sábado, 5 de novembro de 2011

REGENERAÇÃO POR DECISÃO E ACONSELHAMENTO


                
Por James E. Adams

Alguns podem ainda não ter entendido exatamente o que é aqui definido pelo termo "Regeneração por Decisão". Talvez alguns não estejam familiarizados com os cursos de aconselhamento que estão sendo ministrados por muitas organizações neste país e além de suas fronteiras, e com as numerosas "Conferências para Ganhar Almas" que estão acontecendo. Nesses encontros os conselheiros são instruídos que o aconselhamento bem-sucedido deve ser concluído, necessariamente, com a absoluta garantia de salvação ao indivíduo.

Conselheiros são as vezes instruídos a assegurar ao indivíduo que sua salvação é certa porque ele orou a oração que foi prescrita, e disse "sim" a todas as perguntas que foram feitas.

Temos uma ilustração da "Regeneração por Decisão" quando um pregador atual e popular ensinou um procedimento ao aconselhar. Ele orientou o "Sr. Ganha Almas" a perguntar ao "Sr. Vazio" uma série de questões.

Se o "Sr. Vazio" disser "sim" a todas as questões, ele é convidado a orar a oração prescrita e, então, é pronunciado como salvo.[1] Na maioria das vezes esse tipo de aconselhamento resulta em alguém estar sendo "regenerado" através de uma decisão. Esse é, essencialmente, o mesmo método de aconselhamento empregado nas maiores cruzadas evangelísticas ao redor do mundo. Essas campanhas são semelhantes à enormes fábricas despejando fora tanto quanto dez mil "decisões" em uma semana.

Iain Murray, em seu livro que veio em boa hora, "The Forgotten Spurgeon", indica que esse mesmo tipo de aconselhamento é usado no trabalho com os jovens: "Por exemplo, um livreto, que tem muita circulação no evangelismo estudantil nos dias de hoje, afirma: Há três passos, muito simples, para que alguém se torne um cristão: primeiro, reconhecimento pessoal de pecados; e segundo, fé pessoal na obra substitutiva de Cristo. Estes dois são prescritos como preliminares, mas o terceiro e último que faz de mim um cristão... eu devo vir a Cristo e tomar posse da minha parte pessoal naquilo que Ele fez por todos. Este terceiro e todo-decisivo passo está comigo; Cristo espera, pacientemente, até que eu abra a porta. Então, Ele entra... Uma vez que eu tenha feito isso, eu posso, imediatamente, considerar-me como um cristão. A recomendação logo segue: 'Conte a alguém o que você fez hoje'."[2]

Há muitas variações desse tipo de aconselhamento, todavia elas tem em comum um elemento mecânico, assim como a repetição de uma oração ou o preenchimento de um cartão, com o qual é assegurada a salvação ao indivíduo. A Regeneração é, desse modo, reduzida a um procedimento que o homem realiza. Que enorme contraste com a maneira pela qual Jesus tratava com os pecadores. Ele não tinha nenhum processo instantâneo de salvação. Ele não falava ao povo com uma apresentação estereotipada. Ele lidou com cada indivíduo numa base pessoal. Nunca encontramos no Novo Testamento Cristo tratando com duas pessoas da mesma maneira. É elucidativo comparar como Ele tratou diferentemente com Nicodemos em João 3, e então com a mulher Samaritana em João 4.O aconselhamento precisa ser pessoal.

Existe uma série de outros problemas com um aconselhamento mecânico. I. Murray advertiu para o fato de que na base desse aconselhamento "um homem pode fazer uma profissão (de fé - N. do T.) sem nunca ter tido quebrada sua confiança em suas próprias capacidades; ele pode nunca ter ouvido da absoluta necessidade de uma mudança de natureza, o que não pode acontecer por sua própria força, e conseqüentemente, se ele não experimenta uma mudança radical assim, ele não fica preocupado. Ele nunca ouviu que isso é essencial, por isso não vê razão para duvidar sobre sua condição de cristão. Pelo contrário, a doutrina a que ele se submeteu, consistentemente, milita contra essas mesmas dúvidas. É freqüente ouvir-se que um homem que fez uma decisão, mesmo com pequena evidência de mudança de vida, pode ser um crente 'carnal' que necessite instrução sobre santificação; ou, se o mesmo indivíduo vai gradativamente perdendo seus recém-achados interesses, a falha é freqüentemente atribuída a falta de 'assistência', ou oração, ou alguma outra deficiência da parte da Igreja. A possibilidade de que essas marcas de mundanismo e de afastamento sejam atribuídas à ausência de uma experiência de salvação real desde o princípio é raramente considerada. Se esse ponto for levado em conta, então todo o sistema de apelos, decisões e aconselhamento vai entrar em colapso, porque vai trazer à tona o fato de que a mudança de natureza não está no poder do homem, e que leva muito mais do que algumas poucas horas ou dias para se estabelecer se uma resposta professada ao Evangelho é genuína. Mas, ao invés, de fazer isso é dito veementemente que duvidar que um homem que 'aceitou a Cristo' é um cristão verdadeiro, é o mesmo que duvidar da Palavra de Deus, e que abandonar os 'apelos', e tudo o que vem com os mesmos, significa abandonar o evangelismo totalmente."[3]

O aconselhamento da "Regeneração por Decisão" produz estatísticas que impressionam qualquer cristão - até que esse procure os assim chamados convertidos. Numa experiência de quebrantar o coração quarenta desses "convertidos" foram contados, e somente uma pessoa, dentre os quarenta, foi encontrada aparentando ser um cristão. Uma mulher parece ter sido alcançada, no entanto, quais os efeitos do encontro nos outros trinta e nove? Alguns dentre esses podem crer que seus destinos eternos foram determinados por suas decisões, o que é uma confiança fatal, se não for efetuada nenhuma transformação nos seus corações e vidas. Outros podem ter concluído que experimentaram tudo o que o Cristianismo tem a oferecer. Falhando em sentir ou ver qualquer mudança neles mesmos, eles se convencem de que o Cristianismo é uma farsa e que aqueles que o sustentam são, ao mesmo tempo, fanáticos auto-iludidos ou miseravelmente hipócritas.

Robert Dabney, um dos grandes teólogos do século XIX, fez algumas observações muito pertinentes em relação à desilusão de pessoas que têm sido aconselhadas a tomar uma decisão. Alguns desses indivíduos, ele disse, "sentem que um truque cruel foi feito, com base na sua inexperiência, pelos ministros e amigos do Cristianismo, ao fazê-los confiar neles, na hora de sua confusão, levando-os a falsas posições, cujas exigências eles não podem cumprir e efetivamente não as mantêm, levando-os a sagradas profissões (de fé) as quais eles têm sido compelidos a repudiar vergonhosamente. Seu respeito próprio é, portanto, ferido ao extremo, e seu orgulho fica indignado ante sua exposição humilhante. Não é a toa que eles vêem a religião e seus sustentadores, desde então, com suspeitas e ódio. Muitas vezes seus sentimentos não param aí. Eles estão conscientes de que foram totalmente sinceros em suas ansiedades religiosas e no momento das suas resoluções, e que sentiram estranhas e profundas sensações. Mas sua amarga experiência lhes têm dito que seu novo nascimento e sua experiência religiosa foram no mínimo uma desilusão. Seria, pois, mais do que natural concluir que a experiência de todos os outros é desilusão também? Eles dizem: 'a única diferença entre eu mesmo e estes cristãos sinceros, é que eles ainda não detectaram a charada como eu já o fiz. Eles não estão agora nenhum pouco mais convencidos de sua sinceridade e da realidade de suas emoções do que eu mesmo estive uma vez. Ainda que eu soubesse que não havia ocorrido nenhuma transformação em minha alma; eu não creio que isso tenha ocorrido na deles.'

"Este é o processo de pensamento fatal pelo qual  milhares têm passado; até que a nação seja salpicada ao redor por infiéis, que assim são feitos por sua própria experiência de sentimentos religiosos. Eles talvez guardem para si mesmos a maior parte de suas hostilidades porque o Cristianismo atualmente 'está por cima'; mas eles não estão menos endurecidos contra a mensagem salvadora da verdade."[4]

Dabney registrou essas palavras há cem anos atrás,  muito antes dos dias do "evangelismo de massas" e campanhas super-organizadas. Se há cem anos atrás a nação estava "salpicada ao redor por infiéis, que assim são feitos por sua própria experiência de sentimentos religiosos espúrios", qual deve ser a situação hoje? Esta é uma séria questão para todo cristão. Conduzir homens, mesmo sinceramente, a uma falsa esperança será uma horrível condenação para um cristão quando ele estiver diante do Deus Todo-Poderoso.

Fonte: Regeneração por Decisão, James E. Adams –Editora Fiel





[1] Jack Hiles, How to Boost Your Church Attendance (Grand Rapids, 1958), págs. 32-35.
[2] Iain H. Murray, The Forgotten Spurgeon (Londres, 1966), pág. 110.
[3] Ibidem, pág. 111.
[4] Robert L. Dabney, Discussions: Evangelical and Theological (Londres, 1967), Vol. 2, pág. 13.

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