segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A PRÁTICA DE AJUDAR AS PESSOAS


Por Gary R. Collins

 

1. Ajudando as pessoas e a grande comissão


Pouco tempo antes de deixar esta terra e de voltar ao céu, Jesus deu Sua comissão famosa ao pequeno grupo de seguidores que se reuniram com Ele no monte na Galiléia: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações", disse Ele, "batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado..." Jesus deu aos discípulos a certeza do Seu poder e da Sua presença "até à consumação do século" (Mt 28:18-20), e depois partiu do meio deles.

Estes homens e mulheres aos quais Jesus falou já eram discípulos. Já tinham resolvido seguir a Jesus e dedicar as suas vidas totalmente a Ele. Devem ter entendido, pelo menos par­cialmente, que foi por causa do amor divino que Cristo viera ao mundo para morrer no lugar dos homens pecaminosos. Decerto, já haviam reconhecido e confessado o seu pecado e se submetido completamente ao Senhor ressurreto. Foi a este grupo que Jesus deu uma responsabilidade dupla. O discipular consistiria em testemunhar tendo como alvo a conquista das pessoas para Cristo, e em ensinar aos outros aquilo que Jesus mesmo ensinara durante Seu breve período na terra.

Jesus ensinara que todos os homens são pecadores e que necessitam um salvador. Já atacara a idéia de que uma pessoa é filha de Deus por causa da cidadania, das crenças dos pais ou das boas obras. Ao invés disto Jesus proclamava que, se alguém quisesse ter a vida eterna, seria necessário confessar seu pecado e entregar a totalidade da sua vida ao controle de Cristo. Mais importante: Jesus ensinava que a Sua morte haveria de pagar a penalidade dos pecados da raça humana e possibilitar, àqueles que assim quisessem, que se tornassem filhos de Deus. Aos discípulos foi ordenado que proclamassem esta mensagem, que instassem às pessoas que colocassem em Cristo a sua fé, que batizassem estes novos crentes, e que lhes ensinassem as Escrituras.

Alguém sugeriu que o Senhor começou o Seu ministério ao chamar Pedro, André, Tiago e João para se tornarem dis­cípulos, que terminou Seu ministério com Sua Grande Comis­são para fazer discípulos, e que, no ínterim, ensinava as pes­soas como serem discípulos. Neste processo, Jesus abordava as pessoas de várias maneiras. A tempos diferentes, instruía, es­cutava, pregava, argumentava, encorajava, condenava, e de­monstrava como ser um verdadeiro filho de Deus. É possível que nunca duas pessoas tenham sido abordadas exatamente da mesma maneira, visto que Jesus reconhecia as diferenças indi­viduais da personalidade, da necessidade e do nível de enten­dimento, e tratava as pessoas de acordo com isto.

 

O ESCOPO DA GRANDE COMISSÃO


Não parece que a Grande Comissão foi limitada a uma só área geográfica ou a um só período da história. Nem sequer há qualquer indício de que as instruções de Jesus se limitassem a umas poucas pessoas, tais como pastores ou líderes eclesiásti­cos. É claro que Jesus pretendia que todos os Seus seguidores, durante todas as gerações futuras, se dedicassem ao empreen­dimento de fazer discípulos — evangelizando e ensinando no­vos crentes. — Não será possível, portanto, que a Grande Comissão tenha relevância para a ajuda às pessoas hoje em dia? Visto que ser discípulo e fazer discípulos é uma exigência para todos os cristãos, decerto o discipular dos outros deve fazer parte do aconselhamento cristão talvez até mesmo seu alvo principal.

Antes de prosseguir nesta sugestão controvertível, é impor­tante para nós pensarmos acerca do significado do discipulado. No seu sentido mais largo, a palavra "discípulo" significa "estudante" ou "aprendiz". Conforme a palavra é usada nas Escrituras, no entanto, o termo tem uma conotação muito mais forte. Subentende a aceitação dos conceitos e ensinos de um líder a quem somos obedientes. As pessoas que se matriculam nas minhas aulas do seminário são meus alunos, mas não são meus discípulos. Aprendem de mim, mas não me seguem com obediência e dedicação. Jesus, por contraste, veio ao mundo não meramente para ensinar estudantes, mas, sim, fazer discí­pulos que O seguissem. Passou a Sua vida discipulando ho­mens e mulheres. Terminou Sua vida na terra dando manda­mento a cada um de nós no sentido de seguirmos o Seu exem­plo em fazer discípulos (e, por implicação, discipuladores).

 

AS CARACTERÍSTICAS DO DISCIPULADO


Segundo as Escrituras, um discípulo tem pelo menos três características, é chamado para pagar de livre e espontânea vontade três preços e recebe três responsabilidades. Conforme veremos, tudo isto é extremamente importante para aqueles que se chamam cristãos. É de relevância crucial para aqueles cristãos que querem ajudar as pessoas.

Obediência

Em primeiro lugar, examinemos as três características de um discípulo de Jesus Cristo. A primeira destas é a obediência. Um discípulo é uma pessoa que é dedicada e obediente à Pessoa e ensinos do Mestre. J. Dwight Pentecost fez um comentário conciso sobre esta obediência:

Cristo exigia a submissão absoluta à Sua autoridade, a completa devoção à Sua Pessoa, confiança na Sua Palavra, e fé na Sua providência, e os homens se desculpavam porque não queriam se dedicar, não podiam confiar, e não acreditavam... Os discípulos eram aqueles que, depois de terem convicção da veracidade da Palavra, dedicavam-se completamente à Pessoa que os ensinara.

Se alguém fica aquém desta dedicação total e completa à Pessoa de Jesus Cristo, não é um discípulo de Jesus Cristo. Pode ser contado entre os curiosos, ou pode ter progredido até ao ponto em que tem convicção da vera­cidade daquilo que Cristo dizia, ou daquilo que diz a Palavra de Deus, mas enquanto não se dedique totalmente à Pessoa em cuja Palavra veio a crer, não é um discípulo no pleno sentido da palavra conforme o Novo Testamen­to. .. A pessoa não fica sendo discípulo meramente pelo seu assentimento à veracidade daquilo que Cristo ensinou; fica sendo discípulo, isto sim, quando se submete à autori­dade da Palavra de Deus e deixa a Palavra de Deus con­trolar a sua vida.1

Conforme os ensinos do próprio Jesus, somos verdadeira­mente os Seus discípulos quando permanecemos na Sua Pala­vra (João 8:31). Este fato implicaria em deixar a Palavra de Deus exercer controle absoluto sobre as nossas vidas, e em procurar, com obediência, fazer com que cada aspecto da vida esteja em conformidade com os ensinamentos bíblicos.

Amor

A segunda característica do discípulo é o amor. "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vós ameis uns aos outros", declarou Jesus em João 13:34. "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros." Num certo opúsculo, Francis Schaeffer chamou o amor "a marca do cristão". É a característica mais óbvia e sem igual do discípulo de Jesus Cristo. E é a exigência mais fundamental para quem quiser ajudar as pessoas.

Quando o apóstolo João estava escrevendo a sua Primeira Epístola, reconheceu que alguns dos seus leitores estavam tendo dificuldades em saber quais as pessoas que realmente eram cristãs, e quais não eram. Para ajudar neste problema, João indicou que os cristãos eram as pessoas que se caracteri­zavam pelo amor. Se uma pessoa não tem amor, disse João, provavelmente não é um cristão. (1 Jo 4:7-11). Nem todos os cristãos se comprometem totalmente a serem discípulos de Jesus Cristo, mas todos os cristãos devem revelar pelos menos algumas características do amor. É uma contradição em termos pensar que alguém pode ser um verdadeiro seguidor de Cristo e não ser amoroso.

Frutificação

A terceira característica do discípulo é a frutificação. "Nis­to é glorificado meu Pai", disse Jesus, "em que deis muito fruto; e assim vos tomareis meus discípulos" (João 15:8).


Vivemos numa sociedade que se orienta em direção ao sucesso. Todos querem ser bem-sucedidos, e a maioria de nós trabalha com seus vários planos pessoais para atingir aquele alvo. Em João 15, porém, Jesus contou aos Seus seguidores que todos estes esforços seriam era vão a não ser que o discípulo fosse dedicado a Cristo, de modo consistente, permanecendo nEle, ao invés de forçar o caminho com seus próprios planos ou confiando nos seus próprios recursos. Jesus emprega a ilustração de videiras que não estavam produzindo uvas. A melhor coisa para tais sarmentos, segundo Ele disse, é serem cortados da videira e queimados no fogo.

Walter Henrichsen, dos Navegadores, conta como reagiu quando reconheceu, pela primeira vez, que Deus poderia che­gar certo dia e destruir toda a obra humana centralizada em si mesma (2 Pe 3:10). "Que choque... reconhecer que tudo quanto eu planejava edificar, Deus chegaria e destruiria! Quero que vocês saibam que aquilo me desanimou... Não valia a pena. Para que dedicar todo o meu tempo e os meus esforços a construir alguma coisa que Deus já disse que have­ria de queimar?"2 Destarte, o Sr. Henrichsen voltou-se para a sua Bíblia e ali descobriu que há, pelo menos duas coisas que Deus prometeu que nunca destruiria: a Sua Palavra (Is 40:8) e o Seu povo (João 5:28, 29). "Há outras coisas eternas — Deus, anjos, virtudes tais como o amor — mas eu queria alguma coisa eterna que pudesse agarrar com a minha mão e dar a minha vida em troca dela. Ao estabelecer os objetivos da minha vida podia me dedicar a pessoas e à Palavra de Deus, e saber que Deus não seguiria meus passos para destruí-las no fogo."8


OS CUSTOS DO DISCIPULADO


Há.porém certos custos para o discipulado. Bonhoeffer escreveu um livro inteiro acerca disto, e as Escrituras são muito claras em declarar que o discipulado não é barato. É por esta razão que ninguém é recrutado para ser um discípulo contra a sua vontade. Algumas pessoas não estão dispostas a pagar o preço. Ser um discípulo de Jesus Cristo significa que devemos estar dispostos a abrir mão dos nossos mais íntimos relacionamentos (Lc 14:25, 26), das nossas ambições pessoais (Lc 9:23), e das nossas posses (Lc 3 4:33).

Relacionamentos Pessoais

Consideremos em primeiro lugar os nossos relacionamen­tos pessoais. Jesus nunca desprezou a família. Pelo contrário, nos ensinou a respeitar nossos pais, amar os nossos cônjuges, e ensinar nossos filhos, mas o relacionamento que temos com Cristo deve tomar a precedência até mesmo sobre a família. Alguns maridos e pais têm interpretado este ensino no sentido de poderem deixar a família defender-se a si mesma enquanto tratam da "obra do Senhor". Este argumento não leva em conta que criar uma família e cumprir as nossas obrigações como membros de uma família é a obra do Senhor tanto quanto pastorear uma igreja, ensinar num seminário, ou servir como diácono. Deus certamente nos considerará responsáveis por aquilo que fizemos com as pessoas nas nossas famílias, mas em termos de prioridades devemos estar dispostos a colocar Cristo em primeiro lugar em nossas vidas, até mesmo antes das nossas famílias.

Ambições Pessoais

Talvez seja ainda mais difícil deixar de lado as nossas ambições pessoais. Em Lucas 9, as 5.000 pessoas tinham sido alimentadas e os discípulos decerto se sentiam parte dalguma coisa muito bem sucedida. Foi então que Jesus anunciou que o discipulado acarreta a negação de si mesmo (inclusive as pró­prias ambições pessoais), levando a cruz (o símbolo de situação humilde), e seguindo a Cristo. Às vezes, naturalmente, Deus permite que o discípulo atinja uma posição de destaque, e freqüentemente este chega aos seus alvos pessoais. O discípulo, porém, deve estar disposto a abrir mão das suas ambições pessoais, ou a ter suas ambições transformadas ao ponto de se conformarem com aquilo que Cristo quer para as nossas vidas.

Muitas vezes ouvimos cristãos falando acerca dalguma coisa que desejavam ardentemente, e, quando dedicaram a sua vida ao Senhor, receberam exatamente o que não queriam. "Queria ser um negociante na Califórnia", talvez digam, "eis-me aqui como missionário nas regiões remotas da África." A implicação é que a dedicação a Cristo leva a alguma coisa inferior ao melhor. Deus, porém, nunca dá menos do que o melhor para os Seus seguidores — embora talvez pensemos, de nossa perspectiva limitada, que recebemos coisa inferior. Deus sempre nos dá aquilo que é melhor para nós quando entrega­mos a Ele as nossas ambições pessoais.

Posses Pessoais

Em terceiro lugar, o discipulado talvez nos custe nossas posses. Riquezas, saúde, fama, bens materiais — nenhuma destas coisas está errada em si mesma, e freqüentemente Deus dá estas coisas em abundância, mas ficam sendo erradas quan­do são colocadas como finalidades principais da vida.

Recentemente, minha esposa e eu estávamos procurando uma casa nova para comprar. Era claro que tínhamos ficado grandes demais para o nosso lar antigo, e sentíamos a neces­sidade de mais espaço. Certa tarde fizemos uma lista de tudo quanto queríamos: uma lareira, uma lava-roupa, sala de jantar separada, garagem embutida, etc. Citando um amigo nosso, estávamos procurando "uma casa tipo champanha com um orçamento tipo cerveja!"

Dentro em breve, começamos a perguntar porque quería­mos uma casa melhor. Será que estávamos sendo forçados por uma cultura que mede o sucesso pelo tamanho da casa ou pela marca e modelo do carro? Será que estávamos sendo arrebata­dos por um modo de pensar que mede o valor da pessoa pela abundância das suas posses? Nossa procura por uma outra casa nos fez lembrar que, na eternidade, o valor da pessoa não será medido por aquilo que ela tinha possuído na terra. Todas as nossas posses, inclusive o nosso dinheiro, o nosso lar, nossos carros, nossos eletrodomésticos, vêm da mão de Deus. Todas pertencem a Deus, devem ser entregues a Deus, e devem ser usadas de maneiras que, em última análise, nos capacitem a sermos melhores discípulos de Jesus Cristo e melhores discipuladores doutras pessoas. Um grande esforço para obter pos­ses pessoais e a aderência a um estilo de vida secular pode impedir a nossa eficácia em obedecer à Grande Comissão de Cristo.

Relacionamentos Pessoais

Consideremos em primeiro lugar os nossos relacionamen­tos pessoais. Jesus nunca desprezou a família. Pelo contrário, nos ensinou a respeitar nossos pais, amar os nossos cônjuges, e ensinar nossos filhos, mas o relacionamento que temos com Cristo deve tomar a precedência até mesmo sobre a família. Alguns maridos e pais têm interpretado este ensino no sentido de poderem deixar a família defender-se a si mesma enquanto tratam da "obra do Senhor". Este argumento não leva em conta que criar uma família e cumprir as nossas obrigações como membros de uma família é a obra do Senhor tanto quanto pastorear uma igreja, ensinar num seminário, ou servir como diácono. Deus certamente nos considerará responsáveis por aquilo que fizemos com as pessoas nas nossas famílias, mas em termos de prioridades devemos estar dispostos a colocar Cristo em primeiro lugar em nossas vidas, até mesmo antes das nossas famílias.

Ambições Pessoais

Talvez seja ainda mais difícil deixar de lado as nossas ambições pessoais. Em Lucas 9, as 5.000 pessoas tinham sido alimentadas e os discípulos decerto se sentiam parte dalguma coisa muito bem sucedida. Foi então que Jesus anunciou que o discipulado acarreta a negação de si mesmo (inclusive as pró­prias ambições pessoais), levando a cruz (o símbolo de situação humilde), e seguindo a Cristo. Às vezes, naturalmente, Deus permite que o discípulo atinja uma posição de destaque, e freqüentemente este chega aos seus alvos pessoais. O discípulo, porém, deve estar disposto a abrir mão das suas ambições pessoais, ou a ter suas ambições transformadas ao ponto de se conformarem com aquilo que Cristo quer para as nossas vidas.

Muitas vezes ouvimos cristãos falando acerca dalguma coisa que desejavam ardentemente, e, quando dedicaram a sua vida ao Senhor, receberam exatamente o que não queriam. "Queria ser um negociante na Califórnia", talvez digam, "eis-me aqui como missionário nas regiões remotas da África." A implicação é que a dedicação a Cristo leva a alguma coisa inferior ao melhor. Deus, porém, nunca dá menos do que o melhor para os Seus seguidores — embora talvez pensemos, de nossa perspectiva limitada, que recebemos coisa inferior. Deus sempre nos dá aquilo que é melhor para nós quando entrega­mos a Ele as nossas ambições pessoais.

Posses Pessoais

Em terceiro lugar, o discipulado talvez nos custe nossas posses. Riquezas, saúde, fama, bens materiais — nenhuma destas coisas está errada em si mesma, e freqüentemente Deus dá estas coisas em abundância, mas ficam sendo erradas quan­do são colocadas como finalidades principais da vida.

Recentemente, minha esposa e eu estávamos procurando uma casa nova para comprar. Era claro que tínhamos ficado grandes demais para o nosso lar antigo, e sentíamos a neces­sidade de mais espaço. Certa tarde fizemos uma lista de tudo quanto queríamos: uma lareira, uma lava-roupa, sala de jantar separada, garagem embutida, etc. Citando um amigo nosso, estávamos procurando "uma casa tipo champanha com um orçamento tipo cerveja!"

Dentro em breve, começamos a perguntar porque quería­mos uma casa melhor. Será que estávamos sendo forçados por uma cultura que mede o sucesso pelo tamanho da casa ou pela marca e modelo do carro? Será que estávamos sendo arrebata­dos por um modo de pensar que mede o valor da pessoa pela abundância das suas posses? Nossa procura por uma outra casa nos fez lembrar que, na eternidade, o valor da pessoa não será medido por aquilo que ela tinha possuído na terra. Todas as nossas posses, inclusive o nosso dinheiro, o nosso lar, nossos carros, nossos eletrodomésticos, vêm da mão de Deus. Todas pertencem a Deus, devem ser entregues a Deus, e devem ser usadas de maneiras que, em última análise, nos capacitem a sermos melhores discípulos de Jesus Cristo e melhores discipuladores doutras pessoas. Um grande esforço para obter pos­ses pessoais e a aderência a um estilo de vida secular pode impedir a nossa eficácia em obedecer à Grande Comissão de Cristo.

 

AS RESPONSABILIDADES DO DISCIPULADO


Além destes custos, ser um discípulo acarreta três responsabilidades.

Testemunhando de Cristo

Em primeiro lugar, o discípulo é responsável por testemu­nhar de Cristo. Não se trata de afastar-nos de todos os descren­tes; significa que, seguindo o exemplo de Paulo, devemos procurar terreno em comum com os não-cristãos, com a espe­rança de finalmente levar alguns a Cristo (1 Co 9:19-20).

O ministério de um discípulo é o ministério de apresentar Jesus Cristo a homens que não O conhecem. O ministério de um discípulo é o ministério de transmitir aos outros a verdade acerca do Pai e do Filho que nos foi revelada pelo Espírito Santo. O ministério de um discípulo transforma a pessoa em canal através do qual o Espírito de Deus imprime a verdade divina sobre homens que são ignoran­tes de Deus por causa da sua cegueira natural.

Os homens não são discípulos por causa daquilo que dão ou daquilo que fazem.

São discípulos por causa daquilo que comunicam aos outros acerca de Jesus Cristo... Levamos a efeito o ministério de um discípulo de duas maneiras principais, pelas nossas vidas e pelos nossos lábios. Uma destas maneiras, sem a outra, é insuficiente e inadequada. A Palavra de Deus que vem dos lábios do discípulo deve ser confirmada pelas obras de Deus do discípulo.5

Levando Outros à Maturidade

Uma segunda responsabilidade do discípulo é levar outros à maturidade. Paulo escreveu acerca deste tema na sua Epístola aos Colossenses (1:28, 29). Paulo era o instrumento do Espírito Santo, e reconheceu que Deus providencia o poder necessário e depois opera através de seres humanos dedicados para levar outras pessoas a um estado de maturidade espiritual.

Alguém sugeriu que há cinco maneiras mediante as quais estimulamos a maturidade nos outros: ao servir como exemplo de como deve ser o cristianismo maduro (1 Ts 2:8), ao provi­denciar oportunidades para um discípulo ter experiências prá­ticas em testemunhar e servir (Mc 6:7), ao avaliar as ações do discípulo durante seu período de treinamento (Mc 6:30), ao ensinar e dar informações (2 Tm 3:15-17), e ao confrontar honestamente os outros com as dificuldades do discipulado (Lc 14:25-33)." Estes cinco princípios podem ser usados na medida em que discipulamos aos outros, e também podem ser usados pelas pessoas que nos discipulam. É possível que estas também sejam algumas das maneiras mediante as quais Deus nos transforma no tipo de indivíduo que Ele quer que sejamos.

Fazendo Discipuladores

Finalmente, o discípulo tem a responsabilidade de fazer discipuladores — treinando aqueles que podem sair para disci-pular aos outros. Paulo fez um esboço muito explícito ao escrever a Timóteo: "Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que da minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros" (2 Tm 2:1, 2). O discipulado é um processo de multiplicação no qual aqueles que são discípulos discipulam aos outros, os quais, por sua vez, se tornam discipuladores. Deus nunca pretendeu que os cris­tãos aceitassem o evangelho para então nada mais fazerem. Sua intenção foi que nos tornássemos Seus discípulos, com todas as características, custos e responsabilidades que o discipulado acarreta, para então sairmos a fim de fazermos mais discípulos para Cristo.

 

O DISCIPULADO E A AJUDA ÀS PESSOAS


A ênfase dada ao discipulado é tão essencial aos ensinos do Novo Testamento, e tão básica para o modo cristão de vida que seria impossível deixar de levá-la em consideração sempre quando o cristão entra num relacionamento de aconselhamen­to ou de outra forma de ajuda. O conselheiro está tratando de pessoas que padecem alguma necessidade, e o conselheiro que deixa desapercebida a mensagem bíblica ou a evita em tal situação, deliberadamente vira as costas aos ensinos de Jesus. O discipulado deve fazer parte da vida do conselheiro cristão, e deve ser uma das suas preocupações primárias quando entra num relacionamento de ajuda com outro ser humano.

O conselheiro que leva a sério a Grande Comissão será diferente do ajudador não-cristão, de várias maneiras. Em pri­meiro lugar, o crente reconhecerá que onde se deve começar a ajuda é dentro da própria vida do ajudador. Não somente o ajudador deve examinar seus próprios defeitos psicológicos e procurar mudar-se (talvez com a ajuda de outro conselheiro), mas também deve haver um auto-exame espiritual. "Estou realmente dedicado a Cristo?" o ajudador deve perguntar. "Es­tou sensível à orientação do Espírito, estou procurando expur­gar da minha vida o pecado; estou crescendo como discípulo de Jesus Cristo e estou sinceramente interessado no crescimento espiritual do meu próximo?" É possível responder "não" a cada uma destas perguntas, e ainda ajudar as pessoas; os terapeutas seculares bem-sucedidos demonstram-no todos os dias. O aconselhamento que omite a dimensão espiritual é fútil, em última análise. Pode amontoar tesouros na terra para o ajudador, mas nada faz para preparar os ajudados para a eternidade ou para ajudá-los a experimentar a vida abundante na terra — abundância esta que somente vem com a dedicação a Cristo (João 10:10).

O discípulo de Jesus Cristo espera que, afinal, seus aju­dados cresçam na sua dedicação a Jesus Cristo e no seu conhe­cimento dEle. Não se quer dizer com isto que a evangelização e a maturação espiritual sejam os únicos alvos do aconselhamen­to, mas não deixam de ser alvos crucialmente importantes que até mesmo os cristãos freqüentemente olvidam.

 

TRÊS ABORDAGENS AO ACONSELHAMENTO


Além disto, o ajudador cristão deve encarar a totalidade do processo de ajuda de maneira diferente. Consideremos, por exemplo, três abordagens gerais que freqüentemente se empre­gam hoje. Somente uma destas é verdadeiramente bíblica.7

A Abordagem Humanística-Secular

A abordagem humanística-secular ao aconselhamento não leva em conta lugar algum para Deus. Nesta abordagem, o aconselhamento avança em direção a alvos que melhoram o seu bem-estar pessoal, e o conselheiro intervém por algum tempo para ajudar na realização destes alvos.


A Abordagem "Deus como Ajudador"

Há, por contraste, algum aconselhamento que talvez possa ser rotulado de abordagem "Deus como ajudador". Aqui, o alvo continua sendo o mesmo, mas Deus é visto como ajuda­dor que, em resposta à oração, ajuda o conselheiro e o acon­selhando no seu trabalho.

A Abordagem Teocêntrica

A abordagem que pode ser chamada teocêntrica é bem diferente. Pressupõe a existência de um Deus eterno que tem para a humanidade propósitos finais. No aconselhamento, Deus entra num relacionamento e usa o conselheiro como Seu instrumento para levar a efeito mudanças na vida do acon­selhando. Espera-se que estas mudanças venham a restaurar a harmonia entre o aconselhando e seu Deus, melhorar seus relacionamentos com os outros, reduzir seus conflitos interio­res, e derramar aquela paz que ultrapassa todo o entendimento.

O discípulo que também é um ajudador esforça-se para praticar esta abordagem teocêntrica. Recebendo o poder do Espírito Santo, está disposto a desenvolver as características, pagar o preço, e arcar com as responsabilidades do discipulado. Por sua vez, fica sendo o instrumento de Deus para levar a efeito mudanças nas vidas das pessoas por ele aconselhadas.

 

A FLEXIBILIDADE DO ACONSELHAMENTO BÍBLICO


Não é uma atitude realista esperar que chegaremos um dia a uma só abordagem bíblica ao aconselhamento, assim como não descobrimos uma só abordagem bíblica às missões, à evan­gelização, ou à pregação. Em grande medida, as técnicas do aconselhamento dependem da personalidade do conselheiro e da natureza dos problemas do aconselhando, mas devemos procurar descobrir as várias técnicas e as diferentes abordagens ao aconselhamento que surgem dos ensinamentos da Escritura ou que são claramente consistentes com ela. Depois, devemos ensaiar estas técnicas e testar a sua eficácia, não empregando sentimentos subjetivos como prova de que "realmente estamos ajudando as pessoas", mas empregando técnicas cuidadosa­mente controladas de avaliação.

O lugar para começar a edificar uma abordagem cristã ao aconselhamento é a Bíblia, e não pode haver ponto de partida mais crucial do que a Grande Comissão dada pelo próprio Jesus. Esta é a planta para a edificação da igreja, e forma a base sobre a qual se edificam vidas e relacionamentos interpessoais, ao ajudar as pessoas mediante o aconselhamento.

Fonte: Ajudando uns aos outros pelo Aconselhamento, Gary R. Collins – Edições Vida Nova.


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