segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

SE VOCÊ NÃO "VIGIAR E ORAR"

Por John Owen
  
Use, por favor, sua imaginação e crie estas quatro cenas.

Primeira cena

Imagine que solicitaram a você fazer uma visitar ao hospital. Os preparativos foram feitos de tal maneira que você só visite aqueles que estão morrendo. Algumas pessoas estão tão magras que quase é possível contar os seus ossos. Não há cor em suas peles; resta-lhes muito pouca força e mal conseguem falar sussurrando. Outros estão, obviamente, sofrendo grandes dores, mesmo tendo recebido doses adequadas de analgésicos. Ainda outros sofrem de doenças muito desagradáveis. Indo de cama em cama você pergunta aos pacientes como foi que chegaram à situação em que se encontram. Em cada caso, eles contam como foi o começo de sua condição e como foi que contraíram as doenças de que padecem agora, e que os estão matando. Uma visita como essa teria, por certo, o impacto de levar você a tentar evitar as coisas que conduziram essas pessoas a um leito de morte.

Segunda cena

Imagine uma visita a um país no qual ainda vigora a pena de morte. Durante sua visita você é levado ao pavilhão no qual estão os criminosos condenados à morte. Ao encontrá-los você lhes faz a mesma pergunta: o que fez com que chegassem a este fim tão triste. Imagine que cada prisioneiro lhe conte exatamente a mesma história. Uma visita como essa levaria você a evitar que as mesmas coisas sucedessem com você.

Terceira cena

Procure imaginar um ajuntamento de cristãos que compartilhem uma coisa em comum; todos entraram em tentação e saíram dela muito mal. Todos ao seu redor são almas pobres, miseráveis, feridas espiritualmente. Uma está ferida por um pecado, outra por outro; uma caiu na impureza da carne, outra na do espírito. Mais uma vez, é seu dever perguntar a cada uma dessas pessoas como foi que chegaram à sua condição atual. Todas elas concordam em dizer: "Ah! Nós entramos em tentação, fomos vítimas das astutas ciladas do diabo, e esta é a consequência"!

Quarta cena

Imagine, se lhe for possível, uma visita aos condenados ao inferno, ver as pobres almas presas nas cadeias tenebrosas e ouvir seus gritos. Ouça o que essas pobres almas dizem. O que estão dizendo? Não seria verdade que estão amaldi¬çoando seus tentadores e as tentações nas quais entraram e que as trouxeram a este lugar amaldiçoado? A realidade de tais sofrimentos e sua angústia desafia a imaginação mas não altera a realidade. Poderia você pensar nestas coisas e não levar mais a sério o perigo de entrar na tentação?

Salomão nos fala dos simples que seguem a adúltera e não sabem que: "...ali estão os mortos" (Prov. 9:18), "...a sua casa é caminho para a sepultura" (Prov. 7:27), e "...os seus pés descem à morte" (Prov. 5:5). Esta é a razão pela qual são tão facilmente atraídos e seduzidos (Prov. 7:21,22). O mesmo se dá com todos os tipos de tentação. Quão poucas pessoas sabem que a tentação conduz à morte. E possível que se as pessoas cressem nisso e considerassem seriamente para onde a tentação as conduz, elas passariam a ser mais cuidadosas e vigilantes. Infelizmente, muitas pessoas se recusam a crer nisso. Pensam que podem brincar com a tentação e que tudo terminará bem. Essas pessoas ignoram ou se esquecem da advertência: "Tomará alguém fogo no seu seio, sem que os seus vestidos se queimem? ...andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés?" (Prov. 6:27,28). A resposta é um ressonante "NÃO"! As pessoas não saem da tentação sem feridas, queimaduras e cicatrizes.

Este mundo está cheio de tentações. Está, também, cheio de cenas trágicas de muitos que foram levados à ruína pela tentação. E, portanto, o caminho da sabedoria ouvir o chama-mento do Salvador para vigiarmos e orarmos. Este chamado é vital. Considere estes pensamentos finais. Talvez você também possa ser persuadido a vigiar e orar.

ASSIM COMO NÓS TEMOS PERDOADO AOS NOSSOS DEVEDORES

Por R. C. Sproul

Visto que o homem é salvo pela graça, qual melhor evidência poderia haver da salvação de um ser humano do que quando ele oferece aos outros a graça que ele mesmo recebeu com tanta generosidade? Se essa graça não é aparente em nossas vidas, podemos questionar de maneira válida a genuinidade de nossa própria alegada conversão.

Devemos levar Deus a sério quanto a este ponto. Em Mateus 18.23-35, Jesus contou a história de dois homens que deviam dinheiro. Um deles devia aproximadamente dez milhões de reais, e o outro devia cerca de dezoito reais. Aquele que devia os dez milhões de reais teve a sua dívida perdoada pelo homem a quem devia o dinheiro. Mas o devedor, por sua vez, não quis perdoar o homem que lhe devia a soma ridícula de dezoito reais. E bastante interessante que ambos os homens pediram a mesma coisa - mais tempo - e não o perdão da dívida total.

Foi cômico o indivíduo que devia a quantia exorbitantemente elevada pedir mais tempo para pagar a sua dívida, visto que até mesmo pelos padrões de salários atuais, a quantia que ele devia perfazia uma figura astronômica. 0 salário diário da época era, aproximadamente, dezoito centavos por dia. 0 homem com a pequena dívida poderia ter pago a sua dívida em três meses. Seu pedido por mais tempo não foi descabido, mas seu credor, em lugar de expressar o mesmo perdão que já tinha recebido, começou a apertá-lo. 0 ponto deve estar claro. Nossas ofensas que outras pessoas cometem contra nós são como uma dívida de dezoito reais, ao passo que as inúmeras ofensas que temos cometido contra o Senhor Deus onipotente são como a dívida de dez milhões de reais.

Jonathan Edwards, em seu famoso sermão, intitulado "A Justiça de Deus na Condenação dos Pecadores", disse que qualquer pecado é mais ou menos hediondo, dependendo da honra e da majestade daquele a quem tivermos ofendido. Visto que Deus é dotado de honra infinita, majestade infinita e santidade infinita, o pecado mais leve tem uma consequência infinita. Pecados aparentemente triviais são nada menos do que "traição cósmica" quando vistos à luz do grande Rei contra quem temos cometido nossos pecados. E assim, tornamo-nos devedores que não podem pagar, e, no entanto, temos sido liberados da ameaça da prisão merecida pelos devedores. É um insulto contra Deus retermos o perdão e a graça daqueles que os solicitarem a nós, ao mesmo tempo em que reivindicamos ter sido perdoados e salvos por meio da graça divina.

Há um outro ponto importante a considerarmos aqui. Até mesmo em nossos atos de perdão, não temos qualquer mérito. Não podemos exigir o perdão meramente por que temos demonstrado perdão para alguma outra pessoa. 0 perdão que dermos a alguém não obriga Deus a abençoar-nos. O trecho de Lucas 17.10 claramente salienta que não há qualquer mérito mesmo em nossas melhores boas obras: "Assim tam¬bém vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer".

Nada merecemos pela nossa obediência, porquanto a obediência - mesmo que chegássemos à perfeição - é o requerimento mínimo para alguém ser um cidadão do reino de Deus. A obediência é o nosso dever. A única coisa que poderíamos reivindicar seria a ausência de punição, mas certamente não mereceríamos nenhuma recompensa, por termos feito somente aquilo que era esperado de nossa parte. A obediência nunca qualifica como serviço "acima e além da chamada para o dever". Estamos meramente em uma posição de nos prostrarmos diante de Deus e implorar pelo Seu perdão. Mas, se assim tiver de acontecer, devemos estar preparados para mostrar que sabemos perdoar; de outro modo, nossa posição em Cristo se inclinará na direção do tombamento de modo precário. A linha de conclusão daquilo que Jesus estava dizendo é esta: "As pessoas perdoadas perdoam outras pessoas". Não ousaremos reivindicar-nos possuidores da vida de Cristo e de Sua natureza, ao mesmo tempo em que falharmos de exibir essa vida e essa natureza.

Levando mais adiante ainda esse pensamento. Se Deus perdoou a alguém, poderíamos nós fazer menos do que perdoar? Seria incrível pensarmos que nós, que somos tão culpados, nos recusaríamos a perdoar alguém que foi perdoado por Deus, e que, portanto, é completamente inocente. Devemos ser espelhos da graça para outros, refletindo aquilo que nós mesmos temos recebido. Isso implementa a Regra Áurea em termos práticos.

O perdão não é uma questão particular, mas uma questão coletiva. O        corpo de Cristo é um grupo de pessoas que vivem diariamente no contexto do perdão. O que nos distingue é o fato que somos pecadores perdoados. Jesus chamou a nossa atenção não somente para os elementos horizontais existentes nessa petição, mas também os elementos verticais. Devemos orar todos os dias pelo perdão de nossos pecados.

Alguém poderia indagar neste ponto: "Se Deus já nos perdoou, por qual razão deveríamos pedir perdão? Não é errado pedir por algo que Ele já nos deu?" A resposta final a perguntas semelhantes a essa será sempre a mesma. Fazemos assim por causa dos mandamentos de Deus.

1João 1.9 salienta que uma das características do crente é o seu contínuo pedido de perdão. O tempo verbal, no original grego, indica um processo em andamento. O perdão separa o crente como uma criatura diferente das demais. O incrédulo tenta esconder a sua pecaminosidade, mas o crente é sensível para com sua falta de valia. A confissão toma uma porção significativa de seu tempo de oração.

Pessoalmente penso ser um tanto assustador pedir perdão a Deus, na mesma extensão em que temos perdoado a nossos semelhantes. É quase como pedir justiça da parte de Deus. Costumo advertir meus alunos: "Não peçam justiça da parte de Deus. Vocês poderão obtê-la". Se Deus, de fato, me perdoasse na exata proporção em que me disponho a perdoar outras pessoas, tenho medo de que estarei em profunda dificuldade.
0 mandato para perdoarmos a outras pessoas, conforme temos sido perdoados, aplica-se também à questão do auto-perdão. Quando confessamos nossos pecados a Deus, contamos então com a Sua promessa de que Ele nos perdoará. Infelizmente, nem sempre acreditamos nessa promessa. A confissão requer humildade em dois níveis. 0 primeiro nível é a admissão real de culpa; o segundo nível é a aceitação humilde do perdão.

Um homem perturbado diante do problema do senso de culpa, veio a mim certo dia e disse: "Já pedi de Deus que me perdoasse desse pecado por muitas e muitas vezes, mas ainda me sinto culpado. Que poderei fazer?" Essa situação não envolvia a múltipla repetição do mesmo pecado, mas a múltipla confissão de um pecado cometido por uma só vez.

Repliquei: "Você deve orar de novo e pedir que Deus lhe perdoe". Um olhar de impaciência frustrada se estampou em seus olhos. "Mas eu já fiz isso!" exclamou ele. "Tenho pedido que Deus me perdoe, por muitas e muitas vezes. Que bem me fará se eu Lhe pedir isso de novo?"

Em minha resposta apliquei a força firme e proverbial do cacete na cabeça da mula: "Não estou sugerindo que você peça a Deus que lhe perdoe por esse pecado. Estou sugerindo que você busque perdão por sua arrogância".

O homem ficou incrédulo. "Arrogância? Que arrogância? 0 homem estava supondo que suas repetidas solicitações eram uma prova positiva de sua humildade. Ele estaria tão contrito diante de seu pecado que sentia que tinha que arrepender-se do mesmo para sempre. Seu pecado era grande demais para ser perdoado por uma única dose de arrependimento. Que outros se satisfizessem com a graça divina. Quanto a ele, ele haveria de sofrer por seu pecado, sem importar quão gracioso Deus se mostrasse. O orgulho tinha fixado uma barreira na aceitação daquele homem do perdão de Deus. Quando Deus nos promete dar o perdão, insultamos a integridade do Senhor quando nos recusamos a aceitar o Seu perdão. Perdoar a nós mesmos depois que Deus nos perdoou é um dever, bem como um privilégio.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DIZER NO QUE VOCÊ CRÊ É MAIS CLARO QUE DIZER CALVINISTA

Por Jonh Piper

Nós somos cristãos. Seres radicais, de sangue puro, saturados de Bíblia, exaltadores de Cristo e centrados em Deus. Nós avançamos com missões, ganhamos almas, amamos a igreja, buscamos a santidade e saboreamos a soberania. Somos completamente embriagados pela graça, quebrantados de coração e felizes seguidores do Cristo onipotente crucificado. Pelo menos esse é o nosso compromisso imperfeito.
Em outras palavras, somos calvinistas, mas esse rótulo não é nem um pouco útil para dizer às pessoas no que você realmente acredita! Então esqueça o rótulo, se isso ajudar, e diga a elas claramente, sem evasivas e sem ambiguidade, o que você acredita a respeito da salvação.

Se eles disserem “Você é um calvinista?” diga “Você decide. É nisso aqui que eu creio…”
Eu creio que sou tão espiritualmente corrupto e orgulhoso e rebelde que eu nunca teria vindo à em Jesus sem a misericordiosa e soberana vitória de Deus sobre os últimos vestígios da minha rebelião. (1 Coríntios 2:14; Efésios 3:1-4; Romanos 8:7)

Eu creio que Deus me escolheu antes da fundação do mundo para ser seu filho, sem basear essa escolha em nada que pudesse haver em mim no presente ou no futuro. (Efésios 1:4-6; Atos 13:48; Romanos 8:29-30; Romanos 11:5-7)

Creio que Cristo morreu como um substituto dos pecadores para, de boa , oferecer salvação a todas as pessoas. Creio que ele teve um plano invencível em sua morte para obter sua noiva escolhida, a saber, a assembléia de todos os crentes, cujos nomes foram eternamente escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto. (João 3:16; João 10:15; Efésios 5:25; Apocalipse 13:8)

Quando eu estava morto em minhas transgressões, e cego para a beleza de Cristo, Deus me tornou vivo, abriu os olhos do meu coração, me deu a capacidade de crer e me uniu a Jesus, com todos os benefícios do perdão e da justificação e da vida eterna (Efésios 2:4-5; 2 Coríntios 4:6; Filipenses 2:29; Efésios 2:8-9; Atos 16:14; Efésios 1:7; Filipenses 3:9)

Estou eternamente seguro não por causa de qualquer coisa que eu tenha feito no passado, mas decisivamente porque Deus é fiel para completar a obra que ele começou – sustentar minha e me manter longe da apostasia, e me afastar do pecado que leva à morte (1 Coríntios 1:8-9; 1 Tessalonicenses 5:23-24; Filipenses 1:6; 1 Pedro 1:5; Judas 25; João 10:28-29; 1 João 5:16)

Chame do jeito que você quiser, isso é minha vida. Eu acredito nisso porque eu vejo isso na Bíblia. E porque eu experimentei isso. Louvor eterno à grandeza da glória da graça de Deus!


domingo, 23 de janeiro de 2011

HÁ UMA EXPLORAÇÃO DA FÉ - ENTREVISTA DO REV. HERNANDES AO JORNAL A GAZETA


A pregação em muitas igrejas evangélicas está voltada para milagres e curas, distante dos princípios cristãos, diz pastor

Por Vilmara Fernandes

O pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória, Hernandes Dias Lopes, é taxativo: o protestantismo no Brasil precisa passar por uma nova reforma. Na avaliação dele, as igrejas evangélicas se desviaram da verdade e vêm utilizando as Escrituras Sagradas para interesses e conveniências pessoais.

Entre eles estariam os milagres, as curas, a prosperidade. "Hoje as pessoas se aproximam de Deus não pelo que Ele é, mas pelo que dá. Desejam o que funciona, o que dá certo, o que permite tirar proveito", pontua Lopes.

Parte dessas igrejas, destaca o pastor, é liderada por pessoas que ficam ricas ao explorarem a inocência dos fiéis. "A maioria sem nenhum preparo cultural e moral", diz Lopes. E quando a igreja se afasta dos princípios do Cristianismo, observa o líder dos presbiterianos, "a vida começa a ficar errada: aparecem as dificuldades, os problemas familiares, a depressão, as drogas". Para ele, o caminho para contornar essa exploração é vencer o analfabetismo bíblico. É conhecer a verdade na fonte, nas Escrituras Sagradas. "Quando falta o conhecimento, as pessoas caem na rede das maiores loucuras, das maiores heresias, dos enganos mais sutis da religiosidade", lembra Lopes.

Na próxima quinta-feira, o reverendo aumenta a lista de suas publicações - que já chegaram à casa dos 90 - com o lançamento de mais três livros. Um deles é de devocionais, reflexões práticas que ajudam a entender os textos bíblicos. Veja abaixo mais detalhes da entrevista concedida pelo pastor Hernandes durante suas férias nos Estados Unidos.

Na próxima quinta, o senhor lança um livro com reflexões práticas sobre a Bíblia.

São 52 devocionais, um para cada semana do ano. É uma forma de mostrar para o leitor as riquezas, a atualidade e a pertinência que a Bíblia tem para os nossos dias. Neles trato de assuntos variados: família, casamento, criação de filhos, depressão, ansiedade, igreja, sociedade, cultura.

O Brasil é um dos países onde mais se imprime bíblias, mas também é onde ela é menos lida.

É um paradoxo. Uma cultura de analfabetismo bíblico. E com isso muitos se tornam inocentes úteis nas mãos dos espertalhões, dos aproveitadores. A Bíblia diz: "O meu povo está sendo excluído porque me falta o conhecimento". Quando falta o conhecimento, as pessoas caem na rede das maiores loucuras, das maiores heresias, dos enganos mais sutis da religiosidade.

Há preconceito?

Há quem pense que se trate somente de um livro religioso e que sua leitura pode deixar a pessoa bitolada, o que é uma tolice. A Bíblia é um livro de cultura geral extraordinário e absolutamente prático. Nenhum livro produziu tanta transformação de vida, de caráter, de família, de pessoas, de sociedade, de cultura. Ninguém pode ser dizer culto sem ler a Bíblia. O triste é que até no meio evangélico há quem a utilize de forma mágica.

Como?

Abre a Bíblia a esmo, põe o dedo em um versículo e diz: "O que Deus esta falando comigo?" A Bíblia não é um livro mágico, mas lógico, racional. Quem assim age está lendo a Bíblia pelo avesso, de cabeça para baixo, não está entendendo nada.

O senhor também já fez críticas ao meio evangélico por não se saber orar.

Vivemos em uma cultura antropocêntrica ou humanista, onde a própria religiosidade coloca o homem no centro. Hoje as pessoas se aproximam de Deus não pelo que Ele é, mas pelo que dá. Desejam o que funciona, o que dá certo, o que permite tirar proveito. A pregação é a da prosperidade, dos milagres, para o fiel ficar rico. O que leva a uma exploração da fé.

Essa pregação é a marca do neopentecostalismo, responsável pelo surgimento de inúmeras pequenas igrejas evangélicas.

Que pipocam em vários lugares e que são lideradas por pastores que ficam ricos ao explorarem a inocência das pessoas. A maioria deles sem nenhum preparo cultural e moral, o que gera o descrédito na religião, na fé cristã, e com isso não podemos concordar.

Como evangelizar nesse meio?

O que precisamos no Brasil é de uma nova reforma religiosa. A própria igreja evangélica desviou-se da verdade. Uma verdade que está na Bíblia, que precisa ser estudada como ela é, e não como querem que ela seja. O problema é que a estão usando para interesses próprios, para as conveniências pessoais.

Quais?

Prosperidade, sucesso, milagres, curas. Ninguém quer pagar o preço de conhecer a verdade, de viver a ética. Querem algo enlatado, fast food. A igreja evangélica cresce muito, mas em detrimento da ética. A pessoa se diz cristã, mas o seu comportamento não muda, assim como a sua família e a maneira como lida com o dinheiro. Esquecem que o Cristianismo é transformação. Ele muda o caráter, a vida, a família, a sociedade, a política. Quantos políticos no Congresso Nacional se dizem evangélicos e, muitas vezes, estão à frente da corrupção, usando a fé para benefícios pessoais em vez de serem transformados por ela?

A Reforma Protestante veio de um racha com a Igreja Católica por problemas semelhantes.

A Reforma foi uma volta às Escrituras Sagradas, quando Martinho Lutero e os outros reformadores perceberam que a igreja estava seguindo práticas que não tinham amparo nas escrituras. Hoje as próprias igrejas evangélicas têm práticas contrárias à Bíblia, com enganos, mentiras, milagres a granel. Abrem-se igrejas como se abrem franquias de empresas. É completamente contrário ao que a Bíblia ensina.

Essa discussão está ligada à proposta de retorno à chamada igreja primitiva? O que isso significa?

É o retorno à igreja dos apóstolos, fiel à verdade, disposta a morrer pelo Evangelho, que não negociava a verdade, os princípios, que não vendia sua consciência por dinheiro. Nela os cristãos estavam prontos para morrer pelo Cristianismo.

Era também uma igreja marcada pela vivência em comunidade, bem diferente do individualismo presente na atual sociedade.

Como já disse, é um século humanista, com cada um por si e Deus para todos, onde não há princípios do Cristianismo. Quando se abandona a teologia, a ética se perde. Quando a igreja foge da verdade, a vida começa a ficar errada, aparecem as dificuldades.

Quais?

Problemas no casamento, com os filhos, depressão, ansiedade, uso de drogas. No momento em que a sociedade abandona a verdade, perde o rumo na vida moral.

Há algum movimento em prol dessa reforma?

Sim. Não diria que há um movimento articulado, mas as igrejas históricas estão preocupadas com essa situação.

O que o senhor diria para quem busca espiritualidade?

Que não se pode ter uma fé de segunda mão. A grande conquista da Reforma Protestante foi garantir a independência para buscar a Deus, para ler e entender as Escrituras Sagradas. Não é preciso interveniência de ninguém, não é preciso ser dependente de ninguém. A Bíblia diz: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Quem a conhece não se torna presa de lobos, não se torna inocente útil nas mãos dos aproveitadores.

Perfil

Vida.
Hernandes Dias Lopes é de Nova Venécia, Norte do Estado. Casado com Udemilta Pimentel Lopes, tem dois filhos: Thiago e Mariana

Cursos.
Estudou Teologia no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, São Paulo, e fez doutorado em Ministério no Reformed Theological Seminary, em Jackson, Mississippi, nos Estados Unidos

Igreja.
Foi pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Bragança Paulista, em São Paulo, de 1982 a 1984 e, desde 1985, é o pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória

Atuação.
É conferencista e escritor, com mais de 90 livros publicados. Mantém um programa - Verdade e vida - nas manhãs de sábado, na Rede Vida. É diretor da instituição Luz para os Caminhos, em Campinhas, São Paulo

Contatos.
Teólogo respeitado no meio cristão, possuiu um site hernandesdiaslopes.com.br. Nele é possível encontrar seus sermões, livros, pastorais e vídeos sobre sua atuação

Confira!

Devocionais.
O livro contém 52 reflexões práticas sobre a Bíblia, abordando temas como depressão, família, dinheiro, espiritualidade, ansiedade e amizade. Traz ainda mapas e uma seção que ajuda o leitor a entender melhor questões como os pesos e medidas da época de Jesus. O texto é escrito com uma letra maior, o que pode facilitar a leitura. Lançado pela Editora Hagnos (www.hagnos.com.br), custa R$ 32,90

Outros.
No mesmo dia, o pastor Hernandes Dias Lopes lança outros dois livros: "As Súplicas do Mundo" e "Ouça o que espírito diz às igrejas", também da Editora Hagnos

Local.

O lançamento dos livros acontece na próxima quinta-feira, dia 20, às 16h, na Livraria Moriá, em Vila Velha

Fonte: A Gazeta

TEOLOGIA REFORMADA


Por James Montgomery Boice


A Teologia Reformada recebe seu nome da Reforma Protestante do século XVI, com suas ênfases teológicas distintas, mas é teologia solidamente baseada na própria Bíblia. Os crentes na tradição reformada têm alta consideração as contribuições específicas como as de Martinho Lutero, Jonh Knox e, particularmente, de João Calvino, mas eles também encontram suas fortes distinções nos gigantes da fé que os antecederam, tais como Anselmo e Agostinho e principalmente nas cardas de Paulo e nos ensinamentos de Jesus Cristo.


Os Cristãos Reformados sustentam as doutrinas características de todos os cristãos, incluindo a Trindade, a verdadeira divindade e humanidade de Jesus Cristo, a necessidade do sacrifício de Jesus pelo pecado, a Igreja como instituição divinamente estabelecida, a inspiração da Bíblia, a exigência para que os cristãos tenham uma vida reta, e a ressurreição do corpo. Eles sustentam outras doutrinas em comum com cristãos evangélicos, tais como justificação somente pela fé, a necessidade do novo nascimento, o retorno pessoal e visível de Jesus Cristo e a Grande Comissão.


O que, então, distinto a respeito da Teologia Reformada?


1. A Doutrina das Escrituras


O compromisso da reforma para com a Escritura enfatiza a inspiração, autoridade e suficiência da Bíblia. Uma vez que a Bíblia é a Palavra de Deus e, portanto, tem a autoridade do próprio Deus, os reformadores afirmam que essa autoridade é superior àquela de todos os governos e de todas as hierarquias da Igreja. Essa convicção deu aos crentes reformados a coragem para enfrentar a tirania e fez da teologia reformada uma força revolucionária na sociedade. A suficiência das Escrituras significa que ela não necessita ser suplementada por uma revelação nova ou especial. A Bíblia é o guia completamente suficiente para aquilo que nós devemos crer e para como nós devemos viver como cristãos.


Os Reformadores, em particular, João Calvino, enfatizaram o modo como a Palavra escrita, objetiva e o ministério interior, sobrenatural do Espírito Santo trabalham juntos, e o Espírito Santo iluminando a Palavra para o povo de Deus. A Palavra sem a iluminação do Espírito Santo mantém-se como um livro fechado. A suposta condução do Espírito sem a Palavra leva a erros excessos. Os Reformadores também insistiam sobre o direito de os crentes estudarem as Escrituras por si mesmos. Ainda que não negando o valor de mestres capacitados, eles compreenderam que a clareza das Escrituras em assuntos essenciais para a salvação torna a Bíblia propriedade de todo crente. Com esse direito de acesso, sempre vem a responsabilidade sobre a interpretação cuidadosa e precisa.


2. A Soberania de Deus


Para a maioria dos reformadores, o principal e o mais distinto artigo do credo é a soberania de Deus. Soberania significa governo, e a soberania de Deus significa que Deus governa sua criação com absoluto poder e autoridade. Ele determina o que vai acontecer, e acontece. Deus não fica alarmado, frustrado ou derrotado pelas circunstâncias, pelo pecado ou pela rebeldia de suas criaturas.


3. As Doutrinas da Graça


A Teologia Reformada enfatiza as doutrinas da graça.


Depravação Total: Isso não quer dizer que todas as pessoas são tão más quanto elas poderiam ser. Significa, antes, que todos os seres humanos são afetados pelo pecado em todo campo do pensamento e da conduta, de forma que nada do que vem de alguém, separado da graça regeneradora de Deus, pode agradá-lo. À medida que nosso relacionamento com Deus é afetado, nós somos tão destruídos pelo pecado, que ninguém consegue entender adequadamente Deus ou os caminhos de Deus. Tampouco somos nós que buscamos Deus, e, sim, é ele quem primeiramente age dentro de nós para levar-nos a agir assim.


Eleição Incondicional: Uma ênfase na eleição incomoda muitas pessoas, mas o problema que as preocupa não é realmente a eleição; diz respeito à depravação. Se os pecadores são tão desamparados em sua depravação, como a Bíblia diz que são, incapazes de conhecer a Deus e relutantes em buscá-lO, então, o único meio pelo qual eles podem ser salvos é quando Deus toma a iniciativa de mudá-los e salvá-los. É isso que significa eleição. É Deus escolhendo salvar aqueles que, sem sua soberana escolha e subseqüente ação, certamente pereceriam.


Expiação Limitada: O nome é, potencialmente, enganoso, pois ele parece sugerir que os reformadores desejam de alguma forma limitar o valor da morte de Cristo. Não é o caso. O valor da morte de Cristo é infinito. A questão é saber qual é o propósito da morte de Cristo e o que ele realizou com ela. Cristo pretendia fazer da salvação algo não mais que possível? Ou ele realmente salvou aqueles por quem morreu? A Teologia Reformada acentua que Jesus realmente fez a propiciação pelos pecados daqueles a quem o Pai escolhera. Ele realmente aplacou a ira de Deus para com seu povo, assumindo a culpa sobre si mesmo, redimindo-os verdadeiramente e reconciliando verdadeiramente aquelas pessoas específicas com Deus. Um nome melhor para expiação “limitada” seria redenção “particular” ou “específica”.

Graça Irresistível: Abandonados em nós mesmos, nós resistimos à graça de Deus. Mas, quando Deus age em nosso coração, regenerando-nos e criando uma vontade renovada, então, o que antes era indesejável torna-se altamente desejável, e voltamo-nos para Jesus da mesma forma como antes fugíamos dele. Pecadores arruinados resistem à graça de Deus, mas a sua graça regeneradora é efetiva. Ela supera o pecado e realiza os desígnios de Deus.


Perseverança dos Santos: Um nome melhor seria “perseverança de Deus para com os santos”, mas ambas as idéias estão realmente juntas. Deus persevera conosco, protegendo-nos de deixar a fé, que certamente aconteceria se ele não estivesse conosco. Mas, porque ele persevera, nós também perseveramos. Na realidade, perseverança é a prova definitiva de eleição.


4. Mandato Cultural


A Teologia Reformada também enfatiza o mandato cultural ou a obrigação de os cristãos viverem ativamente em sociedade e de trabalharem para a transformação do mundo e suas culturas. Os reformadores tiveram várias perspectivas nessa área, dependendo da extensão como acreditam que a transformação seja possível. Mas, no geral, concordam com duas coisas. Primeira, nós somos chamados para estar no mundo e não para nos afastarmos dele. Isso separa os reformadores crentes do monasticismo. Segunda, nós devemos alimentar os famintos, vestir os despidos e visitar os prisioneiros. Mas as principais necessidades das pessoas são espirituais, e a obra social não é substituto adequado para a evangelização. Na verdade, o empenho em ajudar as pessoas só será verdadeiramente eficiente se seu coração e mente forem transformados pelo Evangelho. Isso separa os crentes reformados do simples humanitarismo.

Tem-se alegado que, para a Teologia Reformada, qualquer pessoa que crê e faça parte da linha reformada perderá toda a motivação para a evangelização. “Se Deus vai agir, por que devo me preocupar?” Mas não é assim que funciona. É porque Deus executa a obra que nós podemos Ter coragem de nos unirmos a ele, da forma como ele nos ordena a agir. Nós agimos assim alegremente, sabendo que nossos esforços jamais serão em vão.


Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra


A GRANDE RUPTURA


Por John MacArthur

 

Martinho Lutero disse: "Se o nosso evangelho tivesse sido recebido em paz, ele não seria o verdadeiro evangelho". Se alguém já viu a verdade do Cristianismo causar divisões entre pessoas e instituições, essa pessoa foi Lutero. Ele pregou a verdade na Igreja Católica, mas essa verdade não trouxe paz; ao contrário, ela criou a maior ruptura na história da religião. Ela despedaçou o poder monolítico da hierarquia católica e deu início à Reforma Protestante, a qual resgatou o verdadeiro evangelho do sacramentalismo que o mantinha prisioneiro.

Na realidade, Mateus 10.34 é paradoxal porque deveríamos esperar que o Senhor trouxesse a paz. Afinal, João Batista era seu predecessor e ele falou sobre paz. Quando os anjos proclamaram o nascimento do Messias eles cantaram "Paz na terra". E, em João 14.27, Jesus afirma: "A minha paz vos dou".

Em pelo menos três lugares na carta aos Romanos, Paulo falou sobre a paz que Deus nos dá (5.1; 8.6; 14.17). E verdade que existe paz no coração daqueles que crêem, mas no que concerne ao mundo, não existe outra coisa senão divisão. Sim, ele trouxe a paz de Deus ao coração do crente, e, algum dia, haverá um reino de paz. O Antigo Testamento nem sempre fez uma distinção clara entre a primeira e a segunda vindas. A primeira trouxe uma espada; a segunda trará a paz perfeita

E verdade que a primeira vinda trouxe uma paz parcial, a paz que penetra o coração de todo que crê. Mas o Senhor advertiu os discípulos: "Lembrem-se disto quando saírem: Vocês causarão divisão. Causarão uma laceração e uma separação".

O evangelho faz isso. E o fogo refinador que consome. Ele produz a separação entre ovelhas e cabritos feita pelo pastor. Ele traz a pá do agricultor que joga os grãos para o ar e o joio é separado. A entrada de Cristo quebra e separa. Se Cristo nunca tivesse vindo, a terra teria continuado unida, condenada ao inferno. Mas quando ele veio, uma guerra estourou.

Em Lucas 12, vemos algo disso. No versículo 49, Jesus diz: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder". Versículo 51: "Supondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo; antes, divisão". Ele veio para trazer uma espada, não paz, no sentido de que ele veio para colo¬car os membros de uma família uns contra os outros. Ele afirmava que aqueles que fossem verdadeiros discípulos estariam dispostos a criar uma divisão em seu próprio lar.

Isso vai contra todos os nossos instintos, porque desejamos paz no nosso lar mais do que qualquer outra coisa. E o nosso refugio, é o lugar onde vivem as pessoas que mais amamos e melhor conhecemos. Não queremos viver em desavença com eles. Mas quando nos comprometemos com Jesus Cristo, se¬remos leais a ele, mesmo que isso destrua nosso lar, a nossa vizinhança, nossa cidade, nossa nação. Se esse é o preço, pagaremos.

Jesus expressou a severidade dessa ruptura na frase de Mateus 10.35: "Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai". Algumas traduções dizem: "Pois vim colocar o homem em divergência com seu pai". A expressão grega "em divergência com", ou "contrário a" é rara, e usada apenas nessa passagem do Novo Testamento. Ela significa romper as relações. Jesus dizia: "Eu separarei totalmente o homem de seu pai e todos os outros parentes entre si. Destruirei as famílias de todas as maneiras possíveis".

Esse é o pior rompimento possível. Não é tão ruim quando estamos em desavença com vizinhos, com o patrão, com amigos ou com a sociedade, mas quando chega à família e o compromisso com Jesus Cristo significa uma rup¬tura com os parentes, é aí que as coisas realmente começam a se tornar difí¬ceis. Seu compromisso com Cristo vai contra o amor por eles e a necessidade que sentimos da presença deles.

Seu compromisso vai contra o desejo de viver em harmonia. Ser cristão e seguir a Jesus Cristo pode significar uma divisão dentro do lar. Mas essa é a marca do verdadeiro discípulo. Muitas vezes, unir-se a Cristo significa o afastamento de membros da família que nos rejeitam porque não rejeitamos o evangelho. Isso é especialmente verdadeiro em famílias judias, assim como nas famílias que professam outras religiões falsas.

Esse é um padrão difícil, e muitas pessoas sentem que é sacrifício demais. Algumas esposas não irão a Cristo porque temerão se separar do marido. Al¬guns maridos não aceitarão a Cristo porque temerão se separar da esposa. Os filhos podem não ir a Cristo por temerem seus pais ou mães, e vice-versa. As pessoas não assumem sua posição ao lado de Cristo porque desejam manter a harmonia familiar. Mas Jesus disse que o verdadeiro discípulo deixará sua família, se for necessário fazer tal escolha. Isso faz parte da auto-renúncia, aceitar alegremente o alto custo de servir a Jesus para receber suas infinitas bênçãos para os tempos de hoje e para a eternidade.

UM AMOR MAIOR

O amor familiar é forte; sem dúvida é o laço humano mais profundo e íntimo. Porém, ele não tem o poder que o amor por Cristo tem. Este é tão forte que algumas vezes rompe os laços familiares. Uma jovem senhora que conheço contou que se tornara crista vindo de uma família totalmente paga e, como resultado, seu pai, a quem ela amava muito, se recusava a falar com ela, quer pessoalmente quer por telefone; ele desligava o telefone quando ela ligava. Disse ela: "Sempre penso que ele deveria estar contente porque não sou uma alcoólatra, não sou viciada em drogas, não sou uma criminosa, não passei por nenhum acidente terrível que tivesse me deixado aleijada ou machucada. Nunca fui tão feliz em minha vida como sou agora que me tornei cristã e, por causa do meu amor por Cristo, ele não fala comigo". A razão é a espada.

A mesma espada caiu entre Caim e Abel. Abel era um homem justo, Caim era injusto, e a ruptura foi tão grande que Caim não conseguiu suportá-la — por isso matou o seu irmão.

Primeira Coríntios 7 mostra-nos como a espada interfere num casamento cristão. Se você tem uma mulher não-crente e ela concorda em permanecer com você, não se divorcie dela. Se você tem um marido não-crente e ele deseja permanecer com você, deixe-o ficar porque certa santificação ocorre. Ou seja, as bênçãos de Deus que caem sobre o crente atingem de modo temporal o parceiro não-crente. "Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz" (v. 15). Esse é o outro lado da situação. Uma vez que a espada caiu, então Deus nos tem chamado à paz, e se o descrente deseja apartar-se, devemos deixá-lo ir.

Tornar-se cristão significa estar cansado do próprio pecado, ansiando por perdão e pelo resgate do pecado atual e do inferno futuro, e afirmar nosso compromisso com o senhorio de Cristo até o ponto em que estamos prontos a abandonar tudo. Eu já disse isso antes e tornarei a dizer novamente: não se trata apenas de uma questão de levantar a mão, caminhar até a frente e dizer "Eu amo a Jesus". Isso não é fácil, não é algo que nos tornará mais popular nem é uma resposta às necessidades que o mundo diz que temos. Não é um mundo perfeito e cor-de-rosa no qual Jesus nos concede tudo o que deseja¬mos. E difícil, exige sacrifício e põe tudo de lado.

A manifestação da verdadeira fé é um comprometimento que nenhuma influência consegue abalar. Sem dúvida você ama sua família, seus filhos, seus pais, seu esposo ou sua esposa. Mas se você é discípulo verdadeiro, o compromisso com a salvação encontrada unicamente em Cristo é tão profundo, tão intenso e tem um alcance tal que, se for necessário, dirá não àqueles a quem ama por causa de Cristo.

John Bunyan conheceu esse sofrimento de maneira muito especial. As autoridades disseram-lhe que parasse de pregar, mas ele respondeu: "Não posso parar de pregar porque Deus me chamou para isso". A resposta foi: "Se o senhor pregar, nós o colocaremos na prisão".

Então ele pensou consigo mesmo: "Se eu for para a prisão, quem cuidará da minha família? Ao mesmo tempo, como posso fechar a minha boca quando Deus me chamou para pregar?".

Bunyan foi suficientemente forte, corajoso e fiel para entregar sua família aos cuidados de Deus e permaneceu fiel e obediente ao chamado para pregar, e eles o colocaram na prisão. E foi na prisão que ele escreveu sua magnífica alegoria, O Peregrino, que tem abençoado tantos milhões de famílias ao longo dos séculos com seu ensino sobre o caminho da salvação. Sem ele, sua família sofreu, mas Deus cuidou dela. E mediante esse sofrimento, Deus realizou obras maravilhosas na vida de incontáveis pessoas.

Num apêndice à sua autobiografia Grace Aboundingto the ChiefofSinners, Bunyan escreveu:

A separação de minha esposa e de meus pobres filhos tem sido freqüentemente para mim neste lugar [a cadeia], como arrancar a carne de meus ossos; e isso não porque eu seja de certo modo muito ligado e aficionado a essas grandes Misericórdias, mas também porque eu sempre tinha de trazer à minha mente as muitas dificuldades, misérias e necessidades que minha pobre família teria de enfrentar se eu tivesse de ser apartado deles, especialmente meu pobre filho cego, que permanece mais próximo do meu coração do que qualquer um dos outros. O, o pensamento das dificuldades que eu penso que o meu filho poderá enfrentar, parte o meu coração em pedaços ... Mas, ainda assim, relembrando o que se passou, eu pensei: preciso entregar todos a Deus, embora eu esteja para deixá-los em breve. Nessa condição eu me percebi como um homem que estava destruindo sua casa sobre a cabeça de sua esposa e filhos; ainda assim, pensei, eu tenho de fazer isso, eu tenho de fazer isso.'

Peço a Deus que nunca tenha de tomar esse tipo de decisão, mas é uma possibilidade. Você pode ter tido a necessidade de fazer essa escolha porque confessou a Jesus Cristo, e certamente isso foi um fardo para sua família. Mas essa é a maneira pela qual provamos a realidade da nossa conversão. Aquele que diz: "Não estou disposto a fazer esse sacrifício", não é genuíno. Em Mateus 10.37 Jesus diz: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim". Não podemos ser seus discípulos e receber sua salvação se nossa família significa mais para nós do que Cristo.

Extraído de: www.josemarbessa.com