começo da
criação até a infindável eternidade. Por
esta razão ele deve ser incompreensível
e não pode ser condicionado por algo exterior
a Deus, pois já estava acabado antes que existisse qualquer coisa
exterior a ele, e, por isso, abrange e
determina todas essas supostas coisas exteriores e todas as condições
delas para sempre.” [6]
“Um universo
sem decreto seria tão irracional e espantoso como um trem viajando na
escuridão da noite, sem farol e sem maquinista, e sem nenhuma certeza de que
a qualquer momento poderia precipitar-se no abismo”.[7]
“Apesar de algumas pessoas se
oporem teoricamente à predestinação, todos nós, em nossa vida diária seguimos
praticamente à predestinação. O nosso maior e mais importante empreendimento
teve um plano feito por nós, de outro modo, nossa obra terminaria em fracasso.
Uma pessoa seria considerada mentalmente perturbada se resolvesse construir um
navio, ou uma estrada de ferro, ou governar uma nação, sem um plano. Foi-nos
contado que antes de Napoleão começar a invasão da Rússia, tinha feito um
plano bem elaborado em seus detalhes, mostrando que linha de marcha cada
divisão de seu exército devia seguir, onde devia estar em determinado tempo,
que equipamento e provisão devia ter, etc. Tudo o que faltou no plano foi
devido às limitações da sabedoria e do poder do homem. Tivesse Napoleão uma
previsão perfeita e um controle absoluto dos acontecimentos, seu plano, ou como
nós poderíamos dizer, sua predestinação teria se estendido a cada soldado que
executou aquela marcha.” [8]
É Deus menos sábio que Napoleão?
O homem foi feito à imagem de Deus. Isso significa que
o homem é uma espécie de miniatura de Deus. O que o homem é e tem em uma escala
limitada, Deus é e tem em uma escala absoluta e infinita (exceto o pecado, que
é alguma coisa que o homem adquiriu depois de ser criado por Deus). A inteligência
é um dos atributos do homem. Por conseguinte, Deus deve ser infinitamente
inteligente e sábio. Como nós temos visto, uma das expressões da inteligência e
da sabedoria do homem é que ele, em tudo que faz, prepara um plano e o segue. A
conclusão lógica, portanto, é que Deus, sendo infinitamente inteligente e
sábio, deve ter um plano perfeito e compreensivo para toda a sua criação. É
este plano que nós chamamos decretos de Deus. Por conseguinte, a sabedoria de
Deus prove os decretos divinos.
O dicionário define a palavra soberano como um que “possui suprema autoridade”; que exerce
ou possui “suprema ou original jurisdição
de poderes”; que não está sujeito a nada. A palavra vem do latim super —
acima, e significa literalmente um que está acima dos outros. Deus está acima
de cada coisa e de cada criatura. Ele é soberano. Uma boa definição de soberania
de Deus é a seguinte: “Soberania de Deus
é seu poder e direito de domínio sobre todas as suas criaturas para dispô-las e
determiná-las, como lhe parece melhor. Este atributo é evidentemente
demonstrado no sistema da criação, providência e graça; pode ser considerado
como absoluto, universal e eterno.” [9]
(1)
Soberano é sinônimo de rei, monarca, potentado e
imperador. Reconhecer a soberania de Deus é, por conseguinte, reconhecer sua
realeza. A mais alta concepção que o homem pode ter de autoridade está
incorporada na pessoa de um rei. Esta é a concepção bíblica de Deus. “Tua, Senhor, é a grandeza, o poder, a honra,
a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu,
Senhor, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos. Riquezas e glória
vem de ti, tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo está o
engrandecer e a tudo dar força.” (1Cr.29:11,12).
“Reina o Senhor. Revestiu-se de
majestade; de poder se revestiu o Senhor, e se cingiu. Firmou o mundo, que não
vacila. Desde a antigüidade está firme o teu trono: tu és desde a eternidade”.
(Sl.93:1,2). “Porque o Senhor é o Deus supremo, e o grande rei acima de todos os
deuses... Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemo-nos diante do Senhor que
nos criou” (Sl.95:3,6). “Com efeito, eu sei que o Senhor é grande, e
que o nosso Deus está acima de todos os deuses. Tudo quanto aprouve ao Senhor,
ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos” (Sl.135:5,6). “Então ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas, e
como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! pois reina o Senhor nosso Deus, o
Todo-Poderoso” (Ap. 19:6).
Há muitas outras passagens que falam a respeito de
Deus como rei e governador, sobre todas as coisas e sobre cada ser que ele
criou nos céus e na terra. São tão numerosas porém essas passagens que é
impossível citar todas. Elas apresentam Deus reinando com todo poder, bondade e
sabedoria. Elas falam dele assentado sobre um alto e sublime trono, como o rei
dos reis, Cada criatura no universo tem que se curvar diante dele. Até satanás
e os demônios têm que reconhecer sua soberania. Satanás não podia fazer
qualquer coisa contra Jó sem sua permissão (Jó.1:9-12; 2:4-6). Reconhecendo
Cristo como Deus, os demônios admitiam a possibilidade de serem atormentados
por ele “antes do tempo”, e de serem
por ele mandados imediatamente para o abismo. E eles não podiam entrar nos
porcos sem a permissão dele (Mt.8:28,33; Mc.5:1-13; Lc.8:26-33).
“Criação implica soberania.
Qualquer que acredita em Deus como criador não pode negar sua soberania sobre
tudo que Ele fez. Isto é observado na vida diária. Ninguém jamais teve
oportunidade de dizer que ia existir antes de existir. A existência lhe foi
dada sem que fosse pedido o seu consentimento. Uma mão soberana o introduziu na
existência, colocou-o dentro de um torvelinho de experiências, sem possibilidade
para interrupção e descanso; e fez isso sem perguntar se Ele queria ou não.
Nenhum homem jamais escolheu a data e o lugar do seu nascimento, ou sua nacionalidade;
se nasceria na época ante-diluviana ou no século XX, se nasceria na China ou na
América, se seria esquimó ou americano. Nada é mais evidente para o homem
racional do que o fato de existir uma soberania dirigindo sua vida”.[10]
“Na grande expansão da eternidade
que se estende antes de Gn. 1:1, o universo não tinha nascido e a criação
existia somente na mente do Criador. Em sua soberana majestade Deus existia
sozinho. Nós nos referimos àquele longínquo período antes que os céus e a
terra fossem criados. Não havia anjos para entoar hinos de louvor a Deus, nem
criatura para ocupar sua atenção, nem rebeldes para serem trazidos em sujeição.
O grande Deus era a totalidade única no meio do espantoso silêncio de seu próprio
vasto universo. Mas, ainda naquele tempo, se é que pode ser chamado tempo, Deus
era soberano. Ele podia criar ou não criar, de acordo com o seu beneplácito. Podia
criar desta ou daquela maneira; podia criar um mundo ou milhões de mundos; e
quem existia para se opor à sua vontade? Ele podia chamar à existência um
milhão de criaturas diferentes e colocá-las em igualdade absoluta, dotando-as
com as mesmas faculdades, pondo-as no mesmo ambiente; ou Ele podia criar
milhões de criaturas, cada uma diferente da outra, não possuindo nada em comum,
exceto a sua condição de criatura, e quem haveria para se opor a esse direito?
Se Ele assim desejasse poderia chamar á existência um mundo tão imenso que suas
dimensões estariam além da estimativa finita. E, se estivesse disposto,
poderia criar um organismo tão pequeno que nada, exceto o mais poderoso
microscópio poderia revelar sua existência aos olhos humanos. Era seu soberano
direito criar, por um lado, o exaltado serafim para queimar ao redor do seu
trono, e, por outro lado, criar um inseto tão frágil que morre na mesma hora
que nasce. Se o poderoso Deus escolhesse ter uma vasta gradação em seu
universo, desde o mais sublime serafim até o réptil que se arrasta, desde os
mundos em revolução aos átomos flutuantes, do macrocosmo ao microcosmo, em vez
de fazer cada coisa uniforme, quem poderia questionar sua vontade soberana?”.
[11]
Ver Jó 38:1-21.
Dr. Warfield prova em seu artigo (“Predestinação” Biblical Doctrines, p. 7)
que a concepção do Velho Testamento sobre Deus é a de uma pessoa moral, toda
poderosa que dirige todo o universo.
“Não podemos pensar em Deus senão
como um ser que determina tudo o que acontece no mundo, deste mundo que é
produto de seu ato criador. A doutrina da providência, que está espalhada em
todas as páginas do Velho Testamento sustenta totalmente esta crença. O Todo
Poderoso construtor é apresentado também como o irresistível governador de tudo
quanto Ele tem feito. Todas as coisas sem exceção estão dispostas por Ele, e
sua vontade é a última palavra para tudo o que acontece. Os céus e a terra e
tudo o que neles há são instrumentos pelos quais Ele executa seus planos. A natureza,
as nações e o destino do indivíduo são, igualmente, em todas as suas mutações,
cópia de seu propósito. Os ventos são seus mensageiros, a chama de fogo sua
serva, cada ocorrência é seu ato; a prosperidade é seu dom, e, se a calamidade
cai sobre o homem é o Senhor que tem feito (Am.3:5,6; Lm. 3:33-38; Is.45:7;
Ec.7:14; Is.44:16). É Ele que dirige os passos dos homens, quer eles saibam ou
não, quem ergue e derriba; abre e endurece o coração; e, cria os pensamentos e
intentos verdadeiros do coração.” [12]
“Em uma palavra, a soberania da
vontade divina, como princípio de tudo que acontece, é um postulado primário da
vida religiosa, como também da visão do mundo como apresentada no Velho
Testamento. Ela está implicada na verdadeira idéia de Deus, está dentro da
concepção da relação de Deus com o universo e com tudo que acontece na
natureza, na História e no destino dos indivíduos. Ela está também dentro do esquema
da religião, seja nacional ou pessoal. Está colocada na base de todas as emoções
religiosas e é o fundamento de todo o caráter religioso construído em Israel".[13]
Como o Dr. Charles Hodge
mostra, a soberania de Deus é exercida: 1) Estabelecendo as leis físicas e
morais que governam suas criaturas; 2) Determinando a natureza e os poderes das
diferentes ordens dos seres criados e designando cada um em sua esfera
apropriada; 3) Apontando para cada indivíduo sua posição e seu destino; 4) E,
também, nas distribuições de seus favores. "porventura não me é lícito fazer o que eu quero do que é meu?”
Mt.20:15.
Em resumo, reconhecer Deus
como o supremo soberano do universo, como governador moral do mundo, é admitir
sua divindade e seu direito de dispor o que ele criou de acordo com sua vontade
e seu plano, é dizer que Ele é na realidade um Deus e não um títere sujeito às
circunstâncias que Ele não criou e não pode controlar; não um fantoche que
acomoda seus planos às circunstâncias que não dependem dele, mas da vontade
livro e dos atos de suas próprias criaturas. A concepção que nós temos de
Deus, especialmente de acordo com o que aprendemos na Bíblia, obriga-nos a crer
que, sendo soberano Ele decretou tudo o que acontece para sua glória e para o
bem daqueles que o amam, “daqueles que
são chamados segundo o seu propósito”. (Rm.8:28). Ele nunca é derrotado.
Ainda quando tudo parece estar contra o que Ele planejou, como quando Cristo
era rejeitado pelas cidades onde operou a maioria de seus milagres e onde pregou
a maioria de seus sermões; ainda assim, devemos fazer como Cristo fez naquela
ocasião, isto é, deu graças a Deus porque tudo aconteceu de acordo com o seu
plano. “Passou, então, Jesus a increpar
as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem
arrependido: Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em
Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas
se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E, contudo,
vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós
outras. Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu?
Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres
que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos,
porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do
que para contigo. Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai,
Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos
e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”. (Mt.11:20-26).
A morte de Cristo parecia ser uma grande derrota, no entanto, lemos na Bíblia,
em referência a essa aparente frustração o seguinte: “Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o
Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e
sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como
vós mesmos sabeis; sendo este entregue pelo determinado
desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de
iníquos”. (At.2:22,23). Ainda quando tudo está tão escuro como num dia de
tempestade, nós sabemos que além e acima das nuvens escuras de nossa aflição e
perplexidade, o sol da misericórdia e do poder de Deus brilha e que, no fim,
tudo acontecerá como Ele planejou e determinou para sua glória e nossa felicidade.
É claro, portanto, que a soberania de Deus, pressupõe os seus decretos.
Gostaria de concluir esta secção com as seguintes
observações do Dr. Charles Hodge:
“Não obstante essa soberania ser
universal e absoluta, é soberania de sabedoria, santidade e amor. A autoridade
de Deus não é limitada por nada fora dele mesmo, mas é controlada em todas as
suas manifestações, por suas perfeições infinitas. Esta soberania é a base da
paz e da confiança de todo o seu povo. Eles se regozijam porque o Senhor Deus
Onipotente reina, porque nem a necessidade, nem o acaso, nem a loucura dos
homens, nem a malícia de satanás controla a seqüência dos acontecimentos e os
seus resultados finais. Sabedoria infinita, amor e poder pertencem ao nosso
grande Deus e Salvador, em cujas mãos estão confiados todos os poderes nos céus
e na terra”.[14] (1)
Deus sendo eterno, não há uma seqüência de tempo em
suas atividades. Por conseguinte, sua presciência e seus decretos são de fato simultâneos.
Existe, no entanto, uma relação lógica nas atividades; de Deus, embora
não haja uma relação cronológica. Sendo assim,
podemos perguntar: A presciência divina precede ou sucede aos
decretos de Deus? Precisamos fazer aqui uma distinção muito importante para
responder essa pergunta. Há de fato em Deus duas espécies de conhecimento, uma
que logicamente precede, e outra que logicamente sucede aos seus decretos. A
primeira é o conhecimento que Ele tem das possibilidades; e a segunda é
o seu conhecimento ou antes, sua presciência da certeza dos fatos possíveis. Antes de decretar ou preordenar, Deus
deve ter conhecido uma multidão de planos possíveis. Porém de nenhum
desses planos possíveis podia haver certeza enquanto ele não decidisse
neste sentido.
E com referência a este fato que a “Confissão de Fé” declara:
“Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis,
ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa
que havia de acontecer em tais e tais condições.” [15]
Na “Confissão” citam-se duas passagens bíblicas que
ilustram o conhecimento que Deus teve de possibilidades
que nunca chegaram a ser realidades.
Em 1Sam.23:11,12, Davi perguntou a Deus, “Entregar-me-ão
os homens de Queila nas mãos dele? Descerá Saul, como o teu servo ouviu? Ah! Senhor, Deus de Israel, faze-o saber ao
teu servo. E disse o Senhor: Descerá.
Perguntou-lhe Davi: Entregar-me-ão os homens de Queila, a mim e aos meus
servos, nas mãos de Saul? Respondeu o Senhor:
Entregarão.” Deus sabia o que aconteceria
se Davi ali ficasse. Mas como não estava decretado que tal acontecesse, Davi
foi avisado e retirou-se, pelo que aquilo jamais se realizou. Em Mat.11:21,23
Cristo disse que se tivesse feito em Tiro, Sidom e Sodoma os prodígios que
fizera em Corazim, Betsaida e Cafarnaum, aquelas cidades pagãs ter-se-iam
arrependido. Isso é conhecimento de uma possibilidade
que não chegou nunca a se tornar realidade,
porque não fora incluída nos decretos de Deus. Este não criou as circunstâncias
que teriam resultado no arrependimento daquelas cidades pagãs, e assim é claro
que Ele não preordenou a conversão delas. Todos os eventos, porém, que Deus
conheceu antes ou previu como certos, esses Ele incluiu nos seus decretos, e os
previu pela simples razão de havê-los decretado. Reconhecer, pois, que Deus
prevê ou conhece de antemão tudo o que acontece é reconhecer que Ele tudo
decretou.
“Decretar a criação implica em
decretar-lhe os resultados previstos... Na eternidade não podia haver nenhuma
causa da futura existência do universo fora do próprio Deus, visto como nenhum
ser existia além dele. Na eternidade Deus previu que a criação do mundo e o
estabelecimento das leis que o regem fariam certa sua história atual, até
mesmo nos mais insignificantes detalhes. Mas Deus decretou criar e estabelecer
essas leis. Assim decretando, decretou necessariamente tudo quanto haveria de
acontecer. Por fim, Ele previu os acontecimentos futuros, do universo, como
certos, porque decretou criar; porém tal determinação de criar envolveu também
a determinação de todos os resulta dos atuais dessa criação ou, em outros
termos, Deus decretou esses resultados”.[16]
“O conhecimento de um plano como
ideal ou possível pode preceder ao decreto; mas o conhecimento de um plano como
real ou decidido deve seguir-se ao decreto... Deus portanto prevê a criação,
as causas, as leis, os acontecimentos, as conseqüências porque decretou a
criação, as causas, as leis, os acontecimentos, as conseqüências; isto é,
porque Ele incluiu tudo isso em seu plano. A negação dos decretos envolve logicamente
a negação da presciência que Deus tem das livres ações humanas; a isto são
levados de fato os socinianos e alguns arminianos... Deus conheceu as livres ações
humanas como possíveis, antes de decretá-las; conheceu-as como futuras, haveriam de acontecer, porque as decretou... Quando digo,
“Sei o que vou fazer”, é evidente que antes já tomei uma resolução; esse meu
saber não precede a resolução, mas vem depois dela e nela se baseia... Existem
pois duas espécies de conhecimento divino: 1. conhecimento do que pode acontecer — do possível (scientia simplicis intelligentiae); 2. conhecimento do que há e do que vai
acontecer, porque Deus o decretou (scientia
vísionis). Entre essas duas, o jesuíta espanhol Molina concebeu erroneamente
uma outra, a saber, um conhecimento intermediário do que haveria de acontecer,
embora Deus não o decretasse (scientia
media). Seria este naturalmente um
conhecimento que Deus fizesse derivar não de si mesmo, mas de suas criaturas!
Mas decretar criar, quando Ele prevê que certos atos livres dos homens virão
depois, é decretar tais atos livres no único sentido em que empregamos a
palavra decreto, a saber, tornar certo, ou abranger em seu plano. Nenhum
arminiano, que creia na presciência que Deus tem das livres ações humanas, tem
boa razão para negar os decretos de Deus, explicados assim".[17]
Mas, como harmonizar a presciência de Deus neste
sentido, isto é, como resultado de seus decretos, com a responsabilidade do
homem? Por causa desta dificuldade, os socinianos não admitem que Deus conheça
de antemão as ações livres e contingentes dos homens, e assim negam de fato a
onisciência divina. Os arminianos, no entanto, reconhecem que Deus prevê como
certas as livres ações do homem, sem decretá-las, embora as inclua no seu plano.
Mas se Deus viu antes que certa pessoa, criada em determinado tempo e lugar e
colocada em certas circunstâncias, agiria de certo modo, e apesar disso a criou
exatamente em tais circunstâncias, não é que Ele decretou que essa pessoa
agisse desse modo? Entretanto, Deus não será responsável pelos atos dessa
pessoa, porque esta age livremente, espontaneamente, de acordo com sua própria
natureza e suas inclinações. Deus não a compele a fazer coisa alguma — a pessoa
age por si mesma. Por que o povo de Queila não cometeu o crime de entregar Davi
a Saul? Porque Deus avisou a Davi, de modo a desaparecerem as circunstâncias
que a eles teriam sido favoráveis para a perpetração do delito. Suponha-se que
Deus não tivesse avisado a Davi, que
teria acontecido? Tê-lo-iam entregue a Saul. Isto provaria que Deus decretara que eles agissem
dessa maneira, criando as circunstâncias que iam resultar naquele ato. Podemos
dizer que Deus seria responsável pelo que fizessem com Davi? Não absolutamente.
Eles é que seriam responsáveis pelo que fizessem, apesar de estar isso incluído
nos decretos de Deus. O mesmo podemos dizer dos irmãos de José, e também de
Judas e de todos quantos contribuíram para a crucificação de Cristo. Cometeram
um crime, agiram livremente nisso, foram acusados por sua própria consciência.
Nada obstante, seus atos pecaminosos foram incluídos nos decretos de Deus e,
por isso, foram conhecidos de antemão.
“Disse José a
seus irmãos: Agora, chegai-vos a mim... Agora, pois, não vos entristeçais, nem
vos irriteis contra vós mesmos, por me haverdes vendido para aqui; porque para
conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós... Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão
na terra, e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, não
fostes vós que me enviastes para cá e, sim, Deus.” (Gen.45: 4-8). “O Filho do homem
vai, como está escrito a seu respeito, mas, ai daquele por intermédio
de quem o Filho do homem está sendo traído!” (Mat.26:24; cf. Jó.17:12). “Porque
verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao
qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e povos de Israel, para fazerem
tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram”. (At.4:27,28).
“Os arminianos mostram muita
reverência pelas perfeições de Deus a ponto de limitarem o conhecimento dele
quanto às ações de agentes livres. Mas esforçam-se por fugir à conclusão
inevitável do decreto e por salvar sua doutrina favorita dos propósitos
condicionais, limitando o interesse divino pelos atos, e especialmente pelos
pecados, de agentes livres, a simples conhecimento prévio, permissão e intenção
de fazer do ato permitido uma condição de alguma parte do decreto. Sustento que
aqueles que concedem tanto não podem consistentemente parar aí. Se o ato pecaminoso
(para fazer o mínimo possível de concessão aos calvinistas) do agente livre foi
previsto com certeza por Deus desde a eternidade, então sua ocorrência deve ser
certa. Contudo neste universo nada acontece sem uma causa; deve pois haver
algum fundamento para a certeza dessa ocorrência. E é nesse fundamento que
assenta a presciência de Deus. Perguntais que fundamento é esse? Respondo com
uma pergunta: Como pode o conhecimento que Deus tem do possível passar para o
seu conhecimento do real? Somente pela sua determinação de assegurar a
ocorrência deste último. Conceba-se Deus a criar um agente livre, de acordo com
o seu plano, e a lançá-lo aí em liberdade. Se Deus conhece de antemão tudo o
que esse agente livre vai resolver fazer, se for criado, acaso não propõe a
realização desses atos, quando cria esse agente? Negá-lo é uma contradição.
Podemos não ser capazes de ver perfeitamente como é que Deus consegue com
certeza a prática desses atos por agentes livres, e ainda deixando-os agir
unicamente pela própria vontade deles (espontaneamente), mas o que não podemos
é negar que Ele o faz. Do contrário teríamos a subversão de sua soberania e
presciência. Com relação ao homem tais acontecimentos podem ser de todo
contingentes, duvidosos, eventuais; mas quanto a Deus, nenhum deles pode ser
contingente; de outro modo, todas as partes do seu decreto' ligadas, como
efeitos, com tais eventos como causas, seriam contingentes no mesmo grau”.[18]
“Os arminianos admitem que todos
estes atos intermediários dos homens foram previstos eternamente por Deus, e
assim foram incluídos no seu plano como condições: mas não foram preordenados.
Replicamos: se foram previstos com certeza, sua ocorrência era certa; se esta
era certa, então alguma coisa devia haver que determinasse tal certeza. Essa
alguma coisa ou era a sábia preordenação de Deus, ou um fado, destino, cego e
físico. Os arminianos que escolham”.[19]
(1)
Em conclusão, sendo onisciente. Deus sabe tudo o que
pode acontecer, inclusive os atos de agentes livres. E sendo onipotente, só
aquilo que Ele faz ou permite que se faça pode ocorrer. Por conseqüência, tudo
quanto Deus previu foi por Ele decretado. Concluímos, assim, que a presciência
de Deus prova os seus decretos.
Fonte: Predestinação – Tese
apresentada ao “Union Theological Seminary”, Richmond, Va., E.U.A. em abril
de 1947, em cumprimento de parte dos requisitos para a colação do grau de
Mestre em Teologia, PELO Rev. SAMUEL DE VASCONCELOS FALCÃO do Seminário Presbiteriano
do Norte Recife - Pernambuco – Brasil – 1981.
[1] A. A.
Hodge, Outlines of Theo.,
p. 214.
[2] Confissão de Fé. cap. III. § I.
[3] A. A. Hodge, Outlines of Theo.,
p. 200.
[4] Benjamin B. Warfield, Biblical Doctrines, art. “Predestination” p.7.
[5] L. S. Chafer, Biblío. Sacra, XC, 138, 139.
[6] A. A. Hodge, op. cit„ p. 201.
[7] A. J. Gordon, apud L. Boettner, The
Reformed Doctrine of Predestination, p. 21.
[8] Lorraine Boettner, op. cit., pp.20,
21.
[9] M’clintook and
Strong, Cyclopedia, “Sovereignty”.
[10] David Clark, A Syll. of Syst. Theo., p.94
[11] Arthur Pink, The Sovereignty of
God, pp. 35, 38.
[12] B. B. Warfield, op. cit., pp.
8, 9
[13] B. B. Warfield, op. cit., pp.
12, 13
[14] Charles Hodge, op. cit., I, 441
[15]
Confissão de Fé de Westminster, Cap.III, parag. II
[16] A. H. Strong, Systematic
Theology, pg. 356.
[17] A. H. Strong, Systematic
Theology, pgs. 357, 358
[18] R. L. Dabney, Systematic and Polemic Theo. pgs. 217-218.
[19] R. L. Dabney, Systematic and Polemic Theo. pg. 219.
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