quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A SANTIDADE DE DEUS


por Arthur W. Pink

"Quem te não temerá, ó Senhor e não magnificará o teu nome? Porque só tu és santo..." (Apocalipse 15:4). Somente Ele é independente, infinita e imutavelmente santo. Muitas vezes Ele é intitulado "O Santo nas Escrituras. Sim, porque se acha nEle a soma total de todas as excelências morais, Ele é pureza absoluta, que nem mesmo a sombra do pecado mancha. "...Deus é luz...” (1 João 1:5). A santidade é a excelência propriamente dita da natureza divina: o grande Deus é "... glorificado em santidade...” (Êxodo 15:11). Daí lermos: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a vexação não podes contem­plar..." (Habacuque 1:15). Como o poder de Deus é o oposto da fraqueza inata da criatura, como a Sua sabedoria está em contraste com o menor defeito de entendimento ou com a menor insensatez, assim a Sua santidade é a própria antítese de toda mancha ou corrupção moral. No passado Deus designou cantores em Israel para "que louvassem a Majestade santa", ou, na versão utilizada pelo autor, "que louvassem a beleza da santidade" (2 Crônicas 20:21). "O poder á a mão ou o braço de, Jesus, a  onisciência os Seus olhos, a misericórdia as Suas entranhas, a eter­nidade a Sua duração, mas a santidade é a Sua beleza" (S. Charnock). É isto Que, acima de tudo. torna-O amorável aos que fo­ram libertos do domínio do pecador.

Grande ênfase é dada a esta perfeição de Deus. "Deus é com mais freqüência intitulado Santo do que Onipotente, e é mais exposto por esta parte da Sua dignidade do que por qualquer outra. É fixada ao Seu nome como um (epitéto) mais do que qual­quer outra, Você jamais o vê expresso, “Seu poderoso nome" ou "Seu sábio nome", mas Seu grande nome e, acima de tudo, Seu santo nome. Este é o maior título de honrar neste último transpa­recem a majestade e a venerabilidade do Seu nome?; (S. Charnock). Como nenhuma outra, esta perfeição é celebrada diante do trono do céu, bradando os serafins: "... Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos..." (Isaías 6:3), Deus mesmo coloca em distinção esta perfeição: "Uma vez jurei por minha santidade que não mentirei a Davi"  (Salmo 89:35). Deus jura por Sua "santidade porque esta é uma expressão do Seu ser, expressão mais completa que qualquer outra coisa. Eis porque somos exortados: "Cantai ao Senhor, vós que sois seus santos, e celebrai a memória da sua santidade" (Salmo 30:4). "Pode-se dizer que este atributo é transcendental e que, por assim dizer, permeia os demais e lhes dá brilho, É o atributo dos atributos" (J. Howe, 1670). Assim, lemos sobre "... a formosura do Senhor.,." (Salmo 27:4), que não é outra que "...  a beleza da santidade..." (Salmo  110:3).

"Visto que esta excelência parece se colocar acima dê todas as outras perfeições de Deus, assim ela constitui a glória destas; como é a glória da Deidade, assim é a glória de cada uma das perfeições da Deidade; como o poder de Deus é a energia das Suas perfeições, a Sua santidade é a beleza delas: como todas seriam fracas sem a onipotência divina para sustentá-las, seriam todas desgraciosas sem a santidade para adorná-las. Se esta se maculasse, todas as demais perderiam a sua honra; seria como se o sol perdesse a sua luz — no mesmo instante perderia seu calor» seu poder, sua virtude geradora e vivificante. Como no cristão a sinceridade é o brilho de todas as graças, em Deus a pureza é o esplendor de todos os Seus atributos, Sua justiça é santa. Sua sabedoria é santa. Seu braço poderoso é um "braço santo" (Salmo 98:1), Sua verdade ou palavra é uma "santa palavra" (Salmo 105:42). Seu nome, que expressa todos os Seus atributos juntos, é "santo"  (Salmo  103:1)" (S. Charnock).

A santidade de Deus se manifesta em Suas obras. "Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras" (Salmo 145:17), Nada senão o que é excelente pode pro­ceder d Ele. A santidade é o padrão de todas as Suas ações. No princípio Ele declarou que tudo o que tinha feito '"era muito bom" (Gênesis 1:31), e não poderia ter feito o que fez se nisso houvesse algo imperfeito ou impuro. O homem foi feito "reto" (Eclesiastes 7:29), à imagem e semelhança do seu Criador. Os anjos que caíram foram criados santos, pois se nos diz que "... não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua pró­pria habitação..." (Judas 6). Sobre Satanás está escrito: "Per­feito eras nos teus caminhos, desde o dia em, que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti" (Ezequiel 28:15).

A santidade de Deus se manifesta em Sua lei. Essa lei proíbe o pecado em todas as suas variantes -— nas suas modalidades mais refinadas, e nas mais grosseiras, os intentos da mente, como a contaminação do corpo, o desejo secreto como o ato abertamente praticado. Pelo que lemos: “... a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" (Romanos 7:12). Sim, "... o mandamento do Senhor é puro, e alumia os olhos. O temor do Senhor é limpo e permanece eternamente, os juízos do Senhor são verdadeiros e justos juntamente" (Salmo 19:8-9).

A santidade de Deus se manifesta na cruz. De maneira espan­tosa, e, contudo, a mais solene, a expiação demonstra a santidade infinita de Deus e Seu ódio ao pecado. Quão odioso para Deus" há de ser o pecado, a ponto de castigá-lo até ao limite extremo do seu merecimento, quando o imputou ao Seu Filho! "Nem to­dos os vasos do juízo já derramados ou por derramar sobre o mundo ímpio, nem a chama ardente da consciência do pecador, i nem a sentença irrevogável pronunciada contra os demônios re­beldes, nem o gemido das criaturas condenadas demonstram o ódio de Deus ao pecado, como o demonstra a ira de Deus derra­mada sobre o Seu Filho. Nunca a santidade divina parece mais bela e mais amorável do que na hora em que o semblante do Salvador ficou por demais desfigurado em meio aos estertores da Sua agonia mortal. Ele próprio o reconhece no Salmo 22. Quando o Senhor afastou dEle o Seu risonho rosto e Lhe fincou no coração aguda faca, provocando Seu terrível brado, "Deus meu, Deu meu, por que me abandonaste?" (vers. 1). Ele adora esta perfei­ção — "Tu és santo" (vers. 3) S. Charnock.

Desde que Deus é santo, Ele odeia todo e qualquer pecado. Ele ama tudo quanto está em conformidade com as Suas leis, e detesta tudo que lhes é contrário. Sua Palavra declara expressa­mente: "... o perverso é abominação para o Senhor...” (Pro­vérbios 3:32), E ainda: "Abomináveis são para o Senhor os pen­samentos do mau..." (Provérbios 15:26). Segue-se, pois, que Ele necessariamente tem que punir o pecado. Do mesmo modo como o pecado requer a punição por Deus, exige também o Seu ódio. Deus perdoa muitas vezes o pecador; nunca, porém, perdoa o pecado; e o pecador só é perdoado com base no fato de que Outro levou sobre Si o castigo que lhe era devido; sim, pois; “... sem derramamento de sangue não há remissão (Hebreus 9:22). Razão pela qual se nos diz: "...o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos" (Naum 1:2). Por um pecado Deus expulsou do Éden os nossos primeiros pais. Por um pecado toda a posteridade de Cão caiu sob maldição que permanece sobre ela até o dia de hoje. Por um pecado Moisés foi impedido de entrar em Canaã, o servo de Eliseu foi castigado com lepra, Ananias e Safira foram elimi­nados da terra dos viventes.

Temos aqui prova da divina inspiração das Escrituras. Os não regenerados não crêem realmente na santidade de Deus. O conceito que eles têm do caráter de Deus é inteiramente unila­teral. Eles esperam de coração que a Sua misericórdia sobrepuje tudo mais. "... pensavas que era como tu..." (Salmo 50:21) é a acusação que Deus lhes faz. Eles pensam somente num "deus" segundo o padrão dos seus corações maus. Daí permanecerem eles no caminho de uma exacerbada insensatez. A santidade atri­buída pelas Escrituras à natureza e ao caráter de Deus é tal, que demonstra com clareza a sua origem super-humana. O caráter atri­buído aos deuses dos antigos e do paganismo moderno é justa­mente o inverso daquela imaculada pureza que pertence ao Deus verdadeiro. Um Deus inefavelmente santo, que tem a mais intensa aversão a todo pecado, jamais foi inventado por um dos decaídos descendentes de Adão. O fato é que nada torna mais manifesta a. terrível depravação do coração do homem e a sua inimizade contra o Deus vivo, do que expor diante dele Aquele Ser único que é infinita e imutavelmente santo. A idéia que o homem faz de pecado limita-se praticamente ao que o mundo chama de "crime''. Tudo que fica aquém disso pode ser abrandado como "de­feitos", "'enganos", "'fraquezas” etc. E mesmo quando se admite a existência do pecado apresentam-se escusas e atenuantes.

"O "deus" que a imensa maioria dos cristãos professos “ama” é visto como alguém muito parecido com um ancião indulgente, que pessoalmente não tem prazer nas loucuras, mas tolerantemente fecha os olhos para as "indiscrições" da mocidade. Mas a Palavra diz: “... aborreces a iodos os que praticam a maldade” (Salmo 5:5). E mais: "Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias" (Salmo 7:11). Mas os homens se re­cusam a dar crédito a este Deus e rangem os dentes quando o Seu ódio ao pecado lhes é enfática e fielmente apresentado. Não, como o homem preso ao pecado jamais teria criado o lago de fogo no qual seria atormentado para todo o sempre, muito menos haveria a probabilidade dele inventar um Deus santo.


Sendo que Deus é santo, a aceitação da parte dEle, com base nas ações das criaturas, é completamente impossível. Uma criatura caída pode mais facilmente criar um mundo, do que pro­duzir algo capaz de receber aprovação dAquele que é pureza infinita. Podem as trevas morar com a luz? Pode o Ser imaculado sentir prazer com o "trapo da imundícia"? (Isaías 64:6) O me­lhor que o homem pecador pode produzir vem manchado. Uma árvore contaminada não pode dar bom fruto. Deus se negaria a Si próprio, envileceria as Suas perfeições, se tivesse por justo e santo aquilo que não o é em si mesmo; e nada é santo, desde que tenha a mínima mancha do que seja contrário à natureza de Deus. Mas, bendito seja o Seu nome, pois, aquilo que a Sua san­tidade exigiu, a Sua graça supriu em Cristo Jesus,nosso Senhor! Todo pobre pecador que correu para Ele em busca de “refúgio, foi e permanece aceito no Amado” (Efésios 1:6). Aleluia!

Posto que Deus é santo requer-se de nós que nos aproxime­mos dEle com a máxima reverência. "Deus deve ser em extremo tremendo na assembléia dos santos, e  grandemente  reverenciado por todos os que o cercam'" (Salmo 89:7), Portanto, "Exaltai ao Senhor nosso Deus, e prostrai-vos diante do escabelo de seus pés, porque ele ê santo" (Salmo 99:5). Sim, “diante do escabelo dos seus pés", na postura da mais profunda humildade, prostrai-vos. Quando Moisés  ia   aproximar-se   da  sarça   ardente,  disse  Deus: "... tira os teus sapatos de teus pés... " (Êxodo 3:5). É preciso servi-lO "com temor" (Salmo 2:11). A exigência que Deus fez a Israel foi: "... serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante  de  todo o  povo...” (Levítico 10:3). Quanto mais tomados de temor ficarmos por Sua inefável santi­dade, mais aceitável será o nosso acesso a Ele.

Visto que Deus é santo, devemos querer amoldar-nos a Ele. Seu mandamento é: “... sede santos, porque eu sou santo"  (1 Pedro 1:16). Não somos obrigados a ser onipotentes ou oniscien­tes como Deus ê, mas temos que ser santos, e isto em toda a nossa "... maneira de viver" (1 Pedro 1:15). "Esta é a maneira primordial de honrar a Deus. Glorificamos a Deus pelas atitudes de elevada admiração, pelas expressões eloqüentes, pelos pompo­sos serviços de adoração, mas não tanto como quando aspiramos a conversar com Ele com espírito livre de mácula, e a viver para Ele vivendo como Ele vive" (S. Charnock). Então, como só Deus é a origem e a fonte da santidade, busquemos zelosamente dEIe a santidade; seja a nossa oração diária no sentido de que Ele nos "...  santifique em tudo..."; e todo o nosso "espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vin­da de nosso Senhor Jesus Cristo" (I  Tessalonicenses  5:23).

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Fonte:
Os Atributos de Deus, Arthur W. Pink, Ed. PES.



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