quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

PECADOS DE OMISSÃO


Por John Owen (1616 – 1683)


Você não mortificará nenhum pecado a não ser que, sincera e diligentemente, busque lidar com todo pecado.

Para colocar isto de modo bem simples, ao cristão não é dada a opção de decidir qual é o pecado na sua vida que precisa ser mortificado. Se o cristão não estiver comprometido com a mortificação de cada um e de todos os pecados na sua vida não alcançará sucesso na mortificação de um único pecado. 

Permitam-me explicar o que quero dizer de um modo ainda mais completo.

Um cristão é provado por um desejo pecaminoso. Este desejo pecaminoso (pense naquele que melhor se aplica a você) perturba o cristão. Está sempre derrotando-o e rodeando-o de modo que ele aspira por uma libertação completa. Não apenas isso, ele luta, na verdade, contra esse pecado, ora e lamenta quando é derrotado por ele. Ao mesmo tempo, contudo, há outros deveres da vida cristã que ele não leva muito a sério. Pode passar dias sem desfrutar de verdadeira comunhão com Deus. Pode ler sua Bíblia de um modo casual, negligenciando a meditação na Palavra de Deus e gasta pouco ou nenhum tempo em oração. Estes deveres negligenciados ou executados de modo indiferente na sua vida cristã são pecados (pecados de omissão), mas não o perturbam como o pecado do qual deseja ser liberto. Bem, o ponto que estamos procurando enfatizar é que o cristão não deve esperar obter libertação do pecado que o perturba enquanto não começar a tratar os outros pecados com a mesma seriedade.

Por que as coisas são assim? Há duas razões:

a) Esta tentativa de alcançar uma mortificação parcial se baseia num raciocínio falso. Sem ódio ao pecado como pecado (e não apenas ódio das suas conseqüências perturbadoras) e um sentimento do amor de Cristo na cruz, não pode haver a verdadeira mortificação espiritual. Ora, esta tentativa de mortificação não evidencia estar sendo motivada pelo ódio ao pecado como pecado e a um reconhecimento do amor de Cristo na cruz. Antes, o motivo é tão-somente o amor próprio. Certo pecado em particular perturba a paz desta pessoa e o seu bem-estar, e então ela luta contra este pecado simplesmente para obter novamente a paz e o bem-estar.

A esta pessoa um pastor fiel precisaria dizer:

Amigo, você tem negligenciado a oração e a leitura da Bíblia. Você tem sido descuidado quanto ao exemplo de vida que dá aos outros. Estas coisas são tão pecaminosas e más como o pecado que você está procurando vencer. Jesus derramou Seu sangue por esses pecados também. Por que você não se esforçou para vencê-los? Se você realmente odiasse o pecado, você seria tão vigilante em relação a tudo que entristece e perturba o Espírito Santo como está sendo em relação a este pecado que perturba sua alma. Acaso você não percebe que sua batalha contra o pecado se volta tão somente para a busca da sua paz e do seu bem-estar? Pensa que pode contar com a ajuda do Espírito Santo para livrá-lo do pecado que lhe perturba quando não demonstra nenhuma preocupação em lidar com outros pecados que O entristecem tanto quanto esse que perturba você?

O que quer que possamos pensar, a obra da mortificação que Deus requer é um comprometimento total com a mortificação de todo pecado. Se um cristão sinceramente pretende fazer o que Deus requer, pode contar com a ajuda do Seu Espírito. Se o cristão está apenas interessado em fazer sua própria obra (ou seja, simplesmente mortificar o pecado que o perturba) Deus o entregará a lutar pela sua própria força. O mandamento é: "purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Cor. 7:1). Se fizermos alguma coisa, é mister que tentemos fazer todas as coisas.

b) Às vezes Deus usa um desejo pecaminoso forte e que não foi mortificado num cristão como um meio de discipliná--lo. Quando um cristão fica morno (Apoc.3:16ss.) e descuidado no seu andar com Deus, Ele, às vezes, permite que um desejo pecaminoso cresça, fique forte no seu coração, para que se torne numa chaga e num fardo para ele. Esta pode ser uma das maneiras de Deus disciplinar um cristão por sua desobediência, ou pelo menos despertá-lo para que atente para seus caminhos e seja chamado a uma mortificação total do pecado. Um exemplo semelhante a este se pode ver na maneira de Deus lidar com Israel nos dias dos Juizes (veja, por exemplo, Juizes 1:27 a 2:3 - especialmente 2:3).

Nota 1

Quando um cristão é atormentado por certo desejo pecaminoso que é tão forte que ele mal sabe como lidar com ele e controlá-lo, isto é geralmente o resultado de um andar descuidado com Deus ou de uma atitude de não levar a sério as advertências das Escrituras.

Nota 2

Às vezes Deus usa a chaga de certo desejo pecaminoso em particular para evitar ou curar algum outro mal. Foi esse o propósito de Deus ao permitir que um mensageiro de satanás perturbasse Paulo, impedindo dessa maneira que "ele se ensoberbecesse com a grandeza das revelações" que havia recebido (veja 2 Cor. 12:7). De igual maneira, pode ser que o Senhor tenha deixado que Pedro O negasse, como um meio de corrigir a exagerada confiança de Pedro em si mesmo.

Quem quiser mortificar qualquer forma perturbadora de lascívia na sua vida, de modo completo e aceitável, deve cuidar de ser igualmente diligente na obediência a todos os deveres aos quais Deus o chama. Deve, também, saber que todo desejo pecaminoso, toda omissão no cumprimento do dever, entristece a Deus. Enquanto houver um coração enganoso, que esteja preparado para negligenciar a necessidade de lutar pela obediência em cada área, haverá uma alma fraca que não está permitindo que a fé execute toda sua obra. Qualquer alma que se encontre numa condição tal de fraqueza, não tem o direito de esperar o sucesso na obra da mortificação.


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