sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A COMPARAÇÃO DOS DOIS SISTEMAS – CALVINISMO X ARMINIANISMO


Este é o quinto é último artigo da série A Fé Reformada, e para uma compreensão mais ampla, sugerimos a leitura dos quatro artigos anteriores, a saber: 1) A Soberania de Deus, 2) A Total Incapacidade do Homem, 3) Expiação em Cristo e 4) A Presciência de Deus

  

Temos dito que o Cristianismo revela a sua expressão máxima na fé reformada. A grande vantagem da Fé Reformada é que, no âmbito dos Cinco Pontos do Calvinismo, ela expõe claramente o que a Bíblia ensina a respeito do caminho da salvação. Só quando estas verdades são vistas como uma unidade e relacionadas umas às outras se pode realmente compreender ou apreciar o sistema cristãos em toda a sua força e beleza.

A razão de muitos cristãos experimentarem apenas uma fé frágil, e de tantas igrejas apresentarem apenas uma forma bastante superficial do cristianismo é que nunca perceberam realmente o sistema em sua consistência lógica. Não basta, ao cristão professo, saber que Deus o ama e que seus pecados foram perdoados. Ele deve saber como e por que sua redenção foi realizada e como ela se torna eficaz. E isso é estabelecido sistematicamente nos Cinco Pontos do Calvinismo.

Historicamente, os Cinco Pontos do Calvinismo foram defendidos pelas igrejas Reformadas e Presbiterianas e muitas igrejas Batistas, enquanto que a essência dos Cinco Pontos do Arminianismo foi defendida pelas Igrejas Metodistas e Luteranas, e também por muitas igrejas Batistas.

Os Cinco Pontos do Calvinismo podem ser mais facilmente lembrados se associados à palavra TULIP:


T - Total (Inability) Depravity
Depravação (Incapacidade) Total
U - Unconditional Election
Eleição Incondicional
L - Limited Atonement
Expiação Limitada
I - Irresistible (Efficacious) Grace
Graça (Eficaz) Irresistível
P - Perseverance of the Saints
Perseverança dos Santos


O material a seguir contrasta os Cinco Pontos do Calvinismo com os Cinco Pontos do Arminianismo na forma mais clara e concisa que encontramos em qualquer lugar. Também está incluído como um apêndice em A Doutrina Reformada da Predestinação, pelo presente escritor. Cada um desses livros é publicado pela
Presbyterian and Reformed Publishing Co., Phillipsburg, N.J.

 

OS "CINCO PONTOS" DO ARMINIANISMO

 

1. O Livre-Arbítrio ou Capacidade Humana


Embora a natureza humana tenha sido seriamente afetada pela queda, o homem não foi deixado em um estado de total desamparo espiritual. Deus graciosamente permite que todo pecador se arrependa e creia, mas Ele não interfere na liberdade do homem. Cada pecador possui uma vontade livre, e seu destino eterno depende do modo como ele a usa. A liberdade do homem consiste de sua capacidade de escolher o bem sobre o mal em assuntos espirituais; sua vontade não está escravizada à sua natureza pecaminosa. O pecador tanto tem o poder de cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado quanto o de resistir à graça de Deus e perecer. O pecador perdido precisa da assistência do Espírito, mas ele não precisa ser regenerado pelo Espírito antes que possa crer, pois a fé é o ato do homem e precede o novo nascimento. A fé é uma dádiva do pecador para Deus; Ela é a contribuição do homem para a salvação.

2. Eleição Condicional

A escolha de Deus de certos indivíduos para a salvação antes da fundação do mundo foi baseada na presciência de que eles iriam responder positivamente ao Seu chamado. Ele selecionou apenas aqueles que Ele sabia que iriam, por si mesmos e livremente, crer no evangelho. A eleição, portanto, foi determinada ou condicionada por aquilo que o homem faria. A fé que Deus anteviu e sobre a qual Ele baseou a Sua escolha não foi dada ao pecador por Deus (não foi criada pelo poder regenerador do Espírito Santo), mas resultou apenas da vontade do homem. Foi deixado inteiramente por conta do homem quem iria crer e, portanto, quem seria eleito para a salvação. Deus escolheu aqueles que Ele sabia que, por sua livre vontade, escolheriam a Cristo. Assim, a escolha do pecador (opção por Cristo), e não uma escolha de Deus (opção pelo pecador), é a causa final da salvação.


3. Redenção Universal ou Expiação Geral

A obra redentora de Cristo tornou possível que todos sejam salvos, mas na verdade não assegura a salvação de ninguém. Embora Cristo tenha morrido por todos os homens e por cada homem, somente aqueles que crêem Nele são salvos. Sua morte permitiu a Deus perdoar os pecadores na condição de que eles creiam, mas não chegou a remover os pecados de ninguém. A redenção de Cristo só se torna eficaz SE o homem escolher aceitá-la.

(Caso ocorresse uma rejeição ou descrença geral por parte da humanidade [algo improvável mas não impossível], a morte de Jesus teria sido absolutamente vã e inútil, uma vez que sua utilidade ou eficácia ocorre somente quando e se alguém crê e aceita essa morte. Neste caso, Sua morte possui apenas uma eficácia dependente ou relativa, e não uma eficácia absolutaNota do Tradutor).   

4. O Espírito Santo Pode Ser Efetivamente Resistido

O Espírito chama interiormente todos aqueles que são chamados exteriormente pelo convite do evangelho; Ele faz tudo que pode para trazer cada pecador à salvação. Mas na medida em que o homem é livre, ele pode resistir com êxito o chamado do Espírito. O Espírito não pode regenerar o pecador até que ele creia; a fé (que é a contribuição do homem) produz e torna possível o novo nascimento. Assim, o livre arbítrio do homem limita o Espírito na aplicação da obra salvadora de Cristo. O Espírito Santo só pode atrair para Cristo aqueles que permitem que Ele assim o faça. Até que o pecador responda, o Espírito não pode lhe dar a vida. A graça de Deus, portanto, não é invencível; ela pode ser, e freqüentemente é, resistida e frustrada pelo homem.

5. Caídos da Graça

Aqueles que crêem e são verdadeiramente salvos podem perder sua salvação por não manterem a sua fé, etc. [Nem todos os Arminianos têm concordado com este ponto; alguns defenderam que os crentes estão eternamente seguros em Cristo - uma vez que um pecador é regenerado (gerado de novo), ele nunca pode se perder].


De acordo com o Arminianismo:

 

A salvação é realizada através da conjugação de esforços de Deus (que toma a iniciativa) e do homem (que deve responder) – sendo a resposta do homem o fator determinante. Deus providenciou salvação para todos, mas Sua provisão só se torna eficaz para aqueles que, de livre vontade, "escolhem" cooperar com Ele e aceitar Sua oferta de graça. No ponto crucial, a vontade do homem desempenha um papel decisivo; e assim o homem, não Deus, determina quem serão os beneficiários do dom da salvação.

 

OS "CINCO PONTOS" DO CALVINISMO

 

1. Incapacidade Total ou Depravação Total

Por causa da queda, o homem é incapaz crer por si só no evangelho para a salvação. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus; seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, e está cativa à sua natureza corrompida, e portanto, ele não vai - na verdade, ele não pode - escolher o bem sobre o mal no reino espiritual. Por conseguinte, é preciso muito mais do que a assistência do Espírito para trazer um pecador a Cristo – é necessária a regeneração pela qual o Espírito faz com que o pecador viva,  lhe dando uma nova natureza. A fé não é algo com que o homem possa contribuir para a salvação, mas é em si mesma um portal do dom de Deus para a salvação - é a dádiva de Deus para o pecador, não a dádiva do pecador para Deus.

2. Eleição Incondicional

A escolha de Deus de certos indivíduos para a salvação antes da fundação do mundo é baseada apenas na Sua soberana vontade. Sua escolha de um pecador em particular não foi baseada em qualquer antevisão da resposta de obediência da parte qualquer um deles, como fé, arrependimento, etc. Ao contrário, Deus dá a fé e o arrependimento a cada pessoa a quem Ele escolheu. Esses atos são o resultado, não a causa da escolha de Deus. A eleição, portanto, não foi determinada ou condicionada por qualquer qualidade virtuosa ou ato previsto no homem. Aqueles a quem Deus soberanamente elegeu, Ele conduz, através do poder do Espírito a uma aceitação voluntária de Cristo. Assim, a escolha de Deus, e não a escolha do pecador, é a causa final da salvação.


3. Redenção Particular ou Expiação Limitada

A obra redentora de Cristo foi destinada a salvar os eleitos somente e realmente garantiu a salvação a eles. Sua morte foi o sofrimento substitutivo da pena do pecado em lugar de certos pecadores específicos. Além de remover os pecados do Seu povo, a redenção de Cristo garantiu todas as coisas necessárias a sua salvação, incluindo a fé que os une a Ele. O dom da fé é infalivelmente aplicado pelo Espírito a todos por quem Cristo morreu, portanto, garantindo a sua salvação.

4. O Chamado Eficaz do Espírito ou Graça Irresistível

Além do chamado geral externo para a salvação, que é feito a todo aquele que ouve o evangelho, o Espírito Santo estende aos eleitos um chamado especial interno que inevitavelmente os traz à salvação. O chamado interno (que é feito apenas aos eleitos) não pode ser rejeitado; ele sempre resulta em conversão. Por meio deste chamado especial, o Espírito atrai, irresistivelmente, os pecadores a Cristo. Ele não é limitado em Sua obra em aplicar a salvação pela vontade do homem, e nem é dependente da cooperação do homem para o sucesso. O Espírito graciosamente conduz o pecador eleito a cooperar, crer, arrepender-se, se achegar livremente e voluntariamente a Cristo. A graça de Deus, portanto, é invencível; Ela nunca deixa de resultar na salvação daqueles a quem é estendida.

5. Perseverança dos Santos

Todos os que são escolhidos por Deus, remidos por Cristo, a quem a fé é dada pelo Espírito, são eternamente salvos. Eles são mantidos na fé pelo poder do Deus Todo-Poderoso e, portanto, perseveram até o fim.

De Acordo com o Calvinismo:

 

A salvação é realizada pela onipotência do Deus Uno e Triuno. O Pai escolheu um povo, o Filho morreu por esse povo, o Espírito Santo torna a morte de Cristo eficaz, trazendo os eleitos à fé e ao arrependimento, dessa forma os conduzindo a obediência voluntária ao evangelho. Todo o processo (eleição, redenção, regeneração) é obra de Deus e é somente pela graça. Assim, Deus, e não o homem, determina quem serão os beneficiários do dom da salvação.
Amem!



Autor: Loraine Boettner - (7 de março de 1901 – 03 de Janeiro de 1990)

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