Alguns podem ainda não ter entendido exatamente o que
é aqui definido pelo termo "Regeneração por Decisão". Talvez alguns
não estejam familiarizados com os cursos de aconselhamento que estão sendo
ministrados por muitas organizações neste país e além de suas fronteiras, e com
as numerosas "Conferências para Ganhar Almas" que estão acontecendo.
Nesses encontros os conselheiros são instruídos que o aconselhamento
bem-sucedido deve ser concluído, necessariamente, com a absoluta garantia de
salvação ao indivíduo.
Conselheiros são as vezes instruídos a assegurar ao
indivíduo que sua salvação é certa porque ele orou a oração que foi prescrita,
e disse "sim" a todas as perguntas que foram feitas.
Temos uma ilustração da "Regeneração por
Decisão" quando um pregador atual e popular ensinou um procedimento ao
aconselhar. Ele orientou o "Sr. Ganha Almas" a perguntar ao "Sr.
Vazio" uma série de questões.
Se o "Sr. Vazio" disser "sim" a
todas as questões, ele é convidado a orar a oração prescrita e, então, é
pronunciado como salvo.[1]
Na maioria das vezes esse tipo de aconselhamento resulta em alguém estar sendo
"regenerado" através de uma decisão. Esse é, essencialmente, o mesmo
método de aconselhamento empregado nas maiores cruzadas evangelísticas ao redor
do mundo. Essas campanhas são semelhantes à enormes fábricas despejando fora
tanto quanto dez mil "decisões" em uma semana.
Iain Murray, em seu livro que veio em boa hora, "The Forgotten
Spurgeon", indica que esse mesmo tipo de aconselhamento é usado
no trabalho com os jovens: "Por exemplo, um livreto, que tem muita
circulação no evangelismo estudantil nos dias de hoje, afirma: Há três passos,
muito simples, para que alguém se torne um cristão: primeiro, reconhecimento
pessoal de pecados; e segundo, fé pessoal na obra substitutiva de Cristo. Estes
dois são prescritos como preliminares, mas o terceiro e último que faz de mim
um cristão... eu devo vir a Cristo e tomar posse da minha parte pessoal naquilo
que Ele fez por todos. Este terceiro e todo-decisivo passo está comigo; Cristo
espera, pacientemente, até que eu abra a porta. Então, Ele entra... Uma vez que
eu tenha feito isso, eu posso, imediatamente, considerar-me como um cristão. A
recomendação logo segue: 'Conte a alguém o que você fez hoje'."[2]
Há muitas variações desse tipo de aconselhamento,
todavia elas tem em comum um elemento mecânico, assim como a repetição de uma
oração ou o preenchimento de um cartão, com o qual é assegurada a salvação ao
indivíduo. A Regeneração é, desse modo, reduzida a um procedimento que o homem
realiza. Que enorme contraste com a maneira pela qual Jesus tratava com os
pecadores. Ele não tinha nenhum processo instantâneo de salvação. Ele não
falava ao povo com uma apresentação estereotipada. Ele lidou com cada indivíduo
numa base pessoal. Nunca encontramos no Novo Testamento Cristo tratando com
duas pessoas da mesma maneira. É elucidativo comparar como Ele tratou
diferentemente com Nicodemos em João 3, e então com a mulher Samaritana em João
4.O aconselhamento precisa ser pessoal.
Existe uma série de outros problemas com um
aconselhamento mecânico. I. Murray advertiu para o fato de que na base desse
aconselhamento "um homem pode fazer uma profissão (de fé - N. do T.) sem
nunca ter tido quebrada sua confiança em suas próprias capacidades; ele pode nunca
ter ouvido da absoluta necessidade de uma mudança de natureza, o que não pode
acontecer por sua própria força, e conseqüentemente, se ele não experimenta uma
mudança radical assim, ele não fica preocupado. Ele nunca ouviu que isso é
essencial, por isso não vê razão para duvidar sobre sua condição de cristão.
Pelo contrário, a doutrina a que ele se submeteu, consistentemente, milita
contra essas mesmas dúvidas. É freqüente ouvir-se que um homem que fez uma
decisão, mesmo com pequena evidência de mudança de vida, pode ser um crente
'carnal' que necessite instrução sobre santificação; ou, se o mesmo indivíduo
vai gradativamente perdendo seus recém-achados interesses, a falha é
freqüentemente atribuída a falta de 'assistência', ou oração, ou alguma outra
deficiência da parte da Igreja. A possibilidade de que essas marcas de
mundanismo e de afastamento sejam atribuídas à ausência de uma experiência de
salvação real desde o princípio é raramente considerada. Se esse ponto for
levado em conta, então todo o sistema de apelos, decisões e aconselhamento vai
entrar em colapso, porque vai trazer à tona o fato de que a mudança de natureza
não está no poder do homem, e que leva muito mais do que algumas poucas horas
ou dias para se estabelecer se uma resposta professada ao Evangelho é genuína.
Mas, ao invés, de fazer isso é dito veementemente que duvidar que um homem que
'aceitou a Cristo' é um cristão verdadeiro, é o mesmo que duvidar da Palavra de
Deus, e que abandonar os 'apelos', e tudo o que vem com os mesmos, significa abandonar
o evangelismo totalmente."[3]
O aconselhamento da "Regeneração por
Decisão" produz estatísticas que impressionam qualquer cristão - até que
esse procure os assim chamados convertidos. Numa experiência de quebrantar o
coração quarenta desses "convertidos" foram contados, e somente uma
pessoa, dentre os quarenta, foi encontrada aparentando ser um cristão. Uma
mulher parece ter sido alcançada, no entanto, quais os efeitos do encontro nos
outros trinta e nove? Alguns dentre esses podem crer que seus destinos eternos
foram determinados por suas decisões, o que é uma confiança fatal, se não for
efetuada nenhuma transformação nos seus corações e vidas. Outros podem ter
concluído que experimentaram tudo o que o Cristianismo tem a oferecer. Falhando
em sentir ou ver qualquer mudança neles mesmos, eles se convencem de que o
Cristianismo é uma farsa e que aqueles que o sustentam são, ao mesmo tempo,
fanáticos auto-iludidos ou miseravelmente hipócritas.
Robert Dabney, um dos grandes teólogos do
século XIX, fez algumas observações muito pertinentes em relação à desilusão de
pessoas que têm sido aconselhadas a tomar uma decisão. Alguns desses
indivíduos, ele disse, "sentem que um truque cruel foi feito, com base na
sua inexperiência, pelos ministros e amigos do Cristianismo, ao fazê-los
confiar neles, na hora de sua confusão, levando-os a falsas posições, cujas
exigências eles não podem cumprir e efetivamente não as mantêm, levando-os a
sagradas profissões (de fé) as quais eles têm sido compelidos a repudiar
vergonhosamente. Seu respeito próprio é, portanto, ferido ao extremo, e seu
orgulho fica indignado ante sua exposição humilhante. Não é a toa que eles vêem
a religião e seus sustentadores, desde então, com suspeitas e ódio. Muitas
vezes seus sentimentos não param aí. Eles estão conscientes de que foram
totalmente sinceros em suas ansiedades religiosas e no momento das suas
resoluções, e que sentiram estranhas e profundas sensações. Mas sua amarga
experiência lhes têm dito que seu novo nascimento e sua experiência religiosa
foram no mínimo uma desilusão. Seria, pois, mais do que natural concluir que a
experiência de todos os outros é desilusão também? Eles dizem: 'a única
diferença entre eu mesmo e estes cristãos sinceros, é que eles ainda não
detectaram a charada como eu já o fiz. Eles não estão agora nenhum pouco mais
convencidos de sua sinceridade e da realidade de suas emoções do que eu mesmo
estive uma vez. Ainda que eu soubesse que não havia ocorrido nenhuma
transformação em minha alma; eu não creio que isso tenha ocorrido na deles.'
"Este é o processo de pensamento fatal pelo
qual milhares têm passado; até que a
nação seja salpicada ao redor por infiéis, que assim são feitos por sua própria
experiência de sentimentos religiosos. Eles talvez guardem para si mesmos a
maior parte de suas hostilidades porque o Cristianismo atualmente 'está por
cima'; mas eles não estão menos endurecidos contra a mensagem salvadora da
verdade."[4]
Dabney registrou essas palavras há cem anos
atrás, muito antes dos dias do
"evangelismo de massas" e campanhas super-organizadas. Se há cem anos
atrás a nação estava "salpicada ao redor por infiéis, que assim são feitos
por sua própria experiência de sentimentos religiosos espúrios", qual deve
ser a situação hoje? Esta é uma séria questão para todo cristão. Conduzir
homens, mesmo sinceramente, a uma falsa esperança será uma horrível condenação
para um cristão quando ele estiver diante do Deus Todo-Poderoso.
Fonte: Regeneração por Decisão, James
E. Adams –Editora Fiel
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