domingo, 5 de dezembro de 2010

DEPRAVAÇÃO TOTAL


Não podemos negar que de forma quase que generalizada a doutrina da Predestinação é vista com bastante aversão. Ou seja, as pessoas geralmente vêem mais a injustiça por parte de Deus, do que mesmo a sua bondade. Todavia, isto acontece pelo fato dessas mesmas pessoas não conhecerem nada sobre a Depravação Total. São pessoas que tem uma perspectiva deficiente e amena sobre o pecado. Paulo Anglada definindo o que seria a Depravação Total afirma que:

 “Em decorrência da queda, o homem ficou totalmente inabilitado espiritualmente. Ou seja, ele não pode, por si mesmo, fazer nada para mudar o seu estado de pecado. A corrupção original impregnou de tal modo toda a natureza humana que alcançou seu espírito, mente, vontade, sentimentos, e o próprio corpo, inabilitando-o a fazer qualquer coisa espiritualmente agradável a Deus”.

Em oposição os arminianos, defendem o livre-arbítrio afirmando que o homem natural tem em si mesmo a capacidade para responder positivamente ao evangelho. Todavia, o Calvinismo prega que o homem está cego para as realidade espirituais, que se tornou escravo do pecado, que está morto espiritualmente. Para os calvinistas, a queda foi realmente uma queda e não um tropeço, ou um escorregão sem maiores conseqüências.” Veja o que pensava Calvino sobre o estado do homem pecador:

“As Escrituras atestam que o homem é escravo do pecado; o que significa que seu espírito é tão estranho à justiça de Deus que não concebe, deseja, nem empreende coisa alguma que não seja má, perversa, iníqua e impura; pois o coração, completamente cheio do veneno do pecado, não pode produzir senão os frutos do pecado.”

As Confissões Reformadas, juntamente com os Catecismos tem também aceito a doutrina da Depravação Total, isto serve para ratificar a doutrina bíblica da Depravação Total. Como o tempo não permite citar todas as Confissões e os Catecismos, vejamos o que diz a C.F.W.:

“Por este pecado (original) eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma. O homem caído em um estado de pecado perdeu totalmente o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso ao bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isto” (Cap. VI, Par. II e Cap. IX, Par III).

Definição do que não é Depravação Total

 Gostaria de fazer uso das palavras de W. J. Seaton:

“Quando os calvinistas falam em Depravação Total, entretanto, não querem dizer que todo homem é tão mau quanto poderia ser, nem que o homem seja incapaz de reconhecer a vontade de Deus; nem ainda que seja incapaz de fazer o bem para os seus semelhantes, ou até de ser submisso externamente ao Culto de Deus. O que querem dizer é que quando o homem caiu no Jardim do Éden, caiu em sua “totalidade”. A personalidade do homem foi afetada como um todo pela Queda, e o pecado atingiu a todas as faculdades – a vontade, o entendimento, as afeições, etc.”

Uma pessoa não convertida pode ser tão generosa até mesmo a causa cristã, que em muitos casos ela é até denominada de “amigo do evangelho” (algo que eu particularmente não concordo).

·         Base Bíblica da Depravação Total

·         Como resultado da transgressão de Adão, todos os homens são nascidos em pecado e são, por natureza espiritualmente mortos.

·         Adão foi  advertido e a penalidade por causa da desobediência seria imediatamente a morte espiritual, e posteriormente a física.


Gn 2.16: E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente;

Gn 2.17: mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

·         Adão desobedeceu, e trouxe a morte sobre si mesmo e sobre toda a raça humana (Gn 3.6). De imediato foram afetados (Gn 3.8-10,23,24); tornaram-se incapazes (Gn 3.7,21,15), e afetaram os seus próprios descendentes. Veja o exemplo de Caim e Abel (Gn 4.8). Paulo escrevendo aos Romanos ratifica a gravidade da queda (Rm 5.12).


Gn 3.6: Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.

Gn 3.8-10,23,24: Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? 10  Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida.

Gn 3.7,21,15: Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si. Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.

Gn 4.8: Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou.

Rm 5.12: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.

·         Davi confessou que tanto ele, como os demais homens, já nasceram em pecado.


Sl 51.5: Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe.

Sl 58.3: Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras.

·         Como resultado da queda, os homens estão cegos e surdos para a verdade espiritual (a mente humana está entretecida pelo pecado; seus corações são corruptos e malignos).


Gn 8.21: ...porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade”.

Ec 9.3: ...o coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos.”

Jo 3.19: O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.

Rm 8.7-8: Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.

Ef 4.17-18: Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração;

Aqui inevitavelmente surge algumas indagações: Podem os CEGOS dar-se visão, ou os SURDOS audição?

·         Os pecadores são escravos do pecado.


Jo 8.34: Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado.

Rm 6.20: Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça.
Tt 3.3: Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros.

Neste caso o homem não é pecador porque peca, mas ele peca porque ele é pecador.

·         O domínio do pecado é universal. Não há um justo sequer.


Sl 130.3: Se observares, SENHOR, iniqüidades, quem, Senhor, subsistirá?

Sl 143.2: Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente.

Pv 20.9: Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?

Ec 7.20: Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.

Is 64.6: Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam.

Rm 3.9-12: Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.

I  Jo 1.8: Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós .

Aqui mais uma vez surge uma indagação: poderá um dia este homem que é dominado pelo pecado, chegar a presença de Deus e afirmar: “Senhor eu queria que o Senhor soubesse que eu estou aqui por causa do meu livre-arbítrio.”

·         Os homens são incapazes, por si mesmos, de se arrepender, de crer no evangelho.


Jó 14.4:  Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!

Jr 13.23: Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal.

Jo 6.44;65: Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

Jo 6.65: E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.

I Co 2.14: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

Rm 8.23: Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.

Por  melhor que seja a sua proposta para um MORTO, ele vai continuar MORTO.

Conclusão

A Queda, segundo os arminianos, produziu escoriações e ferimentos espirituais sérios no homem, deixou-o ferido, ao ponto de precisar ser levado para o hospital. Quem sabe, até se lhe quebraram alguns ossos e alguns de seus órgãos espirituais importantes foram afetados. Não obstante, na verdade, para os arminianos, a queda não passou de um acidente; Para os calvinistas, entretanto, a queda não foi um acidente; foi uma tragédia tão grave que inutilizou espiritualmente o homem. Mais que isso, foi uma precipitação em um abismo tão profundo, que resultou em nada menos que a morte. O homem espatifou-se espiritualmente; suas entranhas espirituais se despedaçaram, morrendo instantaneamente. A diferença entre um ferido e um morto não é apenas questão de ênfase! (Anglada, As Antigas Doutrinas da Graça, p.9).

 

Autor: Rev. José Roberto de Souza


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Rev. José Roberto de Souza
é Pastor da Igreja Presbiteriana do Ibura, Recife/PE; Professor e Coord. do Departamento de História da Igreja no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN); Especialista em História da Religião e da Arte (UFRPE); Mestrando em Teologia e História.


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