quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

AS ESCRITURAS E CRISTO

Por A. W. Pink

         A ordem que seguimos nesta série é a ordem da experiência comum a todos. Não é senão quando o homem vem a ficar inteiramente insatisfeito consigo mesmo que começa a aspirar a Deus. A criatura decaída, iludida por Satanás, sente-se satisfeita consigo mesma até que os seus olhos, cegados pelo pecado, sejam abertos para que possa contemplar a si mesma. O Espírito Santo primeiramente insufla em nós o senso de nossa própria ignorância, vaidade, pobreza espiritual e depravação, antes que nos leve a perceber e a reconhecer que somente em Deus podem ser encontradas a verdadeira sabedoria, a bênção real, a bondade perfeita e a justiça imaculada. Nossa consciência precisa ser despertada para as nossas próprias imperfeições, antes que possamos apreciar de fato as perfeições divinas. E, quando as perfeições de Deus são contempladas, então é que o homem se torna ainda mais cônscio da infinita distância que o separa do Deus Altíssimo. Quando aprende algo sobre as prementes reivindicações de Deus sabre ele, e também sobre sua total incapacidade de satisfazer a essas reivindicações, é que fica capacitado para ouvir e para dar acolhida às boas novas de que Outro satisfez plenamente essas reivindicações, para todos quantos forem levados a depositar confiança nEle.
"Examinais as Escrituras", declarou o Senhor Jesus; e acrescentou: "... e são elas mesmas que testificam de Mim" (João 5:39). Sim, as Escrituras testificam acerca de Cristo como o Único Salvador dos pecadores que perecem, como o Único Mediador entre Deus e os homens, como o Único por intermédio de quem nos podemos aproximar de Deus Pai. Elas testificam, igualmente, acerca das admiráveis perfeições de Sua pessoa, das glórias variegadas de Seus ofícios, da suficiência de Sua Obra terminada. À parte das Escrituras, Cristo não pode ser conhecido. Somente por meio delas é que Ele é revelado.
Quando o Espírito Santo toma aquilo que pertence a Cristo e as mostra a Seu povo, dessa maneira tornando essas coisas conhecidas às almas remidas, não usa Ele outra coisa além daquilo que está escrito. E apesar de ser verdade que Cristo é a chave para a compreensão das Escrituras Sagradas, é igualmente verdadeiro que somente nas Escrituras nos é desvendado o "mistério de Cristo", sobre o qual se em Efésios 3:4.
Ora, a medida em que tiramos proveito de nossa leitura e estudo das Escrituras pode ser verificada pela extensão em que Cristo Se está tornando mais real e mais precioso para os nossos corações. O "crescimento na graça" é definido como um desenvolvimento "...na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (II Pedro 3:18). E na segunda cláusula não é acrescentado algo à primeira; antes, há uma explicação sabre a primeira cláusula. "Conhecer" a Cristo (Filipenses 3:10) era o supremo anseio e o grande alvo do apóstolo Paulo, um anelo e um alvo ao que ele subordinava todos os demais interesses. Mas, convém que prestemos toda a atenção, que o "conhecimento" referido nesses versículos não é o conhecimento intelectual, mas o espiritual, não é o teórico, mas o experimental, não é de natureza geral, e, sim, pessoal. Trata-se de um conhecimento sobrenatural, propiciado ao coração regenerado devido às operações do Espírito Santo, conforme Ele vai interpretando e aplicando em nós as passagens bíblicas concernentes a Cristo.
Ora, o conhecimento de Cristo que o bendito Espírito Santo outorga ao crente, por intermédio das Sagradas Escrituras, lhe é proveitoso de diferentes maneiras, de acordo com suas variadas situações, circunstâncias e necessidades. No tocante ao pão que Deus deu aos filhos de Israel, durante suas peregrinações pelo deserto, está registrado que eles "...colheram, uns mais, outros menos" (Êxodo 16:17). Outro tanto se dá no caso de nosso recebimento dAquele de quem o maná era um tipo simbólico. Existe algo, na admirável pessoa de Cristo, que se adapta exatamente a todas as nossas condições, a todas as nossas circunstâncias e a todas as nossas necessidades, tanto para o tempo como para a eternidade; no entanto, mostramo-nos lentos para perceber tal verdade, e mais lentos ainda para agir de conformidade com essa verdade.
Existe uma plenitude na pessoa de Cristo (João 1:16), e que é posta em disponibilidade para dela tirarmos proveito. E o princípio que regula a profundidade com que nos tornaremos fortes na "... graça que está em Cristo Jesus" (II Timóteo 2:1), é "Faça-se-vos conforme a vossa " (Mateus 9:29).

1. O indivíduo se beneficia do estudo das Escrituras quando elas lhe revelam a sua necessidade de Cristo.
O homem, em seu estado natural, se considera auto-suficiente. Naturalmente que ele tem uma apagada percepção de que nem tudo está perfeitamente certo entre ele mesmo e Deus; no entanto, não tem dificuldade alguma para persuadir a si próprio de que é capaz de fazer aquilo que propicie a Deus. Isso faz parte do fundamento mesmo da religião de todo o homem, e que teve início em Caim, e em cujo "caminho" (Judas 11) as multidões continuam andando. Basta que se diga ao homem religioso comum que "... os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Romanos 8:8), para que esse homem se sinta imediatamente ofendido. E basta que se pressione sabre ele o fato de que "... todas as nossas justiças (são) como trapo de imundícia" (Isaías 64:6), para que sua urbanidade hipócrita imediatamente lugar à ira. Assim acontecia nos dias em que Cristo estava na terra. O povo mais religioso de todos, os judeus, não tinha qualquer senso de que eles estavam "perdidos", como também da urgente necessidade de um Salvador Todo-poderoso.
"Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes" (Mateus 9:12). Faz parte do oficio específico do Espírito Santo, mediante a Sua aplicação das verdades bíblicas, o convencer os pecadores de sua desesperadora situação, para que assim possam perceber que o seu estado é tal que "Desde a planta do até à cabeça não há nele cousa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo" (Isaías 1:6). Mas, na proporção em que o Espírito nos convence de nossos pecados – de nossas ingratidões contra Deus, de nossas murmurações contra Ele, de nosso afastamento para longe dEle – e à medida em que nos impressiona com as reivindicações de Deus – os direitos que Ele tem ao nosso amor, à nossa obediência e à nossa adoração bem como de nossas tristes e fracassadas tentativas de prestar-Lhe aquilo que Lhe devemos, então somos levados a reconhecer que Cristo é a nossa Única esperança, e que, a menos que nos abriguemos nEle, qual refúgio, a justa indignação de Deus mui certamente haverá de cair sobre nós.
Entretanto, não devemos limitar isso à experiência inicial da conversão. Quanto mais o Espírito Santo aprofunda a Sua obra graciosa na alma regenerada, tanto mais o indivíduo se torna cônscio de sua própria corrupção, de sua pecaminosidade e de sua vileza; e percebe ainda mais a sua necessidade de dar valor àquele precioso sangue que o purifica de todo pecado. O Espírito Santo está aqui a fim de glorificar a Cristo; e uma das principais maneiras pela qual Ele faz isso é abrindo mais e mais os olhos daqueles em favor de quem Cristo morreu, para que percebam quão apropriado é Ele para criaturas tão miseráveis, tão imundas, tão merecedoras do inferno. Sim, quanto mais verdadeiramente tiramos proveito de nossa leitura das Escrituras, tanto mais sentimos que precisamos de Cristo.

2. O indivíduo se beneficia das Escrituras quando elas tornam Cristo mais real para ele.
A grande massa da nação israelita nada mais via senão a casca externa, nos ritos e cerimônias que Deus lhes deu para que os observassem; mas um remanescente regenerado teve o privilégio de contemplar o próprio Cristo. "Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se... ", declarou o Senhor Jesus, em João 8: 56. Moisés "... considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito... " (Hebreus 11:26).
Outro tanto ocorre na cristandade. Para as multidões, Cristo é apenas um nome, ou, quando muito, um caráter histórico. Esses não têm contatos pessoais com Ele, não desfrutaram de qualquer companheirismo espiritual com Ele. Se porventura ouvirem alguém falar, arrebatado, sobre as excelências de Sua pessoa, haverão de considerá-lo um entusiasta ou um fanático. Para tais indivíduos, Cristo é irreal, vago, intangível. No caso do crente autêntico, todavia, a atitude é inteiramente outra. A linguagem de seu coração é:
Tenho ouvido a voz de Jesus.
Para mim, Ele é perfeito.
Tenho visto a face de Jesus,
Minha alma ficou satisfeita.
Contudo, essa visão bem-aventurada não é a experiência constante e invariável dos santos. Assim como as nuvens se interpõem entre o sol e a terra, assim também as falhas, em nosso andar diário, interrompem a nossa comunhão com Cristo e servem para ocultar de nós o resplendor de Sua face. "Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado por Meu Pai, e Eu também o amarei e Me manifestarei a ele" (João 14:21). Sim, é aquele que, pela graça, palmilha pela senda da obediência, que recebe as manifestações conferidas pelo próprio Senhor Jesus. E quanto mais freqüentes e prolongadas forem essas manifestações, mais real Ele se torna para a alma, até sermos capazes de dizer juntamente com Jó: "Eu te conhecia de ouvir, mas agora os meus olhos Te vêem" (Jó 42:5). Assim, pois, quanto mais Cristo for Se tornando uma realidade viva para mim, mais tirarei proveito da Palavra.

3. O indivíduo se beneficia das Escrituras quando se ocupa das perfeições de Cristo.
É o senso de necessidade que lança a alma aos braços de Cristo, no princípio; mas é a percepção de Suas excelências que nos faz achegarmo-nos a Ele, desde então. Quanto mais real Cristo Se torna para nós, tanto mais vamos sendo atraídos pelas Suas perfeições. No começo Ele é visto apenas como Salvador; mas, na proporção em que o Espírito Santo continua a destacar diante de nossos olhos aquilo que pertence a Cristo, descobrimos que sobre a Sua cabeça há "... muitos diademas... " (Apocalipse 19:12). Desde a antigüidade que foi dito: "... e o seu nome será: Maravilhoso... " (Isaías 9:6). E o nome de Cristo significa tudo quanto dEle as Escrituras dão a conhecer. "Maravilhosos" são os Seus ofícios, quanto ao seu número, quanto à sua variedade e quanto à Sua suficiência. Ele é o Amigo que nos é mais chegado do que um irmão, que nos ajuda em cada momento de necessidade. Ele é o grande Sumo Sacerdote, que Se deixa comover diante das nossas debilidades. Ele é o nosso Advogado junto a Deus Pai, o qual nos faz a defesa quando Satanás nos acusa.
Nossa grande necessidade é ocuparmo-nos com Cristo, assentarmo-nos a Seus pés, conforme fez Maria, recebendo assim de Sua plenitude. Nosso principal deleite deve ser considerar ". . . atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus" (Hebreus 3:1); deve ser contemplar as várias relações que Ele mantém para conosco, meditar acerca das muitas promessas que Ele nos tem feito, demorarmo-nos na contemplação de Seu admirável e imutável amor por nós. Ao fazermos assim, haveremos de deleitar-nos no Senhor de tal modo que as vozes de sereia deste mundo perderão todo o seu encantamento em nosso caso.
Ah, prezado amigo, você conhece experiência assim, em sua vida diária? Cristo é, para a sua alma, o principal entre dez milhares? Conquistou Ele o seu coração? Sua principal alegria é ficar sozinho com Ele, a conversar com o Senhor? Caso contrário, a sua leitura e o seu estudo da Bíblia bem pouco lhe tem aproveitado.

4. O indivíduo se beneficia das Escrituras quando Cristo se torna mais precioso para ele.
Cristo é precioso na estima de todos os crentes  (I Pedro 2:7). Esses consideram todas as coisas como perda, em face da excelência do conhecimento de Cristo Jesus, seu Senhor (Filipenses 3:8). O nome dEle, para eles, é um ungüento derramado (Cantares 1:3). Assim como a glória de Deus, que aparecia em beleza indescritível, no templo, bem como na sabedoria e no resplendor da corte de Salomão, atraía adoradores desde as regiões mais distantes da terra, assim também a excelência sem paralelos de Cristoali prefigurada – atrai ainda mais poderosamente os corações de Seu povo. O diabo sabe disso perfeitamente bem, pelo que ele também procura enegrecer as mentes daqueles que não crêem, colocando entre eles e Cristo as atrações deste mundo. E Deus permite ao diabo assediar igualmente ao crente. Entretanto, está escrito: "...resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tiago 4:7). Devemos resistir-lhe mediante oração definida e sincera, rogando ao Espírito Santo que incline as nossas afeições para Cristo.
Quanto mais nos ocuparmos com as perfeições de Cristo, mais haveremos de amá-Lo e de adorá-Lo. É a falta de familiaridade experimental com Ele que faz nossos corações se tornarem tão frios para com Ele. Mas, sempre que uma comunhão real e diária é cultivada, o crente será capacitado a dizer junto com o salmista: "Quem mais tenho eu no Céu? Nãooutro em quem eu me compraza na terra" (Salmo 73:25). Essa é a própria essência e a natureza distinta do verdadeiro cristianismo. Os zelotes legalistas talvez se ocupem atarefadamente em dizimar a hortelã, o endro e o cominho, e talvez percorram mares e terras para fazer um prosélito, e contudo não têm amor a Deus, em Cristo. Deus olha para o coração: "Dá-me, filho meu, o teu coração... " (Provérbios 23:26) é a Sua exigência. E quanto mais precioso Cristo é para nós, tanto maior é o deleite que Ele tem em nós.

5. O indivíduo que tira proveito das Escrituras tem uma confiança crescente em Cristo.
Há "pequena " (Mateus 14:31) e também há "grande " (Mateus 8:10). Há também a "plena certeza de ", segundo se em Hebreus 10:22, comotambém o confiar no Senhor de todo o "coração", conforme se em Provérbios 3:5. Assim como há o crescimento que vai "... de força em força... " (Salmo 84:7), assim também lemos em subir "... de em ... " (Romanos 1:17). Quanto mais forte e mais constante for a nossa , tanto mais o Senhor Jesus será honrado. Até mesmo a leitura apressada dos quatro evangelhos revela o fato de que coisa alguma agradava tanto ao Salvador como a firme dependência que aqueles que permaneceram em Sua companhia demonstraram ter dEle. O próprio Cristo viveu e andou pela , e quanto mais o fizermos, mais estaremos sendo transformados em Sua imagem, como os membros para com a Sua cabeça. Acima de tudo há uma coisa que deve ser nosso alvo, e que devemos buscar diligentemente, através de oração intensa: que a nossa aumente. Paulo foi capaz de dizer: "... a vossa cresce sobremaneira... " (II Tessalonicenses 1:3).
Ora, ninguém pode confiar em Cristo, a menos que seja Ele conhecido; e quanto melhor for Ele conhecido, tanto mais confiaremos nEle: "Em Ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome, porque Tu, SENHOR, não desamparas os que te buscam" (Salmos 9:10). Na proporção em que Cristo Se vai tornando mais real para nossos corações, e na medida em que nós vamos crescentemente nos ocupando com Suas multiformes perfeições e Ele se torna mais e mais precioso para nós, a confiança em Sua pessoa se vai acentuando de tal maneira que chega a ser natural confiarmos nEle, como natural é o respirar. A vida cristã é um "andar" de (II Coríntios 5:7), e essa própria expressão denota um progresso contínuo, o livramento crescente de todas as dúvidas e temores, a mais ampla certeza de que tudo quanto Ele prometeu haverá de cumprir.
Abraão é o pai de todos aqueles que crêem, pelo que também o registro de sua vida terrena fornece-nos a indicação do que significa ter uma confiança dependente no Senhor. Primeiramente, ante a simples palavra divina Abraão voltou as costas para tudo quanto lhe era caro na carne. Em segundo lugar, ele partiu dependendo simplesmente de Deus, e habitou como estrangeiro e forasteiro na Terra da Promessa, onde jamais possuiu um simples acre de área. Em terceiro lugar, quando foi feita a promessa de que geraria um filho em sua idade avançada, ele não levou em conta os obstáculos que pareciam impedir a concretização dessa promessa. Finalmente, quando lhe foi ordenado que oferecesse a Isaque em sacrifício, par meio de quem aquelas promessas deveriam concretizar-se, ele considerou que Deus era capaz de até mesmo "ressuscitá-lo dentre os mortos''  (Hebreus 11:19).
Na história de Abraão nos é demonstrado como a graça é capaz de subjugar um maldoso coração cheio de incredulidade, como o espírito pode ser vitorioso sabre a carne, como os frutos sobrenaturais de uma dada e sustentada por Deus podem ser produzidos por um homem de paixões semelhantes às nossas. Tudo isso foi registrado visando ao nosso encorajamento, para que oremos a fim de que o Senhor Se agrade por operar em nós aquilo que Ele operou no pai dos fiéis e através dele. Nãooutra coisa que tanto agrade, honre e glorifique a Cristo do que a confiança nEle, do que a confiança que espera, do que a similar à de uma criança, da parte daqueles para quem Ele deu todos os motivos para nEle confiarem de todo o coração. E não existe outra coisa que tanto evidencie o fato de que estamos sendo beneficiados pelas Escrituras do que a nossa crescente em Cristo.

6. O indivíduo se beneficia das Escrituras quando estas geram nele o profundo desejo de agradar a Cristo.
"Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo" (I Coríntios 6:19,10). Esse é o primeiro grande fato que os crentes precisam aprender. Desse ponto em diante é mister que os crentes "... não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (II Coríntios 5:15). O amor se deleita por agradar a seu objeto, e quanto mais os nossos afetos se voltam para Cristo, mais haveremos de desejar honrá-Lo mediante uma vida de obediência à Sua vontade conhecida. "Se alguém me ama, guardará a Minha palavra. . ." (João 14:23). Não é com emoções felizes e nem em profissões ou devoções verbais, e, sim, na aceitação real do jugo de  Cristo, quando nos submetemos de maneira prática a Seus preceitos, que o Senhor Jesus é verdadeiramente honrado.
É particularmente neste ponto que a genuinidade de nossa profissão cristã pode ser testada e provada. Temos nós real em Cristo se porventura não fazemos qualquer esforço para aprender a Sua vontade? Que desprezo para um rei se os seus súditos se recusassem a ler as suas proclamações! Sempre que houver em Cristo haverá também o deleite em Seus mandamentos, bem como a tristeza quando qualquer um deles é desobedecido por nós. Quando desagradamos a Cristo, cumpre-nos lamentar tão grande falha. É impossível crer seriamente que foram os meus pecados que levaram o Filho de Deus a derramar o seu precioso sangue, se eu mesmo não odiar esses pecados. Se Cristo gemeu sob o peso do pecado, igualmente nós devemos gemer. E quanto mais sinceros forem esses gemidos, mais intensamente deveremos buscar a graça para ser libertos de tudo quanto desagrada a nosso bendito Redentor, e para ser fortalecidos e capacitados a fazer o que Lhe agrada.

7. O indivíduo se beneficia das Escrituras quando estas fazem-no ansiar pelo retorno de Cristo.
O amor não pode satisfazer-se com qualquer coisa menos que a vista do objeto amado. É verdade que até mesmo agora contemplamos a Cristo pela , contudo, fazemo-lo "como em espelho, obscuramente." Porém, por ocasião de Sua vinda, haveremos de contemplá-Lo "... face a face... " (I Coríntios 13:12). Naquela oportunidade é que se cumprirão as palavras de Cristo: "Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo" (João 17:24). Somente isso cumprirá perfeitamente os anelos de Seu coração, e somente isso satisfará os anseios daqueles que foram remidos por Ele. E somente então é que Ele "... verá o fruto do penoso trabalho da sua alma, e ficará satisfeito... " (Isa. 53:11). "Eu, porém, na justiça contemplarei a tua face; quando acordar eu me satisfarei com a Tua semelhança" (Sal. 17:15).
Por ocasião da volta de Cristo liquidaremos a conta com o pecado para todo o sempre. Os eleitos foram predestinados a serem conformados segundo a imagem do Filho de Deus, e esse propósito divino será concretizado quando Cristo receber para Si mesmo o Seu povo.
"Sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-Lo como Ele é" (I João 3:2). Nunca mais se interromperá a nossa comunhão com Ele, nunca mais gemeremos e nos lamentaremos por causa de nossa corrupção no íntimo: nunca mais seremos assaltados pela incredulidade. Mas Ele apresentará a Si mesmo a Sua igreja, como "... igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito" (Efésios 5:27). Estamos aguardando ansiosamente par aquela hora. Esperamos amorosamente pelo nosso Redentor. E quanto mais anelarmos por Aquele que vem, mais haveremos de preparar as nossas lâmpadas, em ardente expectação pela Sua vinda, e mais daremos evidências de que estamos nos beneficiando espiritualmente de nosso conhecimento da Palavra.
Que tanto os ouvintes como o orador se perscrutem honestamente, na presença mesma de Deus. Busquemos as respostas verazes para as perguntas seguintes: Temos um senso mais profundo de nossa necessidade de Cristo? Para nós, Cristo está Se tornando uma realidade viva cada vez mais resplendente? Estamos encontrando um crescente deleite em nos ocuparmos na contemplação de suas perfeições? O próprio Cristo está Se tornando mais e mais precioso para nós, a cada dia? A nossa em Sua pessoa está crescendo de tal modo que confiamos nEle quanto a tudo? Estamos realmente procurando agradá-Lo, em todos os detalhes de nossa vida? Estamos anelando tão ardorosamente por Ele que ficaríamos invadidos de júbilo se soubéssemos com certeza que Ele voltaria dentro das próximas vinte e quatro horas?
Que o Espírito Santo sonde os nossos corações com essas incisivas perguntas!

Fonte: A. W. Pink, enriquecendo-se com  a  Bíblia, editora Fiel.