A Morte da Morte na Morte de Cristo é uma obra polêmica , cujo intuito é mostrar , entre outras coisas , que a doutrina da redenção universal é antibíblica e destrutiva para o evangelho . Há muitos para quem , provavelmente, ela não se reveste de qualquer interesse . Aqueles que não vêem necessidade de precisão doutrinária e nem têm tempo para os debates teológicos que mostram haver divisões entre os chamados evangélicos , bem poderão lamentar esta edição . Outros poderão achar que o próprio som da tese de Owen é tão chocante que até mesmo se recusem a ler seu livro , mostrando assim seu preconceito causado por uma paixão pelas suas próprias suposições teológicas. Porém , esperamos que esta edição chegue às mãos de leitores dotados de espírito diferente . Hoje em dia há sinais de um renovado interesse pela teologia da Bíblia — uma nova disposição em submeter a teste as tradições , para pesquisar as Escrituras e para meditar sobre as questões da fé . É para quem compartilha dessa disposição que o tratado de Owen é dirigido, na crença de que nos ajudará em uma das mais urgentes tarefas que desafiam a cristandade evangélica atual — a recuperação do evangelho , ou melhor , o seu redescobrimento.
Esta última observação pode deixar alguns em atitude defensiva ; mas parece ser confirmada pelos fatos .
Uma das maneiras de declararmos a diferença entre o novo e o antigo evangelho é afirmar que o novo preocupa-se por demais em "ajudar " o homem — criando nele paz , consolo , felicidade e satisfação — e pouco demais em glorificar a Deus .
O antigo evangelho também prestava "ajuda " — mais do que o novo , na realidade . Mas fazia-o apenas incidentalmente — visto que sua preocupação primária sempre foi a de glorificar a Deus . Era sempre e essencialmente uma proclamação da soberania divina em misericórdia e juízo , uma convocação para os homens prostrarem-se e adorarem ao todo-poderoso Senhor de quem os homens dependem quanto a todo bem , tanto no âmbito da natureza quanto no âmbito da graça . Seu centro de referência era Deus , sem a mínima ambigüidade. Porém , no novo evangelho o centro de referência é o homem . Isso é a mesma coisa que dizer que o antigo evangelho era religioso de uma maneira que o novo evangelho não o é. Enquanto que o alvo principal do antigo era ensinar os homens a adorarem a Deus , a preocupação do novo parece limitar-se a fazer os homens sentirem-se melhor . O assunto abordado pelo antigo evangelho era Deus e os Seus caminhos com os homens ; e o assunto abordado pelo novo é o homem e a ajuda que Deus lhe dá. Nisso há uma grande diferença. A perspectiva e a ênfase inteiras da pregação do evangelho se alteraram.
Dessa mudança de interesses originou-se a mudança de conteúdo , pois o novo evangelho na realidade reformulou a mensagem bíblica no suposto interesse da prestação de "ajuda " ao homem . De acordo com isso , não são mais pregadas verdades bíblicas tais como a incapacidade natural do homem em crer , a eleição divina e gratuita como a causa final da salvação, e a morte de Cristo especificamente pelas Suas ovelhas . Essas doutrinas , segundo o novo evangelho , não "ajudam" o homem ; mas antes , contribuem para levar os pecadores ao desespero , sugerindo-lhes que eles não podem salvar-se, através de Cristo , pela sua própria capacidade . (Nem é considerada a possibilidade desse desespero ser salutar ; antes , é aceito como ponto pacífico que o mesmo não é saudável , visto que destro çaria a nossa auto-estima.) Sem importar exatamente como seja a questão (falaremos mais a esse respeito , mais adiante ), o resultado dessas omissões é que apenas uma parcela do evangelho bíblico está sendo pregada como se fosse a totalidade do mesmo ; e, uma meia-verdade que se mascara como se fosse a verdade inteira torna-se uma mentira completa . Assim , apelamos aos homens como se eles todos tivessem a capacidade de receber a Cristo a qualquer momento . Falamos sobre a Sua obra remidora como se Ele nada mais tivesse feito do que morrer para capacitar-nos a nos salvarmos, mediante o nosso crer . Falamos sobre o amor de Deus como se isso não fosse mais do que a disposição geral de receber qualquer um que queira voltar-se para Deus e confiar nEle. E retratamos o Pai e o Filho não como soberanamente ativos em atrair a Eles os pecadores , mas como se Eles se mantivessem em quieta impotência , "à porta do nosso coração ", esperando nossa per missão para entrar . É inegável que é dessa maneira que andamos pregando; e talvez seja assim que cremos. Porém , cumpre-nos dizer decisivamente que esse conjunto de meias-verdades distorcidas é algo totalmente diverso do evangelho bíblico. A Bíblia é contra nós , quando pregamos dessa maneira ; e o fato que tal pregação tornou-se a prática quase padronizada entre nós serve apenas para demonstrar quão urgente se tornou que revisássemos toda a questão .
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