terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O QUE DEVEMOS CONHECER DE DEUS?


Por João Calvino

Como a Majestade de Deus ultrapassa em si a capacidade do entendimento humano e inclusive é incompreensível para este, devemos adorar sua grandeza antes que examiná-la para não sermos comple-tamente abrumados com tão grande claridade.

Por isso devemos buscar e considerar a Deus em suas obras, às quais a Escritura chama, por esta razão, "manifestações das coisas invisíveis", pois nos manifestam o que, de outro modo, não podemos conhecer do Senhor.

Não se trata agora de especulações vãs e frívolas para manter nosso espírito em suspense, senão de algo que necessitamos saber, que é alimento e que confirma em nós uma autêntica e sólida piedade, quer dizer, a fé unida ao temor. Contemplemos, pois, neste universo a imortalidade de nosso Deus, de quem procede o princípio e origem de tudo o que existe; seu poder que criou num tão grande conjunto e agora o sustenta; sua sabedoria que compôs e governa uma variedade tão grande e tão diversa segundo uma ordem deliciosa; sua bondade que tem sido em si mesma causa de que tenham sido criadas todas estas coisas e de que agora subsistam; sua justiça que se manifesta de um modo maravilhoso na proteção dos bons e no castigo dos maus; sua misericórdia que, para mover-nos ao arrependimento, suporta nossas iniqüidades com grande doçura.

Certamente que este universo nos ensinaria, na medida que o necessitamos, e com abundantes testemunhos, como é Deus; mas somos tão rudes que estamos cegos ante uma luz tão brilhante. e nisto não pecamos só pela nossa cegueira, senão que nossa perversidade é tão grande que, ao considerar as obras de Deus, tudo o entende mal e erradamente , tergiversando por completo toda a sabedoria celestial que, muito pelo contrário, resplandece nelas com grande clareza.

Temos, pois, que deter-nos na Palavra de Deus que nos descreve a Deus de um modo perfeito pelas suas obras. Nela se julgam suas obras não segundo a perversidade de nosso juízo, senão segundo a regra da eterna verdade. Ali aprendemos que nosso único e eterno Deus é a origem e fonte de toda vida, justiça, sabedoria, poder, bondade e clemência; que dEle procede, sem exceção alguma, todo bem; e que, portanto, a Ele se deve com justiça todo louvor.

E embora todas estas coisas aparecem claramente em qualquer parte do céu e da terra, em definitiva só a Palavra de Deus nos fará compreender sempre e com toda verdade o fim principal para o qual tendem, qual é seu valor, e em que sentido devemos interpretá-las. Então aprofundaremos em nós mesmos e aprenderemos como manifesta o Senhor em nós sua vida, sua sabedoria, seu poder; e como operam em nós sua justiça, sua clemência e sua bondade.

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Fonte: Breve Instruccion Cristiana, FELiRe, 1ª parte.

EMPECILHOS À ORAÇÃO


Por E. M. Bounds

Orar certo é estar certo, agir certo e viver certo. Tudo que impede oração impede santidade. Quando tudo que nos impede de orar certo for removido, o caminho estará aberto para um rápido avanço na vida espiritual. Se pudéssemos contar, dia por dia, as orações que não alcançam resultado algum, que não beneficiam o homem, nem influenciam a Deus, ficaríamos pasmados ao ver os números.

Precisamos de homens e mulheres que possam alcançar a Deus e receber amplamente das suas reservas inesgotáveis. A igreja é profundamente afetada pelo materialismo da sua época. Os interesses da terra excluem os do céu, o tempo eclipsa a eternidade, um ousado e ilusório humanitarismo destrói a adoração, e a compreensão essencial de Deus é deturpada.

Homens e mulheres que saibam orar, e que possam projetar Deus e suas divinas instituições na terra com eficiência redentora, são nossa única saída. A igreja poderá caminhar com triunfo às suas conquistas finais sem possuir riqueza, tendo que enfrentar pobreza ou desprezo, ou sendo desacreditada pelo mundo e rejeitada pela cultura e sociedade; mas sem homens e mulheres que saibam orar, não conseguirá derrotar nem o inimigo mais frágil, nem ganhar um único troféu para seu Senhor.

Pode fechar seus redutos de aprendizagem, seus oradores eloqüentes podem ser silenciados para sempre, mas suas orações serão ainda mais potentes do que seu conhecimento ou eloqüência, e lhe assegurarão as mais gloriosas conquistas. Ela pode perder tudo, menos a oração da fé, e isto lhe será mais poderosa do que a vara de Arão para criar agências ou ministérios eficazes e gerar resultados tremendos. Por trás de um ministério santo e cheio de zelo e paixão tem de haver oração que prevalece, e que traga consigo um glorioso Pentecoste.

Pecado Impede Oração

"Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido" (Salmo 66.18). Os pecados do coração que não são rejeitados, ou que não estamos lutando para vencer, interrompem a oração. Oração não pode fluir do coração que nutre ou protege o pecado, que abriga pecado de qualquer espécie. O pensamento rebelde ou insensato é pecado; o olhar de cobiça ou lascívia do coração é pecado. Temos de clamar a Deus de um coração puro.

"Mãos santas" devem ser levantadas em oração. Uma mancha na mão é tão fatal para impedir a oração quanto o pecado no coração. A pessoa que ora precisa estar certa no seu coração, mas suas ações também precisam estar certas. Guardar os mandamentos de Deus e fazer o que lhe agrada nos dá segurança de que receberemos o que pedirmos dele. Pecados escondidos, ocultos por parcialidade ou por hábito, retidos por indulgência, contemporização, ou ignorância deliberada; estas coisas, como o lagarto no botão ou veneno no sangue, destruirão a flor e a vida da oração.

Orgulho Impede Oração

O orgulho em alguma forma é inerente a todos nós. Nenhuma criatura tem tantas razões para ser humilde quanto o homem; nenhuma, possivelmente, possui tantas fontes de orgulho. O orgulho destrói a humildade, gera vaidade, transfere fé em Deus para fé em si mesmo. Existe no orgulho tal senso de estar completo em si mesmo que destrói a base da oração. Sua sensação constante é: "Estou cheio e não preciso de mais nada".

O orgulhoso ora, talvez até regularmente, mas é oração de fariseu, um desfile do ego, um catálogo de bondade própria. O orgulho se esconde sob o disfarce de gratidão a Deus, louvando a Deus usando incenso do altar do ego. O orgulho se manifesta no desfile das nossas obras religiosas, na exibição de realizações, sejam religiosas ou não.

A oração precisa nascer lá de baixo. O orgulho procura os lugares mais altos, e nunca pode ser encontrado nos lugares humildes onde a oração é incubada. As asas da oração devem ser cobertas de pó. O orgulho despreza o pó da humildade, e cobre suas asas com o brilho e ouro do ego. O vazio da vaidade, o egoísmo de pensamentos centrados em si mesmo e de conversas que exaltam a própria pessoa são todos empecilhos à oração, porque declaram a presença do orgulho. Deus, de acordo com o apóstolo, resiste ao orgulho, e dispõe todos seus exércitos contra ele.

Um Espírito Que Não Perdoa

Nutrir um espírito que não perdoa impede à oração. Vingança, retaliação, um espírito inclemente, a ausência de tolerância, a falta de um espírito de misericórdia plena e total para com todos que tiverem de qualquer forma ou em qualquer medida nos prejudicado, impede a oração. Não avançaremos um centímetro enquanto não reconhecermos estes sentimentos e não pudermos declarar com sinceridade: "Perdoa-me, Deus, da mesma forma como perdôo aos outros". Quando deixamos de aplicar misericórdia a todos os males que já foram praticados contra nós, estamos automaticamente condenando nossa capacidade de orar.

Podemos orar com ira no nosso coração, mas este tipo de oração torna-se pecado. Todos estão sujeitos diariamente a serem feridos naquelas áreas onde são mais sensíveis. Porém, ter uma atitude de vingança ou desafeto para com a pessoa que causou tal ferida, congela a capacidade de orar. O espírito de perdão é como o espírito do evangelho, e este espírito precisa reinar no coração antes que a verdadeira oração possa proceder dos lábios.

Discórdia no Lar

A vida no lar, sua paz e união, afeta a oração. Discórdia no lar impede a oração. O apóstolo exorta às esposas e aos maridos para viverem no mais puro amor e mais doce união, para que suas orações não sejam impedidas. Confusão numa fonte de águas quebra a serenidade da superfície, e o fluir calmo e pacífico da corrente. Uma discórdia familiar quebra e separa todos os fios trançados que formam a oração.

Um Espírito Mundano

Um espírito mundano impede a oração. O mundo tem um efeito mais negativo sobre a oração do que todas as águas poluídas e infestadas de um brejo teriam sobre a saúde. Obscurece a visão para cima, anula os impulsos espirituais, e corta as asas das aspirações. "Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres" (Tiago 4.3).

Nossas cobiças, como remanescente da mente carnal que ainda permanece em nós, são o elo que nos prende ao mundo. São a cidadela, ou as fortalezas de fronteira, das quais nosso inimigo, o mundo, ainda não foi expulso. Oramos, mas não recebemos porque o mundo dentro de nós corromperia todas as respostas.

Um coração puro, ou alguém que anseie pela pureza, é o único que pode ser confiado com respostas à oração. Enquanto nossas cobiças têm permissão para ficar, contaminam nosso alimento espiritual. Inspiram e tingem todas nossas orações com desejos mundanos. Para alcançar a Deus e receber algo dele, é absolutamente imprescindível que se esteja morto para o mundo. Se quisermos que Deus abra seus ouvidos para nós, precisamos ter nossos ouvidos fechados para o mundo.

Um coração impregnado, ou contaminado por mínimo que seja com o mundo, não conseguirá subir em direção a Deus assim como uma águia com asas quebradas não consegue subir em direção ao sol. O homem que Tiago descreve como uma onda do mar, impelido e agitado pelo vento (Tg 1.6), é o homem de espírito mundano, cujas energias espirituais e decisões são quebradas pelas influências e infusões do mundo. Ele tem ânimo dobre, metade para Deus e metade para o mundo, ora para o céu, ora para a terra. "Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa" (Tiago 1.7).

Falta de santidade, impaciência, ou qualquer outro espírito, pensamento, sentimento ou ação que não esteja em harmonia com o Espírito de Deus, impedirá a oração. Uma fé perturbada por dúvidas, ou que desfalece por cansaço ou fraqueza, não alcançará resultados na oração. Os elementos que enfraquecem os nervos e músculos espirituais para as grandes lutas impedirão a oração.

Precisamos de homens e mulheres que vivam onde todos os empecilhos à oração foram removidos – pessoas cuja visão espiritual foi inteiramente purificada de névoas, nuvens e escuridão, guerreiros que tem carta branca de Deus e nervos espirituais firmes para usar esta carta a fim de suprir cada necessidade espiritual.

Extraído de "Prayer and Revival" (Oração e Avivamento) por E. M. Bounds com Darryl King. Copyright 1993 por Baker Book House Company, Grand Rapids, Michigan, E.U.A.

MINHA VIDA É DIFERENTE?


Por M. Lloyd Jones

«. . . desde que Jesus entrou no meu coração. . .»

Minha fé cristã influi em minha idéia da vida e a dirige em todos os aspectos? Declaro-me cristão e seguidor da fé cristã; a pergunta que agora me faço é: «Será que essa minha fé cristã afeta meu conceito da vida, no todo e nos pormenores? Ela está sempre determinando a minha reação e a minha resposta às coisas específicas que acontecem?» Ou então, podemos colocar a questão assim: «Está claro e óbvio para mim e para toda gente que toda a minha abordagem da vida, a minha concepção essencial da vida, em geral e em particular, difere completamente da do que não é cristão?» É preciso que o seja.

O Sermão da Montanha começa com as bem-aventuranças. Estas descrevem pessoas totalmente diversas de todas as demais, tão diferentes como a luz das trevas, tão diferentes como o sal da putrefação. Se, pois, somos dife¬rentes no essencial, temos que ser diferentes em nossa maneira de ver todas as coisas e em nossa reação a tudo que sucede. Não conheço melhor indagação que uma pessoa possa fazer a si própria, em quaisquer circunstâncias, do que essa. Quando lhe sobrevier algo que o transtorne, pergunte-se: «Minha reação é essencialmente diversa do que seria se eu não fosse cristão?» Lembremo-nos do ensino. . . que consta no final do capítulo cinco do Evangelho (segundo Mateus).

Você decerto lembra que nosso Senhor colocou a questão em termos como estes: «Se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis mais do que os outros?» E isso. Cristão é aquele que faz «mais do que os outros». É aquele que é absolutamente diferente. E, se em cada detalhe de sua vida, não penetrou este seu cristianismo, você é um cristão de tipo muito inferior, é um homem de «pequena fé».

Studies in the Sermon on the Mount, ii, p. 139,40.

domingo, 26 de dezembro de 2010

O QUE SIGNIFICA GLORIFICAR A DEUS?


Por John Piper

Podemos embelezar a Deus? A Bíblia é clara como cristal: Deus nos criou para a sua glória. Assim diz o Senhor: “Trazei meus filhos de longe e minha filhas das extremidades da terra, e todos os que são chamados pelo meu nome, que  eu criei para minha glória” (Is 43,6,7). A Vida é desperdiçada quando não vivemos para a glória de Deus. E eu quero dizer TODA A VIDA. É tudo para sua glória. É por isso que a Bíblia entra nos detalhes de comer e beber: “Quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Nós desperdiçamos a vida quando não entrosamos Deus em nosso comer e beber e todas as outras partes, apreciando-o e demonstrando-o.

O que significa glorificar a Deus? Isso pode pegar uma guinada perigosa se não tivermos cuidado. Glorificar é como a  palavra embelezar. Mas embelezar geralmente tem o sentido de “fazer uma coisa ficar mais bela do que é”, melhorar sua beleza. Isso não é de modo algum o que queremos dizer com glorificar a Deus. Não se pode tornar Deus mais glorioso ou mais lindo do que ele já é. Ele não pode ser melhorado, “nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse” (At 17.25). GLORIFICAR – não significa acrescentar mais glória a Deus.

É mais como a palavra MAGNIFICAR. Mas aqui também podemos ir em direção errada. MAGNIFICAR tem dois sentidos distintos. Em relação a Deus, um é adoração e um é maldade. Pode-se magnificar , aumentar como telescópio ou um microscópio. Quando você aumenta como um microscópio, você faz uma coisa minúscula parecer maior do que é. Uma partícula de pó pode parecer um monstro. Fingir aumentar Deus assim é iniqüidade. Mas quando você magnífica, amplia como um telescópio, você faz uma coisa inimaginavelmente grande parecer o que na verdade é. Com o Telescópio Espacial Hubble ( e seus sucessores), galáxias que são pontinhos de luz no céu se revelaram como os gigantes de bilhões de estrelas que são realmente. Magnificar a Deus desse modo é adoração.

Nós desperdiçamos a vida quando não oramos e pensamos e sonhamos e planejamos e trabalhamos na direção de magnificar Deus em todas as esferas da vida. Deus nos criou para isso: para vivermos de um modo tal que faça parecer mais com a grande beleza e valor infinito que ele realmente é. No céu noturno do ambiente deste mundo Deus parece para a maioria das pessoas, se é que o vêem, como um pontinho de luz num céu de trevas. Mas ele nos criou e chamou para fazê-lo parecer como  Ele REALMENTE é. É o que significa ser criado à imagem de Deus. A intenção foi que em nossa imagem comunicaríamos para o mundo como ele realmente é.

O DESÍGNIO E A CAUSA DA SALVAÇÃO



Por Calvin Gardner

Pela eternidade passada e pela eternidade futura Deus deseja receber toda a glória de tudo que Ele faz (Êx. 34:14; Isa 42:8; 48:11; Rom. 11:36; I Cor 10:31). Na realidade a ninguém outro, senão a Deus o Todo Poderoso, é devido toda a glória nos céus e na terra. A glória de Deus é a prática dos seres celestiais agora (Sal 103:20; Isa 6:1-3) e para todo o sempre (Apoc 4:11; 5:12). Essa glória não vem de uma necessidade de Deus pois Ele não necessita de nenhuma coisa (Atos 17:25) mas é simplesmente um desejo e direito particular (I Cor 1:26-31; Ef. 2:8-10).

A obediência é abençoada gloriosamente pois ela glorifica Deus (Rom. 4:20,21). A obediência desejada é entendida tanto antes do pecado (Gên. 2:16,17) quanto depois (Deut. 10:12,13). Pela obediência da Sua Palavra, Deus é glorificado. Essa observação contínua é o dever de todo o homem (Ecl 12:13).

A desobediência da lei de Deus é pecado (I João 3:4; 5:17) e é o que provoca a separação eterna da presença de Deus (Gên. 2:17; Rom. 6:23). O pecado é uma abominação tamanha justamente por não intentar dar glória a Deus (Núm. 20:12,13; 27:14; Deut. 32:51). O pecado é iniqüidade a Deus e em nenhuma maneira glorioso.

Desde o começo da Sua operação com os homens, Deus requer uma obediência explícita. Essa obediência desejada tem o fim de O glorificar. A maldição no jardim do Éden (Gên. 3:14-19, 22-24) foi expressada por causa do homem não colocar o desejo de Deus em primeiro lugar (Gên. 2:17; 3:6). A destruição da terra pela água nos dias de Noé (Gên. 6:5-7) foi anunciada sobre todos os homens por eles servirem a carne e, nisso, não glorificaram a Deus (Mat. 24:38). A história bíblica mostra o povo de Deus sendo castigado repetidas vezes, um castigo que continua até hoje, por uma razão maior: adorar outros deuses (Jer 44:1-10). A condição natural do homem é abominável diante de Deus justamente por ele não ter o temor de Deus diante de seus olhos (Rom. 3:18). A condenação final do homem ímpio será simplesmente por causa do homem não ter Deus nas suas cogitações (Sal 10:4), desprezar toda a Sua repreensão (Próv. 1:30) e por não se arrependerem para dar glória a Deus (Apoc 16:9). Foi dado outro tanto de tormento e pranto à Babilônia por causas de glorificar a si (Apoc 18:7). Deus nunca dará a glória devida a Ele a outro (Isa 42:8). Ao Deus da glória (Atos 7:2), o Pai da glória (Efés. 1:17) é devida toda a glória para todo o sempre (Fil. 4:20; I Tim 1:17).

Quando chegarmos ao assunto da salvação não podemos procurar de modificar o desígnio eterno de Deus. Na doutrina da salvação Deus não está procurando dar uma glória ao homem. Pela salvação tratar dos seres humanos e o estado eterno deles não quer dizer que Deus não deseja receber a glória deste tratamento.

A salvação tem o propósito de trazer glória eternamente a Deus, e, essa glória na salvação, é por Jesus Cristo para todo o sempre (Rom. 16:27; II Cor 4:6; I Pedro 5:10). Pelo decorrer deste estudo entenderemos melhor como cada fase da salvação exalta Cristo desde a eleição que foi feita em Cristo (Efés. 1:3,4) à santificação que traz os eleitos a serem semelhantes a Cristo (I João 3:2). Cristo é a semente incorruptível pela qual os salvos são gerados de novo (I Pedro 1:23-25). Cristo é o caminho sem o qual ninguém vai a Deus (João 14:6). Cristo é a verdade em qual o pecador deve crer para ser salvo (João 3:35,36). É a imagem de Cristo a qual os salvos são transformados (Rom. 8:29) e por Cristo os salvos são conservados (Judas 1). Os frutos de justiça, são por Jesus Cristo, e, por isso, para a glória e louvor de Deus (Fil. 1:11). Não existe uma operação sequer na salvação que não glorifica Deus pelo Filho unigênito. Não deve ser segredo, tanto na realização da salvação quanto na condenação dos pecadores, Deus é, e sempre será, eternamente glorificado por Cristo (João 5:23; 12:48; II Cor 2:15,16; Fil. 2:5-11).

Existem muitos erros nas crenças de muitas igrejas e crentes já neste ponto inicial sobre o propósito da salvação. Muitos querem colocar as bênçãos que o homem recebe pela salvação como sendo os objetivos divinos na salvação. Mesmo que é uma verdade que a criação nova feita na salvação é maior e mais gloriosa do que a primeira criação relatada em Gênesis; mesmo que é verdade que a salvação é de uma condenação horrível; mesmo que é verdade que pela obra de Cristo na salvação Satanás é vencido e, mesmo que pela salvação moradas celestiais estão sendo feitas no céu, todas estas verdades são resultados da salvação e não as causas dela. Muitos confundem o eterno lar, o fruto do Espírito Santo, a vida cristã diante do mundo ou a igreja cheia de alegria como os desígnios da salvação. Mas, o estado final da salvação não deve ser confuso com o objetivo dela, nem os efeitos com as causas. Deus não tem propósito de dar a sua glória ao outro, inanimado, animado ou mesmo um salvo, mas, somente a Ele (Isa 42:8). Como em tudo demais que Deus faz, a salvação centra em Deus e em sua glória e não nos benefícios do homem. Os efeitos que a salvação produz não são as causas da salvação ser programada por Deus.

Se, em nosso entendimento desta maravilhosa doutrina da salvação, a ênfase for colocada em qualquer maneira nas bênçãos que o homem recebe e não na glória de Deus, o nosso entendimento é falho neste respeito e devemos buscar as bênçãos de Deus para que Ele nos endireita para adorarmos a Ele como Ele deseja, em espírito e em verdade (João 4:24).

A Causa da Salvação – (Efésios 1:3-6) - Deus

Apoc 1:8

A salvação começa com Deus, e isso, “antes da fundação do mundo” (Efés. 1:3,4; II Tess 2:13; Apoc 13:8). Por causa de não existir no princípio um homem sequer, junto com a sua vontade, nem o ministério dos anjos ou a pregação da Palavra de Deus - a salvação começou com o que era no princípio: Deus (Gên. 1:1). Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim (Apoc 1:8, 11). Deus é a primeira causa de tudo, um conceito reservado para o divino (Rom. 11:36). Porque? “Ó Pai, porque assim te aprouve.” (Luc 10:21).

Entendendo a situação deplorável do homem (Gên. 6:5; Rom. 3:10-18) podemos entender que a fé em Cristo é “obra de Deus” (João 6:29). É necessário lembrar-nos que o assunto deste estudo é a salvação e não a condenação. Os condenados pela justiça santa de Deus só podem culpar a sua própria cegueira espiritual e amor pelo pecado. Nunca podem responsabilizar a Deus pela condenação (Ecl 7:29). Os salvos, de outra maneira, somente têm Deus para louvar pela salvação (II Tess 2:13).

O Bom Prazer da Sua Vontade - Efés. 1:11

A vontade de Deus é a expressão do prazer de Deus. A vontade de Deus não pode ser diferente da Sua natureza, portanto, ela é soberana (não influenciada pelas forças terceiras), santa (pura, imaculada, inocente), poderosa (Ele pode desejar o que Ele deve) e imutável (nada pode impedi-la ou muda-la).

É a Sua vontade que motiva as Suas ações (Efés. 1:11, "faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade"). Na esfera dos Deuses o verdadeiro Deus se destaca, pois, somente Ele faz "tudo o que lhe apraz" (Sal 115:3). O que foi criado, nos mares e em todos os abismos, é atribuído a ser criado por que Deus quis (Sal 135:6, "tudo o que o SENHOR quis, fez"). A eleição em Cristo que foi programada antes da fundação do mundo e a predestinação para os Seus serem filhos de adoção por Jesus Cristo são tidos como sendo "segundo o beneplácito de Sua vontade" (Efés. 1:4,5); "segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos" (II Tim 1:9). Tudo o que é envolvido no assunto da salvação é "segundo a Sua vontade" (Tiago 1:18). Deve ser notado que o amor e a graça de Deus fazem parte de Deus e conseqüentemente a salvação, mas não serão tratados como causas da salvação em particular pois podem ser considerados melhor num estudo detalhadamente sobre a própria vontade de Deus.

É lógico que seja a vontade de Deus uma causa da salvação pois a vontade de Deus é uma parte essencial da sua natureza expressando-a e sendo tudo que Deus é. "Falhamos em entender a origem de qualquer coisa quando não voltamos à vontade soberana de Deus" (Pink, The Atonement, p. 22). Se Deus é antes de todas as coisas (Col. 1:17), a sua vontade é também antes de tudo que existe e acontece. Aquele que sucede e é efetuado no mundo é o que o SENHOR dos Exércitos pensou e determinou (Isa 14:24, "O SENHOR dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará"). Muito além da Sua vontade ser um tormento, é confortadora. Deus fazendo as Suas obras conforme o bom prazer da Sua vontade conforta o santo na sua tribulação. O servo Jó confiou na vontade de Deus na sua tristeza e foi confortado (Jó 23:13, "O que a Sua alma quiser, isso fará"). A mesma vontade que nos salva é aquela que garanta-nos o aperfeiçoamento da salvação até o memento que estamos na presença do Salvador no céu (João 6:39,40). Tal conhecimento da vontade de Deus traz paz ao salvo.

Tudo que Cristo precisava fazer pessoalmente para efetuar a salvação foi em submisso à vontade de Deus (Heb 10:7; Mat. 26:39). Tudo que os outros fizeram com Jesus durante o Seu tempo na terra, sim, até a traição de Judas, o julgamento injusto e a crucificação vergonhosa foi "pelo determinado conselho" de Deus (Atos 2:23). Ninguém fez mais nem menos do que a completa vontade de Deus. Podemos não entender este ponto, mas a verdade revelada pela Palavra de Deus pode ser maior que a nossa capacidade de entende-la. Devemos acata-la pela fé (Heb 11:1,6).

Mesmo que incluímos a vontade de Deus como parte da causa da salvação devemos frisar que a vontade de Deus não é a própria condenação ou a salvação mas uma parte íntegra de ambas. Há meios que Deus usa para efetuar a sua vontade e estes meios serão tratados posteriormente.


A Sua Presciência - I Pedro 1:2

A palavra ‘presciência’ (em grego: prognosis, #4268. Usada somente em Atos 2:23 e I Pedro 1:2) não é idêntica à palavra ‘conhecer’ (em grego: proginosko, # 4267. Usada em Atos 26:5; Rom. 8:29; 11:2; I Pedro 1:20 e II Pedro 3:17) mesmo que é relatada a ela. A palavra ‘presciência’ tem mais do que um mero conhecimento prévio de fatos embutido nela. É claro que Deus conhece todas as coisas e todas as pessoas pois ele é onisciente. Todavia a palavra ‘presciência’ também tem um entendimento de preordenação ou uma preparação prévia (Thayer’s Léxico. Citado em Simmons, p. 211, Inglês). A presciência de Deus não somente conhece tudo, mas determina tudo em relação à salvação: O nascimento de Cristo (Gal 4:4), a morte de Cristo pelas mãos injustas (Atos 2:23; 4:28), as pessoas a serem salvas (I Pedro 1:2, "os eleitos"), o envio da mensagem a estes (Atos 18:10) e a hora que crêem (Atos 13:48). Tudo foi segunda a Sua ordenação explicita que, por sua vez, é segundo a Sua vontade que é eterna (II Tess 2:13,14; Rom. 9:15,16). É nesse sentido de preordenação, que a salvação é segundo a presciência de Deus.

Deus conhece os Seus intimamente com um amor especial e a palavra ‘presciência’ indica isso. A presciência que Deus tem do Seu próprio povo quer dizer Sua complacência peculiar e graciosa para com Seu povo" (Comentário de Jamieson, Fausset, e Brown, citado pelo Simmons, p. 241, Português). Por ter um amor especial, Deus age para com os Seus em maneiras especiais (Deut. 7:7,8; Jer 31:3; Rom. 9:9-16; I João 4:19). No sentido de preordenação, os eleitos são especialmente e intimamente amados antemão. É nessa maneira eles são determinados em I Pedro 1:2 de serem eleitos "segundo a presciência de Deus".

Há os que determinem que a vontade eterna de Deus é baseada naquilo que vem livremente do homem: a sua vontade. Isso séria de basear a salvação divina no conhecimento anterior que Deus tem de algumas ações do homem. Se a vontade de Deus é baseada na ação que Deus conhecia antemão que um homem faria é verdade que o conhecimento da ação do homem veio antes da própria vontade de Deus. Mas como temos estudado, Deus é antes de todas as coisas, e, em verdade "todas as coisas subsistem por Ele" (Col. 1:17). A salvação do pecador não é baseada na vontade do homem, mas na de Deus (Efés 1:11). O novo nascimento "não vem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João 1:13; Rom. 9:16). Por isso, quando consideramos a causa da salvação, tanta a vontade soberana e a presciência de Deus são contempladas. Os eleitos "segundo a presciência" de Deus são os que foram eleitos ‘em’ a presciência de Deus (Simmons, p. 211, Inglês). Os eleitos são chamados não segundo as suas obras, mas, "segundo o Seu próprio propósito e graça" que foi-lhes dado em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos (II Tim 1:9).

A presciência, contudo, não anula que o homem tem uma escolha na salvação. Os mandamentos de Deus para com o homem e as promessas de Deus em resposta às ações do homem confirmam que o homem tem responsabilidade pessoal. Todavia, a presciência garanta que os eventos preordenados serão feitos, até mesmo pela ação livre do homem. A referencia de Atos 2:23 e as múltiplas profecias sobre a vinda, vida, morte, ressurreição de Cristo, a implantação da sua igreja no mundo e os eventos que chamamos ainda de ‘futuros’ são provas que a presciência garanta eventos predeterminados sem anular a ação livre do homem.

Aqueles que Deus não conheceu intimamente (Mat. 7:23) são os condenados. Devemos frisar que estes não são condenados por não serem especialmente conhecidos antemão por Deus, mas por praticarem a iniqüidade. São eternamente julgados por não buscarem a justiça de Deus pela fé (Rom. 9:31-33). O inferno é para os que "não se importaram de ter conhecimento de Deus" (Rom. 1:28). A Bíblia diz claramente que "o erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá" (Prov. 1:25-32). Os "entenebrecidos no entendimento" são verdadeiramente separados da vida de Deus. Essa separação não é pela eleição, mas, biblicamente, "pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração" (Efés. 4:17-19). Os salvos são recipientes da misericórdia e da graça de Deus segundo a Sua vontade e trazidos ao arrependimento e a fé em Cristo (Jer 31:3; Rom. 9:14,15; Efés. 2:5-9). Os salvos têm somente a Deus, Seu amor e a Sua vontade para louvarem eternamente. Os não salvos não são recipientes da misericórdia e da graça especial de Deus e são condenados pelos seus pecados (Rom. 6:23). Eles somente podem culpar o seu próprio pecado pois são estes que separam-se de Deus (Isa 59:1-3). Os condenados têm somente a sua incredulidade para os acompanharem pela eternidade (João 3:18,19). Devemos lembrar-nos que o propósito da salvação, que já estudamos, não é nem a salvação ou a condenação do homem, mas a própria glória de Deus. Tanto a salvação quanto a condenação operam para este fim (Prov. 4:16). A presciência faz parte da causa da salvação e não da condenação.


A Soberania de Deus - Efés. 1:11

A palavra soberania significa: 1. Qualidade de soberano. 2. Poder ou autoridade suprema de soberano. 3. Autoridade moral, tida como suprema; poder supremo. 4. Propriedade que tem um Estado de ser uma ordem suprema que não deve a sua validade a nenhuma outra ordem superior. 5. O complexo dos poderes que formam uma nação politicamente organizada (Dicionário Aurélio Eletrônico).

Quando falamos da soberania de Deus entendemos a qualidade de Deus desejar e fazer o que lhe apraz. É o exercício da Sua supremacia (C. D. Cole, citado em Leaves, Worms ..., p. 120) ou a expressão da sua santa independência. A soberania de Deus deve ser considerada como parte da causa da salvação juntamente com a sua vontade e preordenação. É a vontade soberana que é relacionada com a Sua presciência, e, é o Seu poder soberano que determina que a Sua vontade seja realizada (Isa 46:10,11, "O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade"; 55:10,11, "fará o que me apraz"; Daniel 4:35; Atos 2:23). Que Deus é tido como soberano é claro pelos versículos seguintes (Jó 23:13; Sal 115:3; 135:6; Lam 3:37,38; Isa 14:24; 45:7; Isa 46:9,10; João 19:11; Rom. 11:33-39). Deus é soberano na salvação pois Ele não é obrigado a salvar qualquer das suas criaturas rebeldes. A Sua soberania na salvação é entendida pelo Romanos 9:18, "Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer." (Veja também Efés. 2:7-11). Deus, pelo soberania, faz o Teu povo chegar a Si (Sal 65:4) e isso, voluntariamente (Sal 110:3).

"Deus não é somente soberano, mas também é amor. Soberania isolada pode ser fria e dura. Amor isolado pode ser fraco. Deus não é frio e duro nem fraco. Ele é tanto Todo-Poderoso quanto cheio de amor. A soberania de Deus assegura que tudo que aconteça a nós é para Sua glória e o amor de Deus assegura que tudo que aconteça a nós é para o nosso bem." (Maggie Chandler, Leaves, Worms, Butterflies and T. U. L. I. P. S., p. 70)

A soberania de Deus, em relação a causa da salvação junto com a sua vontade e presciência, é um assunto que vai além do entendimento do homem. A soberania de Deus pode ser considerada uma parte daquele que é encoberto e que pertence somente ao SENHOR. Porem, aquela parte da soberania de Deus que é revelada pela Palavra de Deus, é para nós e deve ser abordada (Deut. 29:29). Mesmo assim que deve ser estudada, nem tudo revelado nas Escrituras é entendido facilmente. Há coisas para nós inescrutáveis (Jó 42:3), insondáveis (Rom. 11:33) e mais do que podemos contar (Sal 40:5). Mesmo que nunca alcançaremos os caminhos de Deus ou chegaremos à perfeição do Todo-Poderoso (Jó 11:7), toda essa glória não deve nos cegar de ter fé no que as Sagradas Escrituras revelam de Deus. O homem pode não entender tudo sobre a Deus junto com a Sua vontade, a Sua presciência e Soberania (Mat. 20:13-15), mas em nenhum instante isso justifica o homem a julgar ou replicar a Deus (Rom. 9:14-21) e nem ser ignorante do assunto. Se vamos andar da maneira reta diante de Deus, precisaremos andar pela fé com os fatos revelados (Heb 11:1,6). O assunto da soberania de Deus pede que exercitamos essa fé.

A justiça e o amor de Deus são envolvidos na salvação mas não propriamente como a causa dela. A justiça pede a condenação dos pecados (Gên. 2:7; Ezequiel 18:20; Rom. 6:23) e não a salvação. O amor de Deus é o que trouxe Cristo para ser o Salvador (João 3:16; Rom. 5:6-8), todavia estamos tratando não o ato da salvação mas a sua causa.

Extraído de: www.ocalvinismo.com