segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

PORQUE ME TORNEI UM PRESSUPOSICIONALISTA CONVICTO


Por Michael J. Vlach

De acordo com a abordagem apologética do pressuposicionalismo, os cristãos deveriam pressupor a verdade do cristianismo como o ponto de partida para defender a fé cristã. Em adição, a Bíblia deve ser a estrutura através da qual toda experiência é interpretada e toda verdade conhecida.

Durante toda a minha vida cristã tenho me identificado com aqueles que afirmam ser a apologética pressuposicionalista a forma de defender as verdades do Cristianismo que honra a Deus. Essa era a perspectiva das igrejas com as quais me envolvi, e era a posição de grande parte do meu treinamento teológico. Assim, com respeito à apologética, o pressuposicionalismo tem sido minha herança teológica.

Todavia, houve um tempo quando comecei a me perguntar se o pressuposicionalismo era verdadeiramente a melhor abordagem apologética. À medida que lia as obras de autores cristãos impressionantes que promoviam a apologética clássica e evidencialista, comecei a ter dúvidas sobre o pressuposicionalismo. Talvez eu estivesse sendo muito ingênuo e simplista ao pensar que poderia assumir as verdades da Bíblia como meu ponto de partida para defender a fé contra os incrédulos. Afinal, era na verdade intelectualmente aceitável assumir o que eu estava tentando provar? Não era um raciocínio circular assumir a Bíblia para provar a Bíblia? O que dizer sobre os impressionantes argumentos evidencialistas para o Cristianismo – não deveria começar com esses quando lidando com o incrédulo?

Enquanto lutando com essas questões, eu também estava ensinando no departamento de ciências humanas de uma faculdade secular em Lincoln, Nebraska. Como lidava com ateístas e pessoas que sustentavam outras cosmovisões, tive que decidir sobre uma abordagem apropriada para explicar e defender a cosmovisão cristã. Eu me engajaria primariamente numa batalha intelectual à medida que organizasse várias evidências empíricas e históricas para defender a fé cristã, ou começaria com a Palavra de Deus?

Eu considerei várias fontes em minha pesquisa. Acima de tudo, examinei as Escrituras. Li também extensivamente as obras de pressuposicionalistas, bem como daqueles que promoviam a apologética clássica e evidencialista. Finalmente, cheguei à sólida convicção que a apologética pressuposicional era a forma que mais honrava a Deus e mais eficaz de defender a fé. Eu tornei-me um pressuposicionalista convicto e não apenas um pressuposicionalista por herança.

No processo de tornar-me um pressuposicionalista convicto, certos fatores foram mais influentes. O que estou para dizer não é uma série exaustiva de razões pelas quais o pressuposicionalismo é melhor, pois há muitas outras razões que não menciono. Mas essas questões foram especialmente relevantes para mim à medida que lutei com a questão do método apologético.

A Depravação do Homem

Uma das principais questões com respeito à apologética é ter uma antropologia (doutrina do homem) e hamartologia (doutrina do pecado) bíblica. Qual é a natureza desse homem ou mulher incrédulo? Como o pecado afetou a capacidade dessa pessoa entender a verdade de Deus?

A Palavra de Deus é clara que o problema primário para os incrédulos é moral e espiritual – não intelectual. O incrédulo é alguém que suprime a verdade (Rm. 1:18b), cuja mente é totalmente escurecida para as coisas de Deus (Ef. 4:18). Assim, perguntei para mim mesmo: “Qual é a melhor abordagem para lidar com a incredulidade?” É um apelo à razão do incrédulo? Arranjamos o caso para a existência de Deus e as razões históricas para o Cristianismo como a primeira linha de argumento, como os apologistas clássicos e evidencialistas afirmam? Ou nossa defesa da fé deveria começar com as armas espirituais que podem penetrar o coração – a saber, a Palavra de Deus e o Espírito de Deus?

Tornei-me convicto que começar com a evidência empírica e histórica num apelo ao intelecto do incrédulo não aborda na verdade o cerne do problema. Se o problema principal do incrédulo é moral e espiritual, não deveria minha estratégia como um cristão abordar diretamente os problemas morais e espirituais do incrédulo? Deveria eu fazer um apelo à razão do incrédulo e oferecer-lhe a oportunidade de examinar se as evidências estão verdadeiramente do lado do Cristianismo?

Certamente eu creio que as evidências empíricas e históricas, quando propriamente entendidas, apóiam a cosmovisão cristã. E eu não sou contra usar essas evidências dentro de uma estrutura pressuposicionalista. Mas passei a crer que o ponto de partida para lidar com a incredulidade era a Palavra de Deus e o Espírito de Deus. Eu não poderia colocar a existência de Deus ou a autoridade da Bíblia numa mesa de laboratório, para ser examinada por um incrédulo, que é por natureza alguém que suprime a verdade com a sua mente obscurecida. A Bíblia não concede ao incrédulo tal autonomia, nem eu deveria fazê-lo.

À medida que examinei as obras de autores pressuposicionalistas e aqueles que defendiam a apologética clássica e evidencialista, tornei-me convicto que a abordagem pressuposicionalista levava a sério a natureza do homem e do pecado. Embora queira ser cuidadoso contra fazer declarações universais, parece-me que a maioria das obras a partir de uma perspectiva clássica ou evidencialista simplesmente pula para “evidências” a favor da fé cristã, sem muita discussão ou pensamento com respeito à natureza do homem e do efeito do pecado sobre ele. Em outras palavras, percebi que a maioria desses escritos não considerava as doutrinas bíblicas do homem e do pecado. Por outro lado, os pressuposicionalistas, de forma correta, fazem a devida justiça ao ensino bíblico sobre antropologia e hamartologia. Esse foi um fator importante em minha decisão.

Implicações da Imagem de Deus e a Ordem Criada

As implicações teológicas da imagem de Deus e a criação de Deus também foram importantes no meu processo de tornar-me um pressuposicionalista convicto. Quando ponderava sobre a questão da apologética, me perguntava: “Existe algum ponto de terreno comum que nós que somos cristãos compartilhamos com todos os incrédulos?” Há algo que podemos assumir que todos os incrédulos conhecem, e que possamos usar como o fundamento para o evangelismo e a apologética?

A resposta da Escritura é um ressonante SIM! A resposta é a imagem de Deus. Mesmo após a Queda de Adão, todas as pessoas possuem a imagem de Deus (veja Gn. 9:6; Tiago 3:9). As implicações para isso são gigantescas. A imagem de Deus em cada pessoa significa que todo o mundo já conhece certas verdades. Romanos 1 indica que cada pessoa já “conhece a Deus” (v. 21) em algum sentido. Sem dúvida, os incrédulos não conhecem a Deus como seu Salvador, mas eles sabem que Deus existe. Eles também sabem que são pecadores e responsáveis diante de Deus. O Salmo 19:1-6 indica que a criação grita a existência de Deus a todos, 24 horas por dia.


Essa verdade tem grandes implicações para a apologética. Os apologistas clássicos dizem que devemos tomar uma abordagem de dois passos com os incrédulos. Devemos usar primeiro várias evidências para convencer o incrédulo da existência de Deus e então usar as evidências históricas para estabelecer a verdade do Cristianismo. Mas se todas as pessoas foram criadas à imagem de Deus e sabem intuitivamente que existe um Criador, e se a criação grita para o incrédulo que Deus existe, por que eu deveria permitir que o incrédulo questione seriamente se Deus existe ou não? Ele já sabe que o Deus da Bíblia existe.

Claro, em sua rebelião ele suprime essa verdade em injustiça, mas no fundo do seu coração ele já sabe que Deus existe e que ele está em rebelião contra esse Deus. A existência de Deus não tem que ser colocada na mesa para análise. Como criaturas à imagem de Deus, todos nós já sabemos isso. A questão principal para todos nós é: “Submeteremo-nos ao Deus que sabemos existir?”.

Creio que o pressuposicionalismo aborda de maneira mais adequada os conceitos da imagem de Deus e o testemunho de Deus por meio da criação. Esse é um conceito muito libertador. À medida que flertei com a apologética clássica e evidencialista, percebi que a pessoa deveria estudar uma grande quantidade de ciência e filosofia para confrontar adequadamente o incrédulo num nível intelectual. Uma pessoa deve ter um Ph.D. nessas áreas para defender a fé? O que dizer do cristão que não conhece muito sobre essas “evidências” para a fé cristã?

Um entendimento apropriado do pressuposicionalismo é encorajador para o cristão mediano. Essa abordagem ajuda-o a entender a grande vantagem que ele tem. Em vez de entrar numa luta intelectual com o incrédulo, podemos proclamar com autoridade o que nós e o incrédulo já sabemos ser verdade – “O Deus da Bíblia criou você. Você está em rebelião contra Ele. Arrependa-se. Renuncie sua guerra e confie nele para salvação!” Assim, a pessoa que tem sido um cristão por apenas um dia, ou uma senhora idosa sem nenhum treinamento teológico formal, pode enfrentar o incrédulo, não importa quão esperto ele seja, e dizer: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”, e fazê-lo com confiança.

Eu aprecio a obra feita por apologistas que não são pressuposicionalistas. Visto que este é o mundo de Deus, creio que todo o registro histórico e empírico, quando corretamente entendido, apóia o Cristianismo. Vejo que meu coração se encoraja quando leio como as descobertas da ciência e da história alinham-se com o que Deus já declarou em Sua Palavra. Todavia, por causa da natureza do homem, não posso começar com a ciência e a história. Eu devo começar com o testemunho do Deus que existe e Sua Palavra inspirada e autoritativa. Não posso conceder ao homem natural a autonomia para questionar a Deus e usar sua razão para fazer conclusões contra Deus.

Existem muitos outros aspectos da apologética pressuposicional que descobri serem úteis, mas estão além do propósito deste testemunho. Mas foi o entendimento bíblico da depravação total, da imagem de Deus e da ordem criada que fez a diferença com respeito ao método apologético que escolhi usar. Esse é o porquê sou agora um pressuposicionalista convicto.

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Sobre o autor: Michael J. Vlach ensina Apologética, Teologia História e Teologia no Master’s Seminary em Sun Valley, Califórnia.

Fonte: Faith for All of Life, Jul./Ago. 2007, p. 24-25.

Extraído do site monergismo.com




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