Deus
sempre tem tido um povo seu, através dos séculos, desde os tempos de Adão,
quando prometeu que uma futura Semente da mulher havia de ferir a cabeça da
Serpente. Adão, Seth, Noé e Abraão foram os primeiros destacados representantes
do povo de Deus. O povo escolhido, em todos os tempos, constitui a Igreja
visível, aqui no mundo. E sempre que Deus fazia um pacto com um dos
representantes do seu povo, incluía nele os filhos dos fiéis.
Deus fêz
um pacto de obras com Adão, que foi por este violado, trazendo, destarte, a
desgraça para todos os seus filhos e descendentes. O mal, todavia, foi
compensado pela promessa de um Salvador. Deus fêz outra aliança com Noé, válida
igualmente para a sua posteridade, pro-metendo-lhe não mais destruir os
viventes de sobre a face da terra por meio de um novo dilúvio. O arco-íris foi
jsscelhido para ser o sinal visível dessa aliança (Gen. 9:8-17).
No Monte
Sinai, Deus fêz uma aliança com o seu povo, na qual estavam incluídas as
criancinhas. Mais tarde, esse mesmo pacto foi renovado, nas planícies de Moab,
quando o povo de Israel estava para entrar na Terra Prometida. Nessa ocasião,
Moisés concita o povo a renovar a sua aliança com Jeová, nos seguintes termos:
"Guardai as palavras desta aliança, e cumpri-as, para que prospereis em
tudo quanto fizerdes. Vós estais hoje todos diante de Jeová, vosso Deus; ps
vossos cabeças, as vossas tribos, os vossos anciãos e os vossos oficiais, a
saber, todos os homens de Israel, os vossos pequeninos, vossas mulheres, e o
peregrino que está no meio dos vossos arraiais, desde o rachador de tua lenha
até o tirador da tua água (Deut. 29:9-11). Já se vê, por esta declaração de
Moisés, que, na lista dos agraciados pela aliança de Deus com o povo, foram
incluídos os pequeninos.
O mais
importante dos pactos que Deus fêz na antiguidade foi, sem dúvida, aquele
firmado com Abraão, o grande pai de todos os que crêem. E as criancinhas têm um
lugar proeminente nesse pacto. Ademais, teremos ocasião de ver que esse
concerto ainda está em vigor para nós, que somos os filhos espirituais de
Abraão.
Eis os
termos da aliança de Deus com Abraão: "Estabelecerei a minha aliança
entre mim e ti e a tua semente depois de ti" (Gen. 17:7). Abraão tinha
noventa e nove anos quando foi circuncidado (Gen, 17: 24) e isto em sinal da
sua justificação pela fé, já comprovada antes da sua circuncisão (Rom. 4:11).
"Recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve, quando
não era circuncidado; para que fosse êle pai de todos os que crêem, ainda que
não sejam circuncidados, a fim de que a justiça lhes fosse imputada; e fosse
também pai da circuncisão para aqueles que não somente são da circuncisão, mas
que também andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser
circuncidado".
Ismael tinha
treze anos, quando foi submetido ao rito da circuncisão (Gen. 17:25). Isaac
tinha apenas oito dias de idade, quando foi circuncidado (Gen. 21:4). Para que
uma pessoa se tornasse membro da congregação do povo de Deus naquele tempo, era
preciso que fosse circuncidada. As mulheres, as filhas, as esposas e todas as
crianças do sexo feminino, acompanhavam os pais, os irmãos e os esposos e eram
por eles representadas. Todos faziam parte do povo de Deus. O rito de iniciação
ou de ingresso na Igreja visível daquele tempo e de toda a Velha Dispensação
era a circuncisão, que era geralmente administrada aos meninos de oito dias de
idade (Gen. 17:12; Lev. 12:3; Luc. 2:21; Luc. 1:59; Eil. 3:5). Os adultos que
vinham de fora uniam-se ao povo de Deus, em virtude da sua própria fé, sendo
circuncidados, mas os meninos eram admitidos, pelo mesmo rito, em virtude da fé
professada pelos pais.
As
passagens acima citadas tornam bem claro que, desde os rempos antigos, Deus
determinou que as crianças, filhas de pais crentes, fizessem parte da sua
Igreja visível, aqui no mundo. Está, portanto, claramente estabelecida a origem
divina da inclusão dos pequeninos na Igreja de Deus. Veremos que esse direito
das criancinhas nunca lhes foi cassado. Sendo, pois, as crianças membros infantis
da Igreja, têm elas o direito ao smal exterior e visível dessa preciosa
realidade, que, na Antiga Dispensação, foi a circuncisão e na Nova, é o
batismo. Prossigamos com as provas bíblicas da nossa tese.
O batismo
é o rito de iniciação na Igreja Cristã, na dispensação da graça {At. 2:41). Ao
que nos consta, são somente os Irmãos de Plymouth (darpisras), entre os
cristãos evangélicos, os que contrariam esse conceito e não podiam deixar de o
fazer, desde que não admitem a existência de uma Igreja terrena e visível, como
essa que nós julgamos ter sido fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo e que
continua até hoje, porque as portas do inferno não podem prevalecer contra ela.
S. Lucas liga intimamente o batismo com a admissão das três mil pessoas que se converteram
pela palavra de S. Pedro. Em Atos 2:41, relata-nos o escritor que foram banzadas
e admitidas três mil pessoas e, logo em seguida, no versículo 42, refere-se à
doutrina, à comunhão e ao partir do pão, que uniam os neo-conversos aos seus
irmãos. Somos irresistivelmente levados a concluir que tinham sido admitidos à
comunhão dos santos, isto é5 à comunhão do povo de Deus, que
constimi a sua Igreja visível, no mundo. Somente uma interpretação arbitrária
poderia chegar a outra conclusão. Tomamos, pois, como provado que os
neo-convertidos dos tempos apostólicos eram admitidos à comunhão da Igreja pelo
rito do batismo.
O batismo
no Novo Testamento é denominado a circuncisão de Cristo (Col. 2:11, 12). Nessa
passagem, tanto o batismo como a circuncisão devem ter um sentido espiritual.
Referem-se à nova vida em Cristo. Dessa nova vida são símbolos o batismo com
água e a circuncisão carnal. Esses dois ritos representam a mesma coisa, como
teremos ocasião de provar mais detalhadamente. O batismo na Nova Dispensação
significa tudo quanto significava a circuncisão na Velha. E justo, pois,
concluir que a circuncisão foi substituída pelo batismo cristão.
Em nenhuma
parte do Novo Testamento encontramos qualquer passagem que exciua as crianças
da Igreja de Deus. Ora, sendo o batismo, na Nova Dispensação, o sinal de
inclusão na Igreja, segue-se que os filhos dos «entes, hoje, não têm menos
direito ao batismo do que tinham os filhos dos israelitas à circuncisão.
S. Pedro,
no dia de Pentecostes, confirma o direito das crianças por nós defendido.
Pregando o Evangelho a adultos capazes de compreender a sua mensagem e capazes
de crer, disse-lhes ser necessário que se arrependessem e fossem banzados em
nome de Jesus Cristo (At. 2:38). Não exigiu o arrependimento ou a íé por parte
das crianças, incapazes do exercício desses atos; não obstante, as incluiu na
lista dos beneficiados pelas bênçãos conferidas por meio das promessas de Deus
ao seu povo. Dirigindo a palavra aos pais crentes, disse-lhes: "Para vós
é a promessa e para vossos filhos, e para todos os que estão longe, a quantos
chamar o Senhor nosso Deus (At. 2:39).
A promessa
a que S. Pedro se refere é, sem dúvida, aquela que foi feita ao povo de Deus
por intermédio de Abraão e que se extende a todos os que crêem (Rom. 4:31, 13 e
17). Nós, os crentes, somos a descendência espiritual de Abraão e os herdeiros
das promessas que lhe foram feitas. E S. Paulo que no lo diz: "Justamente
como Abraão creu a Deus, e foidhe imputado para justiça; sabei, pois, que os
que são da fé, esses são filhos de Abraão. A Escritura, prevendo que Deus
justificaria os Gentios pc'a fé, de antemão anunciou as boas novas a Abraão:
"Em ri serão bem-avcnmradas todas as nações. Assim os que são da fc, são
bem-aven-turados com o fiel Abraão" (Gal. 3:6-9)- E no fim do mesmo
capítulo, S. Paulo afirma: "Se vós sois de Cristo, então sois semente de
Abraão, herdeiros segundo a promessa' (Gal. 3:29)- S. Pedro afirmava a mesma
verdade, quando dÍ2Ía aos três mil batizados no dia de Pentecostes: "A promessa
é para vós e para vossos filhos".
Em Efésios
2:11-16, encontramos ainda outra declaração categórica de que nós, os gentios,
fomos também incluídos na aliança da promessa feita aos da circuncisão:
"Portanto,
lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados
incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos
homens; que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade
d'Israei, e estranhos aos concertos da promessa, não rendo esperança, e sem
Deus no mundo. Mas
agora cm Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo
chegastes perto. Porque êle
é a nossa paz, o qual de ambos os povos fêz um; e, derribando a parede de
separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isro é, a lei
dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois
um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um
corpo, matando com ela as inimizades."
Ainda
mais: outro escritor inspirado nos qualifica de "herdeiros da
promessa" (Heb. 6:17). Se a promessa, e a aliança que Deus fêz com o seu
povo, é para nós e nossos filhos, estes estão incluídos entre os que constituem
a Igreja de Dccs c tem direito ao sinal visível desse privilégio.
Há quem afirme que S. Pedro se refere somente a filhos
adultos de crentes ern Ar. 2:39, mas assim não compreenderiam os ouvintes de
Pedro, que eram judeus convertidos, pois eles sabiam que a promessa a que êle
aludira era a mesma que Deus fizera a Abraão e aos seus descendentes e que,
portanto, incluiria os filhos menores de todos os crentes nas promessas.
Isaac, e muitos outros meninos de oito dias apenas, foram publicamente
incorporados ao povo de Deus, pela circuncisão.
Ê
significativo que S. Pedro mencione três classes de pessoas às quais se fêz a
promessa: (1) Vós; eram os adultos que ouviam a sua pregação, na maioria
judeus e prosélitos do judaísmo, crentes na religião do povo de Deus. (2) Vussos
filhos; isto é, os fiihos dos adeptos da religião de Deus. (3) Todos os
que estão longe, a quantos chamar o Senhor nosso Deus; isto é, os
demais eleitos de Deus. judeus e gentios, que haviam de aceitar o Evangelho no
futuro.
Os judeus,
na Antiga Dispensação, já estavam acostumados a incluir os filhos na Igreja
visível de Deus, pelo rito da circuncisão. Não podiam, portanto, interpretar as
palavras de S. Pedro, senão de modo a incluir os filhinhos na Igreja visível da
Nova Dispensação. Na Igreja, seriam incluídos us que ouviam e criam no
Evangelho, os seus filhos e todos os demais eleitos que viessem a ser
chamados por Deus para fazer parte do seu povo.
Os filhos
de cristãos no Novo Testamento são chamados santos, mesmo quando somente
um dos pais é crente. O apóstolo S. Paulo declara: "'O marido incrédulo é
santificado na mulher, e a mulher incrédula é santificada no irmão; de outra
maneira os vossos filhos seriam imundos, mas agora são santos" (I Cor.
7:14). São santificados os filhos em virtude da fé professada pelos pais. Para
S. Paulo, santos são os próprios membros da Igreja de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Êle escreveu várias cartas dirigidas aos santos, que eram
membros de diversas igrejas (I Cor. 1:2; Rom. 1:7; Ef. 1:1; HL 1:1). Concluímos
que os meninos, santos, filhos de crentes, são membros da Igreja e, por
isso mesmo, devem ser banzados.
Até aqui,
temos demonstrado, à luz das Escrituras, que o próprio Deus determinou fossem
as crianças incluídas na sua Igreja visível, desde o tempo de Abraão, e que
essa determinação divina não foi revogada, na Nova Dispensação, mas antes,
confirmada pelos claros ensinos dos apóstolos Pedro e Paulo. E, sendo as
crianças, por determinação divina, membros da Igreja de Deus, devem também
receber o sinal visível desse fato auspicioso, o santo batismo instituído por
Nosso Senhor Jesus Cristo (Mat. 28:19).
Fonte: Estudos Bíblicos sobre o Batismo de Crianças, Philippe Landes – Casa Editora
Presbiteriana.
difícil foi entender essa gramática...
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